Um longe que se torna perto

“Era longe, mas afinal não era assim tanto” é a mensagem que Sónia de Sá, presidente do Conselho Pedagógico, passa aos novos estudantes da Faculdade de Artes e Letras (FAL) enquanto ex-aluna. Entre os novos rostos da Parada há quem enfrente desafios acrescidos a esta nova fase, como o de pela primeira vez viver sozinho.

No passado dia 18, com um auditório da Parada cheio, a FAL deu as boas-vindas aos alunos que começam agora o seu caminho no ensino superior. Numa manhã de nostalgia são vários os nomes da casa que trazem aos estudantes a sua experiência pessoal enquanto ex-alunos, outrora na mesma situação, reconhecendo nos caloiros receios que também eles tiveram.

Há um “caráter heróico”, segundo o professor José António Domingues, na escolha destes alunos pela área das Humanidades opinião que a presidente do Departamento de Letras, Rita Carrilho, também partilha. Uma mensagem comum nesta sessão de abertura foi o apelo a que os alunos “participem, tenham curiosidade e sejam proativos ao longo deste caminho”.

Além das boas-vindas, esta sessão serve também para atribuir “nomes” às caras com as quais os alunos se vão cruzar várias vezes nestes três anos e pede-se que não hesitem em pedir ajuda a qualquer uma delas nas mais variadas instâncias.

O conselho final de boas-vindas do presidente da FAL, André Barata, é que “se divirtam e gozem e aproveitem para estarem inteiros em todas as novas experiências. Isso faz parte da vida e é importante que assim seja para não se arrependerem de nada”. A manhã é passada entre trocas de sorrisos com novos amigos e ouvidos atentos de quem antecipa uma nova aventura.

A FAL enquanto faculdade jovem

Em conversa com André Barata, o presidente da faculdade admite que a subida no número de vagas não é significativa, mas têm sido sempre preenchidas. “Este ano sobraram apenas duas vagas para a segunda fase, mas as médias aumentaram”, explicou.

O número de vagas na FAL encontra-se estabilizado. “Nós neste momento não podemos pensar em expandir muito mais os cursos sem ter mais condições em termos de instalações”, explicou o presidente. Estas dificuldades manifestam-se também em campos, como “a falta de equipamentos”,  que são derivadas  “de um subfinanciamento do ensino superior geral em Portugal” e que “afeta, em particular,  a UBI por ser uma universidade ainda jovem”.

Agora tem se tentado recuperar dessa falta, embora devagar e reconhecendo “um grande lastro de atrasos em termos de financiamento”, admitindo que a FAL tem sofrido muito com estes atrasos “porque dentro da universidade somos a faculdade mais jovem” com “necessidades muito especificas que estão a ser extremamente difíceis de superar”.

O apoio social continua a ser procurado por muitos dos estudantes e para o presidente da faculdade não é admissível que um estudante numa universidade pública deixe de o ser por razões financeiras. Alude, no entanto, a uma das vantagens de estudar na Covilhã como sendo o custo de vida “incomparavelmente” menor ao de grandes cidades. Acredita que esta relação entre custo de vida e universidade é um “sinal, claro, de inclusão”.

Além disso, uma formação no interior, para o presidente, é mais completa pela imersão do estudante numa experiência de vida que é diferente tanto por esta universidade que se estende pela cidade adentro como para uma cidade em que a maioria dos estudantes não são de cá.

Um longe que se torna casa

Ir estudar para fora implica muitas vezes deixar os pais e aventurar-se noutra zona do país. É aí que o longe se vai tornando perto, como explica a professora Sónia de Sá. No entanto, com o custo de vida a subir em muitas das cidades universitárias do país, são vários os estudantes que se juntam a outros membros da família ou que ficam mais perto de casa.

Depois da sessão de boas-vindas os caloiros vão-se integrando e conhecendo Parada fora. Por baixo das grandes tílias que servem de sombra, neste tempo, está um grupo de novos alunos de Ciências da Cultura.

Entre estes quatro estudantes, Matilde Trindade e Ana Marques já conhecem bem a Covilhã, apostando ficar em casa. “Tendo uma opção e uma boa opção, que é a UBI” Ana explica que pensou logo em vir para a UBI não só pela proximidade, mas por admitir que estudar fora de momento “está muito complicado”. Para Matilde a familiaridade com saber os cantos à casa é ainda maior. A irmã acabou agora o mestrado em Estudos Portugueses e Espanhóis, “ou seja, já sabia, mais ou menos, como é que funcionava tudo”.

Já Diogo e Inês Pires vêm de fora e apesar do apelido igual não são família. Mesmo assim, esse foi um dos aspetos que pesou na escolha deles. Diogo é de Viana, mas tem por cá família. “Vim para o pé dela” diz Inês que é da zona do Algarve, e que se juntou à irmã que também aqui estuda. Para Diogo ter cá família ajudou-o na escolha e não ter que pagar o encargo extra de arranjar alojamento também.

A caminho da praxe estão duas alunas que ingressam agora no primeiro ano do curso de Ciências da Comunicação. Matilde Ribeiro vem de Mafra e Nicole Santos é brasileira, mas já vive na Covilhã há uns anos.

Esta foi a sua primeira opção, apesar de ter pensado sair da Covilhã. O entrave volta a estar no preço de estudar fora. “Eu achei muito mais prático estar aqui, por mais que eu esteja a morar sozinha, não estou com os meus pais, nem nada disso”. Mesmo antes de começar o ensino superior, Nicole, já vivia sozinha e sendo já uma estudante deslocada reconhece que o custo de vida na Covilhã é muito mais barato.

“Ficaria em casa, era mais fácil” admite Matilde que concorreu para Lisboa, perto de casa, mas acabou por não entrar. Reconhece que entre a Covilhã e Lisboa há muitas diferenças inclusivamente no custo de vida, embora ficasse em casa sabe bem que quem não é de Lisboa é confrontado com um custo de vida muito mais elevado que o da Covilhã.

Outra das diferenças entre cidades, para Matilde, são as pessoas. “Senti-me muito melhor acolhida aqui do que em Lisboa.” Integrada e a adorar a nova experiência, sente-se já em casa.

Entre os estudantes mais velhos, onde a temática das saídas profissionais do ensino superior e medo do mercado de trabalho são assuntos cada vez mais debatidos, os caloiros trazem consigo receios de quem vive a universidade pela primeira vez.

“Chumbar a alguma cadeira assusta-me” e “não passar à primeira frequência” ou “não me integrar com as pessoas” são alguns dos medos que passam pela cabeça destes estudantes que vão na segunda semana de aulas. Como diz Matilde Trindade “é o não saber para o que vou diretamente” que ainda os preocupa, mas mesmo assim acreditam que o primeiro passo é fazer o curso, e depois “temos tempo para pensar” como explica a Matilde Ribeiro.

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