Memento mori é o nome da peça que discute da morte voluntaria, que atualmente ainda é tabu. O tema foi trazido ao 27º ciclo de teatro universitário da beira interior pelos Alunos da escuela superior de arte dramático de extremadura, que atuaram na passada quarta-feira, 22 de março
A peça de teatro contemporâneo “memento mori” surgiu num tema de trabalho dos alunos do 4º ano da ESAD e fala sobre o suicídio através de cartas que os personagens escrevem, explicando a forma com se suicidariam. A peça transmite ao público que o silêncio não ajuda, a ideia seria falar sobre o tema, ainda considerado tabu, de forma a torná-lo socialmente aceitável, como disseram os atores.
Carlos Galán, ator, confidencia que as cartas apresentadas na obra foram escritas pelos atores e que a equipa trabalha com improvisações. O ator também conta que, quando começaram a montagem da peça, o professor levou vários textos, vídeos e documentários que falavam sobre a temática que o inspiraram para os seus movimentos de dança.
A obra recorre à comedia para alertar sobre o suicídio, sem banalizar. Uma peça animada onde é feita uma sátira de forma inteligente e criativa.
O espetáculo inicia com um cenário mórbido da floresta de Aokigahara, no japão, onde centenas de pessoas se suicidam todos os anos. Ao longo do espetáculo, os mestres de cerimónia, interpretados por André Nascimento e Touré Barrero, fornecem ao público dados acerca de suicídios em Portugal e Espanha e dão informações sobre artistas que também tiraram a própria vida.
Quando questionado acerca do final da peça onde todos os personagens tiram os seus casacos e colocam no chão do auditório, André Nascimento diz que que cada um pode ter uma interpretação pessoal: “o teatro contemporâneo permite isso, mas para mim é como deixarmos o assunto sobre a mesa para que a gente não esteja mais escondida. Me desnudei, tirei a minha roupa e coloco aqui. Todo mundo está vendo e pode conversar sobre isso. O silêncio não ajuda”, conclui André Nascimento.
A peça mistura português com algumas palavras em espanhol que não têm traduçao. Damaris Morgado expressa que falar em português naturalmente ou interpretativamente é complicado devido à concentração que tentam manter para conseguir pronunciar bem as palavras em português. Nascimento conta também que o primeiro ensaio em português foi muito diferente do espetáculo, era tudo muito mais lento e sem energia porque se concentravam no texto, mas ao longo do tempo isso mudou.
Entre as pessoas que encheram o auditório das sessões solenes Guilherme, aluno da universidade da beira interior, que disse ter amado a peça, não só pelo tema fúnebre, mas também pela possibilidade de não ter existido censura quanto ao tema.
Ana rogeiro, psicóloga, que por coincidência foi ver o teatro acerca de um tema da sua profissão gostou do trabalho apresentado. Reforça que os dados apresentados no teatro correspondem à realidade e que falar acerca do suicido ajuda na relativização do um tema pesado. “Por experiência clínica, eu sei que a maior parte das pessoas que pensa no tema acaba por ter medo de pensar nele, este tipo de comédia ajuda a pensar no tema. Todos nós, a certa altura, pensamos nisso. É inevitável! É a coisa mais normal de sempre. No entanto, a sociedade faz deste tema um tabu de tal maneira, que as pessoas acabam por culpabilizar-se, ficam assustadas só de pensar nisso, temos de relativizar, é uma realidade.”
Organizado pelo TeatrUbi e em colaboração com a ASTA, o festival de teatro tem decorrido no anfiteatro das sessões solenes na universidade da beira interior, com a apresentação de dez peças de origem portuguesa, espanhola e colombiana.