No século XXI, o progresso tecnológico tem desencadeado transformações significativas em todas as esferas da sociedade, e a educação não é exceção. Em Portugal, o setor tem passado por uma verdadeira revolução à medida que novas tecnologias são implementadas nas salas de aula, alterando por completo a forma como os alunos aprendem e os professores ensinam.
O uso da tecnologia na educação proporciona uma oportunidade única para expandir os horizontes do conhecimento, superar barreiras geográficas e promover a participação ativa dos estudantes no processo de aprendizagem. Desde a chegada dos computadores até ao aumento da quantidade dos dispositivos móveis e da Internet, o panorama educativo tem sido impulsionado por uma série de inovações que facilitam o acesso à informação e estimulam a colaboração entre alunos e professores.
Uma das mudanças mais notáveis na evolução da educação é a transição do modelo de ensino tradicional, baseado em aulas expositivas, materiais impressos, o uso do papel e da caneta para um ambiente digital e interativo. As escolas estão a adotar cada vez mais recursos digitais, como aplicativos educacionais, plataformas de ensino online e recursos de realidade aumentada, que possibilitam uma aprendizagem mais personalizada e envolvente como é o caso da Escola básica de Freixo em Ponte de Lima.
Além disso, as novas tecnologias têm promovido a democratização do acesso à educação em Portugal. Através do ensino a distância e dos cursos online, estudantes de todas as regiões do país podem ter acesso a conteúdos educacionais de qualidade, eliminando as limitações geográficas e oferecendo oportunidades de aprendizagem a um número cada vez maior de pessoas.
No entanto, apesar dos avanços significativos, a implementação efetiva das novas tecnologias na educação também apresenta desafios. A capacitação dos professores para utilizar as ferramentas digitais de forma pedagogicamente eficaz, a garantia da segurança online dos alunos e a equidade no acesso às tecnologias são questões que requerem atenção e investimento contínuos.
Nesta reportagem, vamos perceber a importância da tecnologia na educação dos mais jovens, usando como exemplo uma escola inovadora como a Escola básica de Freixo em Ponte de lima no alto Minho.
Escola do futuro
Inserida numa área rural do alto Minho, a Escola básica de freixo, é uma escola pública que serve crianças e alunos desde o pré-escolar até ao 9ºAno. Até aqui, tudo parece normal contudo, aquilo que destaca esta escola é o constante uso e desenvolvimento das tecnologias em contexto educativo.
A escola de Freixo garantiu uma parceria com empresa Microsoft no ano de 2012/2013 através de um curso de líderes inovadores direcionado a diretores de escolas, sendo que o diretor da escola naquela altura era Luís Henrique. Depois desse primeiro contacto com a empresa, “nós provemos todos os anos a candidatura de professores como professores inovadores […] que com as suas práticas inovadoras dentro da sala de aula podem ser reconhecidos com o “título” Microsoft expert educator, que lhes dá acesso a uma área/curso que a Microsoft promove” afirmou o atual diretor, Jorge Dias.
Foi então em 2013 que esta parceria se consolidou, quando a escola foi reconhecida como escola Showcase”, devido à implementação das tecnologias no método e processo de ensino. Destaca-se também a participação em projetos piloto como o caso do Creative Classroom Lab, Co-Lab, Interactive Working Spaces da European Schoolnet. Integra também o programa “Mensi” como escola mentora
Todos estes projetos e concursos permitiram ter acesso e “dotar a nossa escola de materiais e recursos inovadores, que naquela altura tinham um impacto bastante significativo nas práticas pedagógicas por serem novidade e revolucionários” diz o diretor. Desde surfaces, computadores, quadros e mesas interativos, até materiais que hoje ajudam na criação de projetos como o jornal digital “O Comunica” e até mesmo o clube de meteorologia “Meteofreixo”.
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Sendo os estudantes de uma geração que nasceu já com o mundo digital a correr nas veias, este tipo de ensino é sem dúvida entusiasmante e descomplicado. “Os alunos vêm para as aulas muito mais animados. Nós utilizamos muitos os kahoots nas aulas, o que torna os alunos competitivos para acabarem em primeiro lugar, e que também funciona como um género de recompensa” afirmou o professor e subdiretor, João Cunha.
Mas…e o que pensam e acham os pais deste tipo de ensino? Seria de esperar, ou não, que para os pais que tiveram a sua educação baseada em papel, lápis e borracha e aulas expositivas, não achassem este novo método de ensino e o uso destas tecnologias a melhor opção para os seus filhos. Contudo, para Carlos, pai de dois filhos e membro da associação de pais afirma que este tipo de ensino é sem dúvida uma mais-valia, pois prepara-os para possíveis cenários do mercado de trabalho. No que toca ao processo de escolha de escola para os filhos, Carlos afirmou que “ escolheria mais depressa uma escola assim (tecnológica), […] e como pertenço à associação de estudantes, posso dizer que este sentimento é recíproco a todos os pais.” Já o diretor, Jorge Dias, diz que é impossível os pais ficarem indiferentes ao sucesso que tem sido este ensino inovador.
Comunica – jornal digital
Como resultado da implementação da tecnologia e a quantidade de equipamentos concedidos pela escola, nascem projetos como o jornal digital. O “Comunica” viu pela primeira vez a luz do dia em outubro de 2019 com o princípio de ser um meio de comunicação “feito por e para crianças”, conta o professor responsável, António Paiva. No ano seguinte à sua criação, conquistou o 1.º lugar do Concurso público na Escola, sendo até hoje o melhor jornal escolar do país.
Elaborado diariamente através dos contributos de alunos do pré-escolar ao 9.º ano, o Comunica já conta com inúmeros artigos e notícias que estão divididas em vários temas desde: Minisséries, Cadernos Temáticos, a Educação para a Saúde, Cultura, Entrevistas, Telejornais, 1Minuto e muitas outras secções. As críticas de cinema, livros ou informações sobre música e desporto são das secções mais procuradas pelos jovens, que veem no Comunica uma forma de se manterem informados relativamente ao que se passa na escola, mas também ao mundo que os rodeia.
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O facto de a escola se situar num meio rural e mais fechado em relação a uma cidade não é algo que cause complicações ao jornal e aos alunos, “aliás até ajuda a contribuir para o desenvolvimento do nosso meio e a não fazerem noticias nacionais onde os temas são mais maçadores e banais” diz António. O jornal tem como premissa a divulgação do meio em que se incide, e para comprovar isso, são feitas várias entrevistas a entidades e pessoas locais desde peixeiros, cantores até a uma pessoa sentada numa esplanada de um café.
É também desenvolvido um telejornal, gravado e editado totalmente pelos alunos que posteriormente é postado no site e em todas as redes sociais. Este telejornal é dividido em duas partes, uma com notícias mais regionais e outra com notícias mundiais.
O feedback das crianças não podia ser mais satisfatório. Para além de dar a conhecer aquilo que podem vir a encontrar no mercado de trabalho e de se divertirem a fazer estas atividades, todas estas tarefas por de trás das camaras facilitam posteriormente nas atividades em contexto de sala de aula. Por exemplo, as apresentações orais e até mesmo a partilha de uma ideia com a turma, onde antes costumavam ficar nervosos e agora falam fluentemente e com um palavreado mais cuidadoso.
Meteofreixo – clube de meteorologia
Não é só de notícias e telejornais que se fazem os projetos na escola de freixo, temos também chuva, sol e trovoada. O clube de meteorologia da escola de freixo, o Meteofreixo foi criado em 2017.
É feita diariamente por alunos desde o pré escolar até ao 9ºano, uma análise serviços de previsão do tempo e avisos de riscos naturais e também a monitorização das alterações climáticas da região, a partir da estação meteorológica localizada na escola. “Não são materiais profissionais, contudo são o suficiente para prestar este tipo de serviços” afirma Sérgio Bastos, professor responsável pelo clube.
Depois da análise de todas informações, chega a hora de apresentar a meteorologia, e é aqui que a magia acontece. Com apenas uma televisão, uma camara, um papel a fazer de teleponto e muitos ajudantes na produção é gravada a apresentação do clima, onde incluem a previsão do tempo, níveis de humidade, qualidade do ar e ainda fazem uma leitura do mapa estrelar diário.
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Este projeto procura por um lado a prestação de serviço público para a comunidade minhota e também o desenvolvimento de competências nos mais novos, nomeadamente a interpretação de imagens satélite, cartas sinóticas mas que consequentemente vão desenvolver outras competências na parte da comunicação e interação.
É notório o impacto que estas atividades extra curriculares tem no nível de retenção dos alunos já em contexto de sala de aula e segundo no âmbito do uso das tecnologias e das apresentações em sala de aula.
Já para os alunos, estes tipos de atividades também são gratificantes por sentirem que estão a ajudar a comunidade onde estão atualmente inseridos, mas também porque conseguem transportar todas as competências que adquirem neste clube para dentro da sala e assim facilitar a aprendizagem. No entanto, quando questionados se gostariam de fazer televisão ou apresentar a meteorologia no futuro, ficaram com um pé atras e disseram que preferiam ser jogadores de futebol.
No final do dia uma escola que tem todo este “poderio” tecnológico e toda esta oferta de projetos e clubes, é sem dúvida uma mais-valia para as crianças e os pais não podiam estar mais contentes com estas iniciativas.
Todas esta experiências e oportunidades vão fazer com que as crianças se sintam mais adultas no contexto em que sentem que a opinião também importa. Está-se a preparar o futuro daquilo que é a nossa sociedade, e no que toca a isso todo o investimento é pouco.