Na sala dos Ateliês Têxteis, os 15 participantes são sentados numa longa mesa onde estão colocados alguns teares e outros equipamentos de tecelagem. No centro do estúdio, Andreia Félix, Técnica Têxtil e Coordenadora das Atividades do Serviço Educativo do Museu, começa uma pequena lição sobre tecelagem: existem três estruturas a explorar nesta sessão, o tafetá, o mais básico, caracterizado pelo entrelaçamento alternado, dos fios da trama (os que passam na horizontal) e da teia (os fios esticados nos teares na vertical); a sarja, onde a trama passa sob dois fios sequenciais da teia e sobre os dois seguintes, criando um padrão de linhas diagonais paralelas que lhe é característico; e o cetim, que se distingue pela passagem do fio da trama sob um fio da teia e sobre os quatro fios seguintes, o que dá origem a tecidos mais fluídos onde de um lado são visíveis os fios da teia e do outro os da trama, devido à descontinuidade e ao número reduzido de ligamentos.
Aos participantes, são distribuídas três folhas. Duas resumem o que foi dito, de modo a os ajudar na atividade, e uma é uma ficha de trabalho onde podem registar o seu progresso. Apesar do intuito ser tecer uma carteira (algo que nenhum dos elementos conseguiu completar), a criatividade é sempre bem-vinda e os participantes são livres de experimentar qualquer combinação de cores.
A ideia também era promover a economia circular, transformando os recursos locais já usados em novos produtos. As oficinas já se iniciaram há alguns meses. Começaram pelo tricô e pelo crochê e, chegou a altura de alargar as técnicas à tecelagem. “Como formadoras, monitorizamos e ensinamos as noções básicas da tecelagem”, diz Andreia Félix.
Para além disso, um dos propósitos desta sessão, foi o convívio e a criação de laços entre os participantes. Amélia Gomes, funcionária do Centro de Documentação do Museu de Lanifícios da UBI, que também foi formadora nesta oficina, aprofunda esta faceta e diz-nos que o intuito foi, inclusive, “juntar as pessoas, que estão cada vez mais isoladas, de forma a promover um convívio, onde, ao mesmo tempo, se aprendesse e se conseguisse adquirir outros saberes”. Acrescenta que “estes workshops são orientados para todos os que queiram partilhar os seus conhecimentos e adquirir novos”.
Uma das participantes foi Mafalda Barata. Trabalha na Câmara Municipal da Covilhã e no projeto educativo “EU SOU +” onde se levam atividades ligadas às artes e design a estabelecimentos de ensino pré-escolares e de primeiro ciclo. Decidiu participar sem reservas: “tenho interesse nesta área e porque vamos desenvolver um projeto com as crianças que tem por base a construção dos teares manuais e a aplicação destas técnicas”. Opina que “a liberdade de termos um pouco de criatividade é o mais interessante”.
Já a aluna da licenciatura em Design de Moda da UBI, Catarina Santos, escolheu comparecer na oficina de forma a “expandir o conhecimento ligado moda”, de maneira a, no futuro, “ter um trabalho único ligado à área”. Tomou conhecimento da sessão através do Instagram, e considera que foi “uma experiência nova e divertida”, onde “deu para descobrir um pouco da familiaridade que existe neste grupo, algo que é um bocado difícil de encontrar hoje em dia”.
Em relação a um balanço final, Andreia Félix diz que “[a oficina] ultrapassou todas as expectativas; claro que já conhecíamos alguns dos participantes de oficinas anteriores, mas foi de facto muito bem conseguida”, no entanto “há sempre espaço para melhorias e vamos trabalhar para alcançar mais de modo a conseguir ter mais rapidez na conceção das peças”.
Os materiais utilizados durante este workshop foram disponibilizados pela empresa covilhanense J Gomes, uma instituição dedicada à reciclagem de resíduos têxteis. Amélia Gomes acrescenta que “tem sido a entidade que nos tem ajudado com a doação de materiais para podermos desenvolver estas atividades”.
Estas oficinas funcionam à base de um regime de inscrições, sendo que a próxima sessão com este grupo está prevista para o dia 26 de Outubro, entre as 10h e as 18h, com uma intermissão para almoçar às 13h:30m.
O Museu de Lanifícios da UBI foi criado com a finalidade de salvaguardar a área das tintureiras da Real Fábrica de Panos. É um museu de ciência e tecnologia, e tem por missão a salvaguarda e a conservação ativa do património industrial têxtil, assim como a investigação e divulgação das tecnologias associadas ao processo de industrialização dos lanifícios.