No decorrer do fim de semana, o Grande Auditório da Faculdade de Ciências da Saúde da UBI recebeu as primeiras Jornadas da Saúde Mental da Neve, organizadas pela Encruzilhadamente, associação de saúde mental da Cova da Beira.
O estigma e preconceito relativamente ao tema da saúde mental esteve bastante presente no decorrer destas jornadas. A sessão de abertura foi marcada por discursos que enfatizaram a importância de aglomerar conhecimento e experiências para enfrentar os desafios da saúde mental. Ricardo Florentim, presidente da associação e enfermeiro especialista em saúde mental e psiquiatria, destacou que “na saúde mental, há sempre alguém que olha de lado”, sinalizando o estigma existente na sociedade.
Ao longo do primeiro dia das Jornadas de Saúde Mental da Neve, foi possível ouvir relatos e palestras de profissionais cujo papel é essencial nesta temática. Temas como gestão de serviços psiquiátricos, perturbações psicóticas e novas terapêuticas em psiquiatria, o estigma e o internamento involuntário, perturbações da personalidade, afetivas e da ansiedade foram abordados ao longo dos dois dias.
A questão essencial do estigma foi relacionada com todos os campos desta área. Durante a palestra intitulada “À Margem da Sociedade”, Nuno Silva, coordenador da unidade de saúde mental do HEUFP, que escolheu abordar a eletroconvulsivo-terapia como forma de tratamento, relatou que o estigma é uma enorme barreira para a normalização da utilização desta forma de tratamento. O psiquiatra enfatizou a grande diferença entre as crenças populares e a realidade clínica, reforçando que “há uma discrepância entre crenças, conceitos e realidade”, e que essa terapia ainda é vista erroneamente como uma forma de controlo ou autoritarismo, contrariando os seus resultados terapêuticos. Ainda durante esta palestra foram abordados os diferentes sintomas da esquizofrenia, os antipsicóticos de longa duração e o uso de oxitocina.
Gonçalo Amorim e Sofia Ferreira, representantes da Johnson & Johnson, discutiram inovações no tratamento da esquizofrenia, destacando um novo medicamento que promete reduzir as recaídas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
No segundo dia do evento, Camila Pereira, psiquiatra, falou sobre a ansiedade na era moderna. Zoé Correia de Sá, médica interna de psiquiatria, abordou o impacto social da depressão, e Maria Inês Figueiredo, psicóloga clínica, desmistificou as perturbações de personalidade com uma linguagem acessível e direta. A conferência também destacou as implicações da doença, tendo Sofia Vieira Rodrigues, assistente social, relembrado que “depois da doença vem a parte social”. Foi também enfatizada a importância da reintegração social dos pacientes, com Maria João Pessoa, enfermeira especialista em saúde mental e psiquiatria, a destacar a necessidade de reorganizar o apoio social