Existem dias na universidade que se gravam na memória coletiva. O Dia de São Martinho, celebrado a 11 de novembro, foi um deles. Quando desceram ao bar da Biblioteca Central, muitos estudantes acreditavam estar a cumprir apenas com um rito académico comum e habitual, mas o que encontraram foi algo bem mais revitalizante: um magusto pensado especialmente para eles, combinando a tradição portuguesa com a vitalidade e criatividade estudantil. Era a primeira edição desta celebração nos espaços da biblioteca e a adesão foi notória. Estandartes exibiam a imagem do DJ Tozo com a promessa inscrita: “Vem ao Magusto porque o descanso também é justo.” Parecia um convite irrecusável.
A iniciativa nasceu de uma parceria entre dois mundos que se tocam nos corredores da UBI: a biblioteca e o seu bar interno. Sandra, representante da biblioteca, explicava a lógica da celebração: “O bar é um sítio emblemático da biblioteca, onde muitos alunos gostam de
estar. A biblioteca é dos espaços onde os estudantes mais se concentram. E penso que isto é mesmo aquilo em que a universidade deve acreditar — a união, o estar bem, o darmos ao próximo, o espírito de comunidade.” Não eram apenas castanhas e jeropiga que estavam em jogo. Era o reconhecimento de que a pausa, o convívio, o riso sem culpa, fazem parte essencial da vida universitária.
Do lado da organização, Fátima, que trabalha na cantina da Biblioteca Central, conta como tudo se desenhou: “O bar, em parceria com a Biblioteca Central, decidiu fazer algo diferente. É a primeira vez, a primeira edição mesmo. A ideia veio de trazer a onda dos jovens, uma coisa diferente. E tem tido muita adesão. A esplanada está bem
composta, lá dentro também.”
A jeropiga e as castanhas foram oferta. A música também. O objetivo era claro: remover as barreiras monetárias que poderiam afastar alguém de estar ali. Mas o magusto não foi apenas um evento. Foi um desafio carregado de criatividade. Para receber as tão apetecidas castanhas, havia uma condição: tinha de se dançar. Não era um requisito gravoso, era um

convite para deixar o corpo falar, para quebrarem a formalidade académica que pesa nos ombros. O DJ Tozo compreendeu bem o papel que lhe tocava: “A comunidade de estudantes não é só estudar. Precisa de lazer, de diversão. Fazer uma pausa nos ritmos dos estudos para se divertir é fundamental. Acho que as pessoas gostam destas iniciativas.”
Entre o cheiro das castanhas assadas e a música que ecoava pelos espaços, havia rostos de alunos que ali desembarcavam quase por acaso. Guilherme Camacho, por exemplo, aluno do curso de Ciências da Comunicação, estava no piso de cima com o grupo de trabalho quando recebeu o aviso. “Ouvi no Instagram da biblioteca que havia um evento aqui em baixo. Descemos e cá estamos. Foi uma pausa no estudo”. Para ele, castanhas eram a deixa. Para a Ana Veiga, estudante de Biotecnologia, era mais: “Vi o anúncio há algum tempo. Gosto muito de castanhas, mas também acho que eventos destes são importantes porque há pessoas que não fazem
quase nunca pausas nos estudos. Quando veem muita gente aqui em baixo, vêm curiosas e aproveitam. Comem umas castanhas, conversam, interagem com outros.”
Havia, porém, um momento ainda mais carregado de significado naquela tarde. Estudantes de Medicina estavam ali para celebrar o fim de uma era. “Neste momento estamos a estudar para a prova nacional de acesso. Têm sido dias incansáveis, das 9:00 às 20:00, sempre aqui na biblioteca. E agora está a saber bem um magusto,” contavam Catarina
Silva, Helena Noronha e Marta Moreira. Quando o bar lhes ofereceu duas garrafas de espumante — “porque era a despedida dos médicos” — a tarde ganhou outro peso. “Este champanhe simboliza o fim de uma era, uma era de estudo interminável e horas muito bem passadas nesta biblioteca.” Mas para lá do brinde, havia uma gratidão mais profunda:
Eram os cafés, as conversas, a relação humana que se havia tecido ao longo dos anos. O bar não era apenas um espaço, era parte da sua história.
Quando o cartaz prometia “o descanso também é justo”, talvez não estivesse apenas a falar de uma pausa. Estava a falar de um direito frequentemente esquecido: o de ser completo, o de celebrar, o de pertencer a algo que vai além do individual. Naquela tarde, no bar da biblioteca, entre castanhas, jeropiga, música e corpos em movimento, muitos alunos compreenderam que a universidade pode oferecer precisamente isto — a oportunidade de estudar, sim, mas também de estar bem, de estar juntos, do espírito de comunidade que Sandra havia mencionado com tanta clareza.
Para Catarina, Helena e Marta, foi também a oportunidade de dizer adeus com elegância, rodeadas pelas pessoas que as tinham
acompanhado. Porque afinal, a vida universitária não é apenas aulas e exames. É feita destas pausas, destas celebrações, destas amizades que permanecem mesmo quando se deixam os corredores para trás.
































