A geminação entre Rio Grande, cidade no interior do sul do Brasil, e Águeda, distrito de Aveiro, em Portugal, comemorou 31 anos no último dia 21 de setembro de 2024.
No entanto, o projeto criado por Adelino Soares, cônsul de Portugal em Rio Grande na altura, que visava um acordo de geminação, ou cooperação econômica e cultural entre as duas cidades, não tem prosperado como o esperado desde então.
A Lei Municipal 4810 no Brasil, em vigor desde 1993, tem o monumento de Recanto de Águeda, em Rio Grande, como uma das poucas referências de ligação entre as cidades.
O obra, inaugurada em 1999, foi um presente de cidade portuguesa para os irmãos brasileiros. Trazido de Portugal na altura da inauguração, o mural de azulejos mede cerca de 15m2 e retrata uma cena do Rio Agueda, em 1920.
Em troca, os portugueses batizaram uma das suas ruas como Rio Grande. Contudo, apesar das homenagens, a parceira entre as cidades tem sido esquecidas pelos governantes brasileiros.
Isso porque pouco foi visto, de facto, segundo o relato de Anna Lucia Dias Morrison, escritora e artista plástica. Anna é uma das principais pesquisadoras da cultura portuguesa da cidade brasileira e contou sobre a sua experiência com a geminação.
“Recordo-me do interesse dos representantes de Águeda no final dos anos 90. Os portugueses tinham interesse em trazer diversas indústrias, como de montagem de móveis, de fabricação de cerâmica e outras. Vários contatos econômicos foram formalizados”.
Anna Lucia, de 70 anos, viveu na altura do acordo de geminação entre Águeda e Rio Grande e relembra do acordo com grandes expectativas, que, entretanto, acabaram por não acontecer.
Anna ainda recorda também das visitas de Juarez Molinari, vereador brasileiro, á cidades como Águeda, Lisboa e Porto, para tentar criar laços comerciais, que não acabaram acontecendo como se expectava.
Desde então, a pesquisadora conta que incentivou a geminação com os políticos brasileiros da cidade, mas afirmou que pode observar poucas ações entre as “cidades irmãs” de Brasil e Portugal.
“Alguns dos principais líderes da época acabaram por falecer. Enquanto estava em Rio Grande, tentei reforçar os contatos. Lembrava o prefeito das datas comemorativas, organizava atividades para receber os portugueses e dava apoio através do Centro Português da cidade”, declarou.
Inclusive, Anna relembrou o aniversário de 30 anos da geminação, em 2023, onde a própria pesquisadora esteve na Prefeitura de Rio Grande. A luso-brasileira ressaltou a conversa com o atual prefeito da cidade, que afirmou que seriam realizadas comemorações, que nunca aconteceram.
Ligada à cultura portuguesa desde a infância, Anna Lucia também relatou a experiência frustrada como pesquisadora. A artista lamentou a falta de incentivo, seja das políticas públicas, como também da indústria provada.
“Continuei minhas pesquisas e estudos sobre a cultura portuguesa e atuando como diretora cultural do Centro Português. Escrevi mais dois livros sobre o assunto, mas que não foram editados por falta de patrocínio.”, disse.
Por fim, a pesquisadora realizou um apelo aos governantes das duas cidades irmãs — sobretudo, a brasileira — para a geminação ser colocada em prática atualmente.
“Somos portugueses, com certeza, mesmo sem ter lá nascido. (…) Isto é possível no desenvolvimento da cidade. Espero que novas atitudes possam ser tomadas para retornar as relações com os aguedenses”, finalizou.