Reitora sublinha uma UBI “inquieta” no dia da homenagem a Sérgio Godinho

Ana Paula Duarte garante que a Universidade “não se vai acomodar” nem será “mera executora de políticas determinadas ou impostas pela tutela”

A Universidade da Beira Interior (UBI) atribuiu o título de Doutor Honoris Causa a Sérgio Godinho, numa cerimónia integrada na Abertura Solene do Ano Académico, que decorreu esta quarta-feira, 8 de outubro, no grande auditório da Faculdade de Ciências da Saúde.

Na sessão, a Reitora, Ana Paula Duarte, destacou o momento como uma “celebração da academia e da cultura”, sublinhando o simbolismo da homenagem ao músico, compositor e escritor. “É motivo de felicidade a UBI associar-se a este reconhecimento. Músico, compositor, poeta, escritor, voz ativa na defesa de um Portugal mais justo, mais inclusivo, mais livre, num momento em que pairam algumas nuvens sobre as conquistas civis, políticas e sociais alcançadas nas últimas décadas. Sérgio Godinho é um exemplo do engenho e da arte, da capacidade de criar, de inovar, de pensar, de ousar, de agir. Ou seja, um exemplo do que procuramos diariamente transmitir aos nossos estudantes”, afirmou.

Ana Paula Duarte deu ainda as boas-vindas aos novos estudantes e à comunidade internacional, que “transformam a vida da UBI e da cidade numa mescla cultural, étnica e linguística ímpar”. Sublinhou também que “a solidez do projeto da UBI é uma mais-valia inquestionável para toda a região, transformando a Beira Interior num polo de conhecimento, inovação e atração para cidadãos e empresas”.

Com 1.250 novos estudantes neste ano letivo, a Reitora realçou que a instituição “é atrativa, viva e com uma oferta académica diferenciada e de excelência”, ajustada às “exigências da sociedade e aos avanços tecnológicos”.

Na sua intervenção, defendeu uma universidade dinâmica e com autonomia: “A universidade não se pode acomodar, é uma instituição, pela sua natureza, inquieta e em constante transformação”. Garantiu ainda que o crescimento da instituição não se fará “numa lógica mercantilista, mas num quadro que concilie, de forma harmoniosa, a história e a identidade da UBI e os desafios que se colocam ao ensino superior”.

Ana Paula Duarte frisou que “a Universidade não se pode transformar em mero executor de políticas determinadas ou impostas pela tutela”, acrescentando que o ensino superior “precisa de estabilidade, de planeamento, mas, acima de tudo, de ser integrado nos processos de decisão”.

Entre os desafios que exigem diálogo com o Governo, apontou “a necessidade de obter da tutela compromissos claros e definidos no tempo sobre o financiamento do ensino superior, as regras de funcionamento e da articulação entre o ensino e a ciência, as condições de promoção para fixar e atrair talento científico para regiões, como a nossa, de menor densidade populacional”.

Referiu também “as regras que pautam o funcionamento e a avaliação da nossa investigação. E, num contexto mais imediato, as regras de acesso ao ensino superior”, avisando que “não se advoga uma via de facilitação” e que “não cederemos em caminhos que possam significar o estrangulamento e a inviabilidade de instituições localizadas longe dos grandes centros urbanos”.

                                               Reitora da UBI, Ana Paula Duarte

“Não deixaremos de ser uma voz ativa, por vezes incómoda, na defesa dos interesses da UBI”, reforçou a Reitora, defendendo que as estratégias governativas para o ensino superior devem ser definidas ouvindo as próprias instituições.

O homenageado, Sérgio Godinho, manifestou o seu orgulho em receber o título de Doutor Honoris Causa pela UBI, numa cidade “próxima, por razões afetivas e familiares”. No seu discurso, destacou o valor da palavra e da música, e deixou uma mensagem de reconhecimento aos que o acompanharam ao longo do percurso. “Mas quem diz que a música portuguesa não é pujante, não sabe do que está a falar. Não vim até aqui sozinho”, afirmou.

Com humor, lembrou o marco recente da sua vida: “Fiz, no final de agosto, 80 anos e, enfim, dois doutoramentos”. Acrescentou ainda que se mantém ativo: “Por um lado, editei no ano passado o meu terceiro romance e, nesta primavera, um novo livro de contos, «como se não houvesse amanhã». Estou já envolvido numa nova aventura literária. Por outro lado, continuo com prazer a pisar os palcos, a usar a voz e o corpo nas canções, a renovar o repertório, e a sentir aquele momento em que a corrente passou e a vida da canção nunca mais será a mesma. Continua assim esta vida de artista, sem saber como parar, mas esperando saber quando parar. Está tudo em aberto”.

Na cerimónia intervieram ainda João Nunes, presidente da Associação Académica, que deu as boas-vindas aos novos estudantes, recordando as palavras de Sérgio Godinho — “hoje é o primeiro dia do resto da tua vida” —, e João Casteleiro Alves, presidente do Conselho Geral da UBI, que saudou o novo doutor honoris causa como “mais um ubiano distinto”, acolhendo-o “com um brilhozinho nos olhos”.

João Casteleiro Alves lembrou ainda que o sucesso da universidade “está indissociavelmente ligado ao contexto que a acolhe”, sublinhando que “é preciso que os órgãos de governo local e nacional preparem a cidade para superar as adversidades atuais”. Comparou a relação entre a instituição e o território à natureza: “Tal como as árvores precisam de solo fértil para prosperar, a UBI precisa da região que a acolhe para se afirmar e prosperar”.

João Casteleiro Alves, presidente do Conselho Geral da UBI
João Nunes, presidente da AAUBI

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