A abrir a sessão, ficou claro que o legado de Natália Correia perdura até aos dias de hoje: “a sociologia portuguesa é filha da Revolução do 25 de Abril de 1974, por isso iremos falar de uma mulher que foi uma figura controversa na sociedade portuguesa. Essa mulher foi Natália Correia”. As palavras são de Dina Peixoto, socióloga, que apresentou o seminário na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UBI. O evento contou, sobretudo, com a presença de alunos de Mestrado em Sociologia. A única exceção foi uma participante doutorada em Gestão.
Além de um resumo introdutório sobre a vida emblemática de Natália Correia, onde foi referido o lançamento do seu primeiro livro, “Aventuras de um pequeno herói”, destinado ao público infantojuvenil, recordaram-se, também, todas as proibições impostas ao povo pelo Regime da ditadura. Dina Peixoto destacou a proibição das mulheres usarem saias acima do joelho e da Coca-Cola que nem sequer chegava ao país.
Questionada sobre a escolha de Natália Correia para esta sessão, Dina Peixoto referiu que se deve ao facto da escrita ser uma “crítica da sociedade” e um nome de profunda análise sociológica.
A segunda parte da palestra ficou marcada, desde logo, pela conversa sobre o livro “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, que reunia diversos poemas dos grandes nomes da literatura portuguesa da atualidade, mas que também compilava uma vasta coleção de cantigas de escárnio e maldizer da história de Portugal. Sucedeu-se a audição por parte dos participantes, da música de Natália Correia “Queixa das almas jovens censuradas”, na voz de José Mário Branco, que se ouviu às 7 da manhã do 25 de abril de 1974.
A última parte ficou marcada pela projeção do poema “A defesa do poeta”, obra de Natália Correia, e pela partilha do documentário “A Senhora da Rosa”, produzido pela RTP Açores e disponível na RTP Arquivos, que retrata o legado desta mulher tão “poderosa”.
Sociologicamente, Natália Correia foi importante pela luta feminista e pela luta da liberdade, desafiou as normas sociais e culturais da sua época, criticando a opressão e a discriminação contra as mulheres. A obra da autora “Madona”, de 1968, destaca isso mesmo. Há também uma série de ficção científica – “As 3 Mulheres” – que a partir das biografias e da intervenção cultural e cívica da escritora, da sua editora, Snu Abecassis, e da jornalista Vera Lagoa, recorda os últimos anos do Estado Novo e do início da guerra colonial, nas longas vésperas da Revolução.