“Cidadãs de segunda”. Era assim que as mulheres eram chamadas pós 25 de abril de 1974. A exposição “Arquitectas da Liberdade”, destacou o papel destas mulheres na luta pelo direito à habitação em Portugal. A iniciativa, que esteve em exibição na Faculdade de Engenharias da UBI, entre 18 de setembro e 2 de outubro, abordou a carência habitacional após a Revolução dos Cravos e a condição feminina de cidadã de segunda.
O projeto, propõe uma articulação cronológica, temática e interdisciplinar entre história, fontes orais e visuais, centrada nas experiências de vida destas intervenientes antes e depois da Revolução. Financiado pelo programa Arte pela Democracia, a exposição itinerante incluiu conversas e visitas guiadas. O registo irá construir um arquivo de memórias que visa inspirar a reflexão sobre a transformação social, a igualdade e a democracia em Portugal.
Patrícia Pedrosa, professora auxiliar de arquitetura na UBI, cofundadora e atual vice-presidente da associação Mulheres na Arquitetura, é responsável pela curadoria e montagem da exposição. Realizar este projeto é “uma questão de justiça histórica e trazer para quem vê a exposição, principalmente para as estudantes de arquitetura, que possam reconhecer e identificar a herança da qual são devedoras historicamente”, explica Patrícia.
A professora, reflete ainda que “é tão importante a nossa voz enquanto equipa responsável pelos conteúdos como também trazer os rostos, trazer as vozes destas mulheres. Por isso também, em cada sítio foi realizado uma mesa-redonda, convidando moradoras e foi completamente arrepiante ouvi-las”.
Miguel Casalta, estudante de arquitetura, afirma que “infelizmente é um facto que a cidade é dos homens e não das mulheres, onde a maioria dos homens se sentem seguros, mas as mulheres não. A arquitetura tem muito que ver com isto. Em termos espaciais, iluminação e organização.” Expõe ainda, que é importante continuar a dar voz às mulheres, especialmente ouvir arquitetas que sabem na pele o que é ser uma mulher num ambiente projetado para homens.
“Arquitectas da Liberdade” é um dos 45 projetos apoiados pela 2.ª edição do programa Arte pela Democracia. Esta é uma iniciativa da Comissão Comemorativa 50 anos do 25 de Abril, em parceria com a Direção-Geral das Artes.