“Vocês não têm que ir para uma caixa de continente” garante Patrícia Matos, numa frase que marcou alguns dos alunos de Ciências da Comunicação que assistiam a este primeiro dia das Jornadas da Comunicação. A sexta edição do projeto, que todos os anos traz profissionais das diferentes áreas da Comunicação à UBI, voltou ao auditório da Parada esta semana.
O projeto do UbiMedia, Núcleo de Estudantes de Ciências da Comunicação, começou esta segunda feira, dia 8, com um dia dedicado aos ramos de assessoria, relações públicas e publicidade. De manhã à tarde foram vários os nomes que passaram pelo púlpito do auditório. Cada orador, com o seu testemunho pessoal, aceitou o desafio de tentar desmistificar como é trabalhar na área.
O anfiteatro da Parada encheu-se de rostos jovens que se vão cruzando entre si nestes três anos de licenciatura e mestrado. Alguns ainda estão a “apalpar terreno” no que toca aos ramos de comunicação com que mais se identificam. Para André Pereira e Beatriz Minhós, alunos do segundo ano, o aspeto realista com que os oradores discursaram quanto à realidade do mundo do trabalho foi algo que os surpreendeu. A declaração de Patrícia Matos de que “vocês não têm que ir para uma caixa de continente porque não é assim que funciona, ao contrário do que vos dizem” animou e surpreendeu os estudantes. “E para quem está aqui e ouve isso muitas vezes… é assim um boost de motivação”.
Alguns estudantes vão preenchendo os lugares na Parada por curiosidade, como Joana Magalhães, que ainda se está “a concentrar nos anos que tem pela frente” pois “o que vier depois vem”.
Também a professora de retórica, Janilce Praseres, trouxe os seus alunos até à iniciativa porque acredita que há uma certa tendência de os alunos criticarem o curso por ser “demasiado teórico”. Acredita que é importante para quem se está a formar agora contactar com pessoas que já estão na área a trabalhar e trazem testemunhos daquilo que é o dia a dia na comunicação.
Para a professora Sónia de Sá as Jornadas são “muitíssimo relevantes porque são pensadas e organizadas por estudantes para estudantes”. Tornam-se num momento de aprendizagem e partilha entre público e oradores. Há espaço ainda para falar com alguns dos oradores sobre temas que ocupam a mente dos estudantes, como as possibilidades no interior, as hipóteses de empregabilidade e a introdução de novas tecnologias na área.
Para Daniela Agra, diretora da ATREVIA em Portugal, o uso de inteligência artificial já é uma realidade, mas não é uma substituição, é sim uma partilha que ajuda a realçar “o valor acrescentado de pensamento e inteligência” no trabalho dos profissionais. Também realça que não acredita que ainda exista uma primazia por parte do litoral nas oportunidades de emprego.
Para Carla Fantasia, Diretora do Departamento de Comunicação da Unidade Local de Saúde da Guarda, o mercado de trabalho no interior é pequeno para a quantidade de alunos, mas mesmo assim mantém o otimismo: “É assustador, mas é uma grande paixão e acho que vamos encontrar sempre um lugarzinho para ficar”.
O projeto “Jornadas da Comunicação” já vai na sua sexta edição, mas não está livre de algumas dificuldades. Como a presidente do UbiMedia, Maria Miguel Duarte explica, as dificuldades não passam despercebidas por ninguém e receber um “Sim” à proposta de vir à UBI, por vezes, é uma vitória. As deslocações ao interior afastam alguns potenciais profissionais de virem e os que não afasta o núcleo acarreta os custos, como os de deslocação e alimentação. Apesar das dificuldades, Maria promete uma semana proveitosa para os alunos com o leque de profissionais escolhidos pelo núcleo.
“Para o primeiro dia foi incrível”, é uma opinião que vai ecoando por todos os que estiveram presentes. Acreditam que melhorou bastante e que “trazer oradores desta dimensão à UBI é fantástico”.
