A vida de Camões foi, no mínimo, atribulada. Da aventura à tragédia, do romance à melancolia, Luís Vaz de Camões viveu e escreveu sobre tudo isso. Para assinalar os 500 anos do nascimento do poeta, a Biblioteca Central da UBI está a organizar uma série de eventos e iniciativas a fim de relembrar o seu legado.
As comemorações, que duram por mais de um ano, tiveram início no mês de março deste ano, terminando em junho de 2025. A exposição “Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente: a vida de Camões contada pelo próprio” marcou o início destas celebrações, e foi organizada pelo Professor Henrique Manso, da Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior, em colaboração com a biblioteca.
“O título praticamente explica tudo” – afirma o Professor. A primeira parte do título, “Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente” é o primeiro verso de um soneto de Camões, soneto esse que se encontrava em destaque relativamente aos outros. A exposição, composta por iconografia de Camões e poemas, encontra-se dividida em três partes, que correspondem, respetivamente, aos “erros”, à “fortuna” e ao “amor”. Na opinião de Henrique Manso, é possível “ler uma boa parte da poesia, particularmente da poesia lírica de Camões, sob esta tríplice perspetiva”.
Quanto à segunda parte do título, “a vida de Camões contada pelo próprio”, esta é representada por vinte sonetos que foram selecionados e divididos por essas três partes. Para a primeira, “Erros Meus”, Manso selecionou seis poemas onde Luís Vaz de Camões reflete sobre aquilo que é da sua própria responsabilidade, os seus erros. “A sua vida foi muito marcada pelos erros que cometeu” – afirma. A acompanhar esta secção estava uma imagem do quadro “Homem velho com a cabeça nas mãos” de Vincent Van Gogh.
Para a segunda parte, “Má Fortuna”, foram selecionados de novo seis sonetos. Desta vez, a imagem que os acompanhava era um quadro de Francesco Salviati, intitulado “As Três Parcas”. Henrique Manso explica que, na mitologia grega, as Parcas eram três mulheres que teciam o destino dos homens. Este aspeto da predestinação, do fado, é muito marcante na poesia de Camões. A fortuna é aquilo que nos reservaram os deuses, o destino que nos está preparado. Aquilo que depende de mim são os erros, que são meus. Aquilo que depende dos deuses é a fortuna, que é má.
O amor tem um caráter multifacetado em Camões. Acima de tudo, para o poeta “Amor é fogo que arde sem se ver”. Não é um amor tranquilo, mas sim um amor de uma paixão semelhante a uma chama. Henrique Manso explica que “esta parte do amor, como é evidente, era suficiente para uma exposição, e uma exposição muito maior do que esta”. A secção “Amor Ardente” tem mais dois sonetos que as anteriores. Alguns dos sonetos selecionados para esta parte são muito conhecidos, como o célebre “Amor é fogo que arde sem se ver / é ferida que dói, e não se sente / é um contentamento descontente / é dor que desatina sem doer (…)” ou “Tanto de meu estado me acho incerto / que em vivo ardor tremendo estou de frio / sem causa, juntamente choro e rio / o mundo todo abarco e nada aperto (…)”.
A acompanhar esta secção estava uma imagem de um quadro de George de la Tour, chamado “Madalena penitente” que ilustra um dos sonetos escolhidos, “O fogo que na branda cera ardia / vendo o rosto gentil que eu n’alma vejo / se acendeu de outro fogo do desejo / por alcançar a luz que vence o dia (…)” em que Camões no fim revela que sente inveja desse fogo e dessa luz, que vê e que beija a sua amada, ao contrário dele.
Esta exposição está a ser precedida por conferências mensais, denominadas Releituras de Camões, que decorrerão até junho do próximo ano. Estes eventos não apenas celebram os 500 anos do nascimento do poeta mas são uma oportunidade para as pessoas ficarem a conhecer um pouco melhor a vida e obra do mesmo.