Tudo começou com pasta de modelar e miniaturas de casas de xisto. O ponto de viragem aconteceu quando Luís Carlos Santos criou um boneco caricaturado de um enfermeiro para uma troca de prendas no hospital, que fez um grande sucesso. A partir daí, não mais parou. Foi a caricatura de um colecionador de presépios que ditou a sua ligação à arte sacra, com encomendas de presépios pequenos e detalhados.
“Eu hoje entro numa igreja de uma maneira diferente, vou para ver pormenores, detalhes e ter novas ideias, e faço o mesmo nos museus”, diz o ceramista, enfermeiro no hospital de Vila Nova de Gaia, e que confessa ser refém da busca pela perfeição.
A fusão entre fé, arte e talento é a marca distintiva da exposição “Inspirações Modeladas”, que esteve patente no Museu de Arte Sacra da Covilhã.
O grande desafio da coleção foi proposto pela colecionadora Alice Gomes: aplicar o figurado cerâmico em objetos que não podiam ir ao forno com o barro, como ânforas, molduras, ovos “Fabergé” e relógios antigos. Uma vez que o barro encolhe durante a cozedura, a tarefa de colar as peças cerâmicas prontas nos objetos, sem perder os pormenores, exigiu, por parte do ceramista, grande precisão e o refazer várias vezes até à perfeição.
Um dos pontos de destaque da coleção foi a forma como o ceramista se inspirou na arte indo-portuguesa dos séculos XVII e XVIII, principalmente nas complexas e detalhadas representações do Menino Jesus Bom Pastor. Nestes séculos, essas representações eram esculpidas em marfim, um material duro que permite esculpir grandes pormenores. Luís Santos, utilizando o barro maleável, conseguiu replicar essa riqueza de detalhes, sendo bastante elogiado. Durante um mês, o público pôde apreciar a coleção do ceramista, que transformou um hobby em chamariz para colecionadores. A exposição esteve aberta ao público até ao passado dia 3 de outubro e, segundo Carlos Madaleno, coordenador do museu, foi “bastante visitada”.