Como é uma gestão de crise dentro de gabinetes de comunicação? Como é que podemos ser bons storytellers? Quais são as novidades com que nos vamos deparar no mundo profissional? Estas são algumas das perguntas a que se tentou responder neste primeiro dia, nunca descartando, como diz Daniela Agra, que “a comunicação é mais importante que nunca para os negócios nos dias que correm.”
Tertúlia “RP e Publicidade: da academia à profissão”
Com Sónia de Sá e Hugo Sampaio
No mundo universitário já não existe “a rede dos manuais oficiais” como em outras fases de ensino. Há que esclarecer conceitos, escolas e abordagens diferentes dentro das relações públicas. A professora Sónia de Sá acredita que há uma tríade a ter em conta nas relações públicas; criatividade, storytelling e sustentabilidade. Acrescenta que a criatividade começa em nós e vai atrás de novas perspetivas, “não vamos inventar a roda, mas vamos dar-lhe uma nova perspetiva”.
Hugo Sampaio recorda aos alunos o seu percurso profissional com situações que lhe passaram pelas mãos. Relembra os tempos em que esteve como assessor de imprensa da ministra da cultura e como a falta de controlo que o profissional tem durante este trabalho é algo com que os alunos se irão defrontar no futuro. Trabalhar “com pessoas de um mediatismo enorme não foi fácil”, mas vai relembrando os episódios com alívio de serem “crises” passadas. Fala ainda do novo logotipo do Governo e do impacto que esta “comunicação visual” tem gerado, afinal de contas esta é a primeira medida do Governo.
Carla Fantasia, Diretora do Departamento de Comunicação da ULS Guarda
No púlpito Carla Fantasia recria para o auditório como é a comunicação interna entre a Unidade Local de Saúde (ULS) e o ambiente no gabinete em que trabalha desde 2013. Diz ser importante esta colaboração em equipa, especialmente tendo em consideração a dimensão da instituição. Relembra momentos como o Covid na ULS e a necessidade desenhar sinalética específica para a altura. Esta era imprescindível numa altura em que placas de “Acesso Restrito” poderiam salvar vidas.
Daniela Agra, Diretora da ATREVIA em Portugal
Entre algumas das áreas com que a ATREVIA tem vindo a trabalhar, Daniela realça o marketing de influência e o uso de dados e insights que auxiliam as marcas a perceber como são percecionadas pelo público. Apresenta ainda projetos da ATREVIA que todos conhecem, como é o caso do projeto Pingo Doce Bairro Feliz, onde os mais de 3000 textos espalhados pelo país são da autoria da empresa.
David da Silva, Especialista e consultor em Comunicação e Assuntos Europeus
Na sua breve apresentação David Silva tenta trazer uma área da comunicação “nova” ao púlpito – Comunicação e Marketing Político. Entre os exemplos que apresenta estão os casos americano, com Trump, e português, com André Ventura. A televisão ainda é um canal tradicional que o político tenta “atacar”. Mesmo que a televisão se tente afastar das polémicas de alguns políticos essa possibilidade é muitas vezes impedida pelo tipo de polémica.
Patrícia Matos, Consultora de Comunicação Ex-jornalista e Pivot da TVI
O primeiro dia de jornadas é encerrado por Patrícia Matos, ex-pivot da TVI, que “acordou muitas pessoas” com o seu Bom-dia no Diário da Manhã. Entre “segredos do ofício” revela também o horário, de que o corpo se ressente: começar a trabalhar às 06h30 obriga a rotinas muito pouco comuns. As pessoas ainda não se esqueceram dela, passados estes anos, nem Patrícia da experiência. A vida levou-a Bruxelas, ao Parlamento Europeu, e ainda ao Governo português como adjunta da Ministra da Agricultora e da Alimentação. Não desistiu de ser jornalista e mostra-se como exemplo de que ser do interior e estudar no interior não descartam automaticamente um futuro profissional na televisão.