Porque é que voltou atrás na decisão de se demitir da Presidência do Sporting da Covilhã?
Voltei, porque no associativismo nós podemos sempre voltar com a palavra atrás se formos motivados para isso. E eu vi aqui uma grande onda de solidariedade comigo para que voltasse atrás e era o melhor para o clube, da parte da direção, da parte da Assembleia Geral, de parte de pessoas da Covilhã, que me ligaram, que me mandaram mensagens, para não me demitir e tentar demover-me. Por esse motivo, achei que devia ficar na mesma e não deitar esta direção abaixo porque, se eu saísse, ia sair muita gente que estava comigo, e se calhar a direção não tinha condições para ficar e tínhamos que ir para eleições antecipadas e o Presidente da Assembleia Geral não queria isso. E foi um reforço muito grande da parte dele, chegamos a um acordo e eu assumi que não deveria ter feito isso [demissão] porque nós estamos cá para assumir, somos homenzinhos, eu assumi que não devia ter feito isto e voltei com a palavra atrás.
A sua decisão era motivada principalmente pelo castigo imposto ao clube ou pelas críticas dos sócios e de outras pessoas da cidade ?
As duas coisas e mais também a minha vida profissional, que é desgastante mas consigo conciliar isto com a ajuda das pessoas que estão no clube. Acho que conseguimos arranjar aqui um núcleo muito bom e quando eu não estou há sempre gente. Mas o que mais me afeta são as críticas das pessoas que não são sócias do Covilhã e que estão sempre a criticar, porque as pessoas sabem criticar mas não sabem valorizar aquilo que a gente já fez. Somos uma direção que está cá há seis meses e conseguimos aumentar 350 sócios, conseguimos dinamizar a sede social, onde vai abrir um restaurante, e temos feito coisas boas. A equipa de futebol profissional, se estivermos a perder, somos maus, se estivermos a ganhar, ninguém fala de nós e enquanto for assim é muito complicado. Nós ganhamos o jogo frente ao Caldas e não foi por causa disso que eu me demiti, não foi por causa disso que eu apresentei a demissão. Se tivéssemos perdido eu faria exatamente a mesma coisa.
As críticas dos sócios e das outras pessoas afetaram-no ou não? E de que forma afetam o nome do clube?
Para o nome do clube e para esta direção, porque eu quando digo que sou enxovalhado todos os dias, não sou eu, é a direção do Sporting Clube da Covilhã. Não é a figura em si do presidente, estamos a falar na direção toda, porque por vezes sou eu enxovalhado, outras vezes é um diretor, é um vice – presidente, toda a gente ouve chamadas quando as coisas correm mal, mas quando as coisas correm bem ninguém liga e ninguem diz nada. Nós queremos que as pessoas sejam corretas e coerentes naquilo que fazem e que dizem, e depois ouvir pessoas a fazer pouco do nosso trabalho, que possivelmente alguns nem sócios são, nunca fizeram nada pelo clube, não é fácil. Andamos nós aqui a batalhar para conseguir patrocínios, para conseguirmos ter uma equipa de futebol sénior e por vezes sentimo-nos fracos.
Tem alguma mensagem para deixar a essas pessoas que o tem vindo a criticar ?
Para essas pessoas, tenho uma mensagem que é a seguinte: acreditem no trabalho que a gente está a fazer e eu acho que ainda vamos ser muito felizes e acho que ainda vamos sorrir até ao final da época.
A utilização do jogador Lucas Duarte para a Taça de Portugal passou despercebida durante o jogo. Quando é que o clube percebeu que o jogador não podia jogar?
Passou despercebida, o jogador não podia jogar e jogou, tivemos conhecimento a seguir ao jogo, recebemos um email a dizer que ele não podia ter jogado, estava castigado porque levantou a camisola.
Qual o balanço que faz do seu trabalho no clube?
É um trabalho muito difícil porque em termos financeiro é um clube que está a passar dificuldades. Todos os clubes que estão na 3ªLiga, nos campeonatos não profissionais, não tem receitas de televisão, não tem receitas de nada. Temos que procurar receitas, isto ainda não é uma SAD, é uma sociedade desportiva unida só por quotas, em que o clube é o detentor 100% do futebol profissional, e é o clube que tem que investir no futebol profissional. O balanço é positivo, mas com muitas dificuldades.
Quando assumiu a presidência do Sporting da Covilhã, o clube já estava na Liga 3. A sua presidência está a falhar esse objetivo do clube subir para a 2ªLiga, sendo que a classificação não está muito favorável ?
Não, não está neste momento, nós neste momento temos matematicamente todas as possibilidades de ir à fase de subida. Temos uma equipa jovem, mas temos uma equipa que tem muito, muito querer e muito coração e acho que tem muita garra e acho que vai conseguir fazer coisas bonitas, estão a trabalhar bem. Eu acredito no “mister” Chaló porque se não acreditasse nele e se ele não acreditasse em mim, se calhar já não estava cá. Mas acredito no trabalho dele e de toda a equipa técnica agora, neste momento, acho que tamos que lutar para ir à fase de subida. Se formos à fase de subida, uma coisa que nós já temos certo é que já não descemos. Já estamos na liga 3. No próximo ano, acho que é tentar arranjar uma maneira, um parceiro para gente conseguir atacar a subida à Segunda Liga, aos campeonatos profissionais porque se não for dessa maneira, este clube não é sustentável e acredito que seja no próximo ano que vamos subir de divisão.
Caso isso se concretize, vão mudar muito o plantel atual ou vão continuar a apostar em jogadores da formação?
Os jogadores da formação são sempre importantes, nem que sejam 2, nem que sejam 3, nem que seja um, alguém do ADN da Covilhã e que fez a formação no Sporting da Covilhã. É importante estar na equipa principal e isso é um dos objetivos que nós temos e é manter 3, 4, 2, 5 jogadores na equipa principal. Este ano, formados localmente, temos 7 e se calhar até são demais mas, é o objetivo que nós tivemos devido à parte financeira. Tendo 7 jogadores daqui, conseguimos poupar na alimentação e na estadia. E acho que também têm qualidade, porque se não tivessem qualidade, não estavam na equipa sénior.
As escolhas dos jogadores do plantel Sénior foram as mais acertadas ?
Todas as transferências foram analisadas por mim mas foi em termos monetários. Em termos técnicos foram avaliadas pelo Vitor Cunha, pelo Chaló. Eu sei ver o futebol, mas foi o “mister” que os escolheu e se eles quiseram vir para cá, foram os melhores e foram os possíveis dentro do orçamento que a gente tinha.
Durante a sua gestão, houve alguma iniciativa ou projeto que considera ter marcado uma viragem importante no clube?
Não, acho que estamos a fazer as coisas para termos um projeto e fazermos uma academia. Mas o projeto do restaurante na sede, acho que se calhar nestes seis meses de mandato, para o clube, acho que poderá ter sido aquilo em que nós investimos mais, porque esteve fechado oito anos, e nós em seis meses conseguimos abrir e por lá um restaurante para 100 pessoas. É bom, acho eu.
Quando fala no projeto da Academia, estão a trabalhar para que possivelmente o Sporting da Covilhã venha a ter uma equipa B?
Nós só não temos uma equipa B porque não temos condições para treinar e para jogar. Se tivermos academia, vamos tentar ter uma equipa B, ou uma equipa de Sub 23, uma equipa com jovens para nós conseguirmos também que os nossos juniores, quando acabarem, não irem embora. Se tivéssemos uma equipa B, a gente conseguia fazer isso uma mistura dos melhores e outros menos bons, acho que conseguiamos fazer uma equipa para lutar pelo distrital de Castelo Branco.
Pode prometer uma Academia para o Sporting Clube da Covilhã?
Prometer não posso, o que eu posso prometer é que a gente vai trabalhar arduamente para o fazer, mas isso é dinheiro, e o problema, principalmente, é o dinheiro.
A localização do clube no interior implica o financiamento?
Sim, dificulta trazer jogadores, dificulta trazer patrocinadores, gente para investir, porque isto é muito longe dos grandes centros, é muito longe dos aeroportos, e por vezes,os investidores são estrangeiros e é muito difícil.
Considerando as limitações financeiras e desportivas da Liga 3, como é gerir o clube para manter a competitividade e ambição?
É fazer o trabalho que fizemos este ano, arranjar jogadores que querem mostrar e que querem demonstrar a qualidade independentemente da liga em que estejam, e que queiram vir para o Sporting da Covilhã, e consigam demonstrar aqui que, estando em ligas inferiores, tinham qualidade para estarem ligas superiores. E é isso em que nós estamos a trabalhar, e estamos a trabalhar nisso porque também o orçamento que nós temos não nos dá asas para ir buscar jogadores com nome, não estou a dizer com qualidade, estou a dizer com nome.
Mas, prefere ter jogadores com nome ou com qualidade no plantel sénior no Sporting da Covilhã?
Eu neste momento gosto do plantel que tenho.
O treinador Francisco Chaló também partilha da mesma opinião?
Se não pensasse da mesma maneira, não tinha cá os miúdos este ano. Garanto-lhe mesmo que foi esses que ele escolheu. Aqui ninguém escolheu os jogadores, foi ele que escolheu. Vai ver jogos, faz o trabalho como treinador, é importante ir ver jogos, seguir o jogador, ir ver um jogo dele ou deles antes de contratar os jogadores. Foi o que aconteceu com o Nico. Ele foi ver três jogos do Nico antes de falar com ele.
Como gere as contratações do Sporting Clube da Covilhã?
Um jogador quando vem para o Sporting da Covilhã, tem a alimentação e estadia assumida pelo clube. O jogador não paga nada, nem o jantar nem o almoço, como a dormida, não paga nada. Nós alugamos uma casa a dois ou três jogadores, depende da tipologia da casa e eles ficam lá. Mas as casas são alugadas por nós, quem paga é o Sporting Clube da Covilhã.
A claque da Alma Serrana sempre apoiou o Clube em todos os momentos?
Acho que sim. A única coisa que tenho a dizer da claque é que eles apoiam o clube, gostam do clube, e estão cá porque gostam do clube. Acho que é um grupo de adeptos que se juntou e que trabalham bem o clube.
E o seu futuro no clube? Como vai ser?
Não sei. Vai ser apresentado no dia 18 um plano estratégico para o clube e esperamos bem que os sócios decidam em consciência o que querem para clube. Vai tudo depender dessa Assembleia Geral e de outra possivel Assembleia Geral que existir em janeiro. Mas é o que eu costumo dizer: o clube é dos sócios, os sócios é que decidem, eu aqui sou só Presidente e tento gerir isto da melhor maneira. A Assembleia tem o poder de aceitar ou não um pedido de demissão e entendeu que estava comigo. Agora estou mais forte já.