Há quem o conheça por RAMS, nome artístico que adotou como seu, inspirado no faraó egípcio Ramsés, mas é num ditado português, tipicamente usado pelos mais velhos que se enquadra a história de Miguel Pelembe Silva: “é de pequenino que se torce o pepino”.

O desenho dá-lhe vida. Hoje, é um sustento. Miguel é quase licenciado em Design e Multimédia na Universidade da Beira Interior. O dom do desenho corre nas veias, da maioria, dos alunos da licenciatura, mas RAMS deu “asas à imaginação”.
É português de gema. Mas nasceu nas terras frias do Reino Unido, no bairro londrino de Chelsea, ao sul de Inglaterra, que foi o seu lar nos primeiros dois anos de vida. Terra de “artistas, pintores e poetas”, será que a veia artística daí vem? Miguel não sabe ao certo quando começou a abraçar a arte, mas lembra-se que é desde pequenino que anda por essas bandas.
“Já utilizava o desenho para escapar um bocadinho da realidade”
O pseudónimo RAMS, inicialmente surgiu como tag, o graffiti despertou-lhe curiosidade. Foi pelas mãos do padrinho da universidade que conheceu esta cultura. Mas “só fiquei pelos cadernos, nunca passei para a parede”, aponta Miguel. Admite, no entanto, que alguns dos seus desenhos estão pintados em algumas paredes, mas não por ele.
Há quem diga que o estilo de arte do jovem viseense, estudante de Design e Multimédia é “fora do normal”, ou até mesmo dark, mas para Miguel não é assim. O próprio tem dificuldade em explicar a sua arte, é normal nos artistas dizem eles. Miguel só se deixa levar, sem pensar muito, mas desistir de alguma obra está fora de questão. No entanto “é saudável deixar de lado alguns desenhos”.
Se é complicado explicar a sua arte, não o é dizer o que a mesma representa para si. Em poucas palavras diz que “é um estado de espírito”, mas se o levarmos a aprofundar o tema explica que “é uma forma de conseguirmos perceber-nos a nós mesmos, é algo necessário para percebermos um bocadinho de nós mesmos com o intuito de conseguirmos fazer certo tipo de coisas”. Diz não ter inspirações ou ídolos, a sua inspiração é ele próprio e os seus pensamentos.
No secundário estudou artes, ponderou desistir, porém no 11ºano uma mensagem fê-lo mudar de ideias e é a razão por ainda desenhar. “Recebi a mensagem de uma rapariga que dizia que gostava do que eu produzia, fazia e daquilo que eu andava a fazer na altura. E não sei como simplesmente esqueci-me dessa coisa que eu tinha metido na cabeça que ia desistir” diz Miguel, entre sorrisos.
“A arte devia ser ensinada de forma diferente, deixar de fazer dela um bicho de sete cabeças”
Atualmente é ao tatuar que exprime, na maioria das vezes, a sua vertente artística, foi quase num piscar de olhos que ficou “apaixonado” e “obcecado” por tatuar. Não lhe tinha passado pela cabeça ter a responsabilidade de pintar na pele das pessoas, no entanto o apoio e o empurrão da família levaram-no àquilo que é agora o seu trabalho. Juntando o útil ao agradável.
A cada desenho, obra ou tatuagem é um novo desafio que Miguel propõe para com ele mesmo. O último, em especial, coloca-lhe um sorriso de orelha a orelha, é sinal de orgulho para consigo mesmo. Foi uma tatuagem que demorou, ao longo das sessões, 12 horas aproximadamente. Foi um desafio que lhe provocou ansiedade, e levava-o a repetir para consigo mesmo: “não vou conseguir acabar isto”. No fim ficou tal e qual como tinha imaginado.