Do Atlântico para o mundo digital — Uma juventude açoriana criativa

Em São Miguel, onde o verde se encontra com o azul do Atlântico, cresce uma geração que pensa de forma diferente. Os jovens veem a comunicação como uma forma de contar histórias sobre o lugar de onde vêm, construindo uma identidade açoriana renovada — mais digital, mais colaborativa e, acima de tudo, mais autêntica.

No coração desta onda criativa estão projetos que ligam o Arquipélago dos Açores ao mundo, sem perder a sua essência. Os Filhos do Atlântico e os Digital Natives são dois exemplos desta energia: equipas jovens, apaixonadas e determinadas a mostrar que, mesmo no meio do oceano, é possível criar um impacto na sociedade.

Filhos do Atlântico: criar, contar e viver São Miguel

Os Filhos do Atlântico são um grupo de jovens que utilizam as redes sociais, especialmente o Instagram e o Youtube, para produzirem não só conteúdo de entretenimento, mas também para contarem histórias do lugar de onde vêm. “Negócios da minha terra” e “Até onde a história alcança” são dois dos programas já publicados.

 

A criação de conteúdo e o entretenimento são importantes, mas o que mais importa para estes jovens não é só fazer algo de que gostam, mas também mostrar às pessoas o que há de bom nos Açores, mais concretamente na Ilha de São Miguel.

 

 

Onde a História encontra o presente

Pedro Arruda é um jovem de 21 anos da Ilha de São Miguel, nos Açores. Está, atualmente, a estudar no Mestrado em Turismo, no Algarve e é um dos integrantes do grupo e autor do programa “Até onde a história alcança”. É aqui que conta a história de muitos sítios já esquecidos na Ilha de São Miguel, como o Hotel Monte Palace, a Capela das Furnas, o Aeroporto de Santana, entre outros. Este trabalho é realizado não só através da pesquisa online e verificação de informações, mas também da leitura de livros, teses de mestrado e entrevistas a pessoas ligadas a cada sítio.

Em cada pedra, em cada monumento, em cada sítio, há uma história, há um pedaço da nossa história.”

Entre histórias não conhecidas e esquecidas, o jovem decidiu investigar e estudar mais sobre elas e, através de vídeos, contar as grandes curiosidades que São Miguel esconde. Pedro conta que fazer aquilo que faz não só inspira e educa, mas também preserva o património açoriano — ensina História de forma mais tranquila e divertida; inspira, pois sente que mostra aos seus visualizadores que “não é preciso ser um génio para fazer uma coisa destas”. Ele apenas teve o gosto e procurou saber mais; e  preservar, porque, embora as histórias já existam e sejam conhecidas pela maioria da população, muita gente não se lembra.

“Eu sinto que as pessoas, no geral, vão deixando, cada vez mais, de se aproximar da história, vão deixando de se apaixonar pela história da nossa ilha. Então, com este programa foi com esse intuito de reviver essa história.”

 

 

Com a constante evolução das tecnologias, torna-se difícil de manter a atenção das pessoas num vídeo de 30 segundos ou mais; é necessário cuidado, não só com o conteúdo, mas também com o vocabulário que é utilizado. O criador do programa “Até onde a história alcança” salienta que “as pessoas estão cada vez mais habituadas ao scroll e àquilo que é mais rápido e, muitas vezes, não estão atentas ao conteúdo do vídeo”.

 

 

No dia 25 de agosto do presente ano, Pedro Arruda deu uma entrevista à RTP Açores para falar sobre o seu projeto e diz que, até aos dias de hoje, sente algo inexplicável sobre esse dia. Diz que sente uma gratidão enorme ao estarem a ver aquilo que faz, ao estar a ser reconhecido por fazer aquilo de que gosta.

 

 

Pedro sente um orgulho enorme em fazer parte deste projeto, mas mais do que isso, sente um orgulho ainda maior por ser açoriano — diz que irá sempre se lembrar, acima de tudo, de onde veio: Ilha de São Miguel, Açores.

“(…) eu acho que qualquer pessoa que nasce numa ilha, principalmente eu que sinto isso, sentimos que crescemos num meio pequeno e, muitas das vezes, não temos tantas oportunidades como outras pessoas, que nascem em meios maiores (…).”

“(…) o orgulho de vir de um meio pequeno e estar agora aqui, no Algarve, a estudar, lembrar-me, acima de tudo, de onde eu vim. E, mais na vertente do canal (…) É que além do orgulho que eu já tenho em ser açoriano, ao vir de um meio pequeno, normalmente um sítio onde as pessoas não olham muito, dá o orgulho enorme saber que estamos a dar-nos a conhecer ao mundo e a mostrar uma parte daquilo que são os Açores.”

Em breve, os Filhos do Atlântico irão lançar um novo programa chamado “Eleva-te”, um documentário focado na saúde mental. O trailer já se encontra disponível no Youtube.

 

 

Comunicação, design e inovação

Vivemos numa era digital, por que não criar uma empresa atual, capaz de integrar não só as gerações antigas e atuais como também as futuras? Foi isto que Miguel Estorninho, Gil Faria e Miguel Monteiro concretizaram — a Digital Natives.

“(…) não existe nenhuma geração que a tecnologia não tenha tido um papel importante, a partir, se calhar, do tempo dos nossos avós.”

A Digital Natives é um grupo de jovens que comunicam, através do digital, a identidade açoriana. Apesar de serem uma empresa, principalmente de marketing digital, aceitam qualquer ideia “fora da caixa” — criam identidades visuais das marcas dos Açores, possuem um podcast, Nativos Podcast, e publicam artigos no seu website, a rúbrica Opinion Makers.

Miguel Estorninho, CEO da Digital Natives, conta que “sempre quis ser livre fisicamente”, pois a sua empresa não é como as outras — a equipa pode trabalhar a partir de qualquer sítio e a qualquer horário e o negócio continua a decorrer normalmente.

“(…) claro que o meu foco aqui é em São Miguel, mas sempre quis poder estar em Lisboa, no Porto, na Tailândia…e conseguir trabalhar ao mesmo tempo e o meu negócio a decorrer (…).”

Com uma equipa jovem e dinâmica, Miguel diz que a criatividade e a amizade acabam por se misturar, mas que o respeito está sempre presente. Acrescenta dizendo que, por ser uma equipa mais jovem, acabam por gostar de arriscar e estão prontos para lidar com qualquer situação.

 

 

Num meio tão pequeno como os Açores, especialmente na Ilha de São Miguel, a Digital Natives acaba por ser uma empresa muito importante para a região. De acordo com o CEO, a marca acaba por ter uma influência entre os jovens, porque assim conseguem ver que há espaço para fazer coisas diferentes e que o marketing, por exemplo, não é só aquele escritório “quase como uma oficina”, onde as pessoas só se sentam e fazem as suas tarefas, há também o espaço para empresas criativas, como é o caso da Digital Natives.

Uma ideia “fora da caixa”

Há pouco menos de um ano, a Digital Natives criou um novo projeto completamente diferente do que já existe, uma ideia diferente, criativa, divertida e que não está completamente ligada à marca — o Nativos Podcast.

O Nativos Podcast consiste num podcast em que há um apresentador e um convidado, como é habitual em todos os podcasts já existentes, mas este tem algo único. Ao longo dos episódios, Miguel Estorninho e a sua equipa levam dois sofás para espaços magníficos da ilha enquanto o apresentador — Miguel Estorninho — está à conversa.

A dinâmica deste projeto consiste em convidados que tendem a ser personalidades ou pessoas que tenham, de certa forma, alguma influência na ilha. Durante o programa são feitas perguntas sobre a vida ou carreira da pessoa e, de seguida, são feitos jogos — como, por exemplo, o “Fast Share”. Entre os convidados temos personalidades como o João Nuno Gonçalo, Balada Brassado, Solange Vieira, entre muitos outros.

 

“(…) nós beneficiamos de uma coisa que os outros locais não beneficiam que é — nós vivemos nos Açores, estamos em São Miguel, e é tudo bonito.”

No verão deste ano, a empresa esteve presente no festival MEO Monte Verde, pela primeira vez, com o objetivo de não só promover o evento, mas também dar o espaço para os artistas brilharem e fazer com que o público conheça um outro lado destas personalidades. Convidaram não só os artistas, mas também as pessoas que estavam a trabalhar no festival, como o antigo Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Alexandre Gaudêncio, a equipa do festival, comerciantes locais e as pessoas que são impactadas pelo MEO Monte Verde.

 

 

 

Embora os Açores, e neste caso a Ilha de São Miguel, sejam um meio pequeno que muitas pessoas não conhecem o seu potencial, existem muitos jovens a retratar o que é ser açoriano — são criativos, dinâmicos e têm “ideias fora da caixa”. Os Filhos do Atlântico e a Digital Natives são dois dos muitos projetos existentes na região, apesar de possuírem diferenças entre si, apresentam uma coisa em comum: o ser açoriano.

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