A origem da celebração remonta ao século VII quando o Papa Bonifácio IV dedicou o Panteão de Roma, único monumento romano intacto transformado em igreja, a todos os santos e a Nossa Senhora de Todos os Santos. Assim, o dia de Todos os Santos, celebrado a primeiro de novembro, continua a ser uma data de profundo significado para a Igreja Católica, considerado um “dia do céu”. Para o padre Vítor Espadilha este “é o dia em que a igreja celebra aqueles que foram salvos, dedicado a todos os santos, não só aqueles santos canonizados conhecidos e festejados, mas também aos milhares de santos anónimos, que praticaram e fizeram o bem e boas ações em vida”. Este dia celebra a “multidão incontável” de bem-aventurados, aos quais os fiéis pedem intercessão, lembrando a todos da importância da bondade como caminho para a salvação.
Por costume, a romaria aos cemitérios acontece no dia primeiro, mas o dia litúrgico correto para a oração pelos falecidos é 2 de novembro. “A igreja dedica todo o mês de novembro às almas do purgatório, ou seja, às almas que estão salvas, mas que precisam de uma purificação antes de entrarem no céu, é através da oração que essa purificação é feita”, esclarece o pároco.

Estes dias são, para a igreja católica, um poderoso lembrete da importância da bondade. “A morte não é o fim do caminho” e, por isso mesmo, deve ser considerado um dia de alegria, que reforça a fé de que “todos caminhamos para Deus e para o seu amor pleno”.
Para os fiéis, a visita aos cemitérios é um dia de saudade e esperança. A visita aos entes queridos que partiram é feita não com tristeza, mas para “relembrar as memórias mais felizes”, descreve Filipa Tomás, para quem estes são dias de muito trabalho com arranjos florais. A fé, sublinha Manuela Tomás, ajuda a “suavizar a dor da perda, porque nós acreditamos que há algo mais e que um dia estaremos todos juntos novamente”.
O afastamento dos mais jovens da Igreja é uma crescente preocupação. António Calado nota que os jovens “têm vindo a desvalorizar este dia” e que cada vez a idade média nas missas é mais alta. Para este agente de seguros os costumes estrangeiros como o Halloween têm vindo a substituir tradições como o “Pão por Deus” ou os “Santórios”.
O Padre Vítor Espadilha encara este abandono como “momentâneo”. Ele vê neste período um tempo que Deus concede para o autoconhecimento e “para percebermos a falta que ele (Deus) faz nas nossas vidas”, seguido por um despertar da fé mais tardio. Santo Agostinho é, para o padre, um exemplo deste fenómeno. Após uma juventude marcada por uma vida de prazeres e afastamento da fé, Agostinho só se converteu e foi batizado na idade adulta, simbolizando a jornada de muitos jovens que se afastam e regressam.
O Dia de Todos os Santos permanece, apesar do afastamento dos jovens, como um dia de profunda conexão espiritual, reunindo multidões para honrar a memória dos que partiram e para reafirmar a fé na promessa da vida eterna.








