No terceiro dia da Semana Africana 2023, o diálogo sobre Design e Sustentabilidade esteve em destaque no Edifício Banco de Portugal.
A diretora criativa do evento, e antiga aluna de Design de Moda da UBI, Henriqueta Macuácua, salientou a importância de discutir o design em África. “Criámos a Semana Africana porque foi dentro da mesma que encontrámos espaços para discutir uma África que caminha para a sua autenticidade” afirma. Henriqueta disse ainda que se trata de um evento de intercâmbio internacional entre países da África e que o seu objetivo é valorizar o conhecimento da herança local, reinterpretando-a através do Design, da Moda, da Gastronomia, das Artes Plásticas e da Literatura.
No dia 25 de maio, dia de África, o Edifício Banco de Portugal da Covilhã foi preenchido por diálogos sobre Design e Sustentabilidade. Repleto de cor, o edifício tornou-se um espaço de Moçambique.
No primeiro piso estavam expostas algumas artes plásticas, artesanato e literatura moçambicana,
Já no segundo piso destinado apenas à gastronomia, instalou-se um restaurante onde as pessoas podiam saborear os pratos típicos do país. Soraia Masagibadru, cozinheira do evento, disse que a Semana Africana tem tido muito sucesso e que a sua comida recebeu muitos comentários positivos.
O diálogo moderado por Madalena Pereira, professora e investigadora na área de Design Moda Sustentável na UBI e membro do Conselho Estratégico Covilhã, Cidade Criativa do Design, contou com a presença de Henriqueta Macuácua e duas designers africanas, Miranda Come, designer da África do Sul proprietária da marca Miranda’s, e Candy Munguambe, designer moçambicana e modista futurista.
“É uma conversa aberta sobre a temática, não só daquilo que é a cultura africana, mas também o que é o Design de moda feito por designers africanos, neste caso moçambicanos e angolanos” afirma Madalena Pereira. O evento teve início às 18h30, meia hora mais tarde do que o previsto, e contou com a presença de cerca de vinte pessoas, entre as quais alguns estudantes e professores da UBI, que ao longo da conversa fizeram várias perguntas às designers.
Tendo em conta a débil situação económica que o continente africano apresenta, grande parte das perguntas que o público fez passavam pela identificação dos obstáculos que as designers têm para exercer a sua profissão nos países em questão.
“Quando o designer cria uma coleção, tem uma ideia de tecido, nós em Moçambique, infelizmente, não temos maneira de ir mandar fazer aquilo que é o nosso padrão de tecido, o que você criou e imaginou”, disse Candy Munguambe. Salientou ainda que se limitam muito porque usam aquilo que já existe, não têm como inovar e fazer coisas diferentes. No entanto, afirmou que atualmente algumas estilistas já conseguem ter acesso às indústrias que produzem os tecidos que querem, mas isso ainda não é acessível para todos.
Outro dos temas discutidos durante a conversa foi o modo de subsistência das designers, e ambas afirmaram trabalhar maioritariamente com encomendas. Miranda Come e Candy Munguambe salientaram um problema que sentem porque os clientes já têm uma ideia definida do que querem, não havendo espaço para a criatividade. “São poucas as pessoas que vêm e dizem cria algo para nós. Muitas das vezes as pessoas já vêm com algo imaginado” disse Candy, acrescentando ainda que em cada 30 peças vendidas, apenas cinco são criações suas, o que limita a sustentabilidade do negócio.
O evento terminou com uma intervenção de José Carlos Venâncio, professor aposentado de Sociologia, que se mostrou feliz com esta iniciativa. “Fico muito contente que eventos destes tenham lugar porque fui um dos que iniciou, na qualidade de pró-reitor, as relações com os países lusófonos”.
Oriana Martins, estudante de Design de Moda da UBI, achou a conversa bastante interessante porque ficou a saber que tipo de dificuldades as designers enfrentam e o tipo de peças que costumam fazer.
A realização da Semana Africana integrou o Plano de Ação da Covilhã como Cidade Criativa da UNESCO em design e foi uma organização conjunta do Município da Covilhã, do Instituto Nacional das Indústrias Culturais e Criativas (INIC) e das entidades moçambicanas QuaQua Design e AKINO. Tiveram como parceiros a Universidade da Beira Interior (UBI) e o seu Núcleo de Estudantes de Design de Moda (ModUBI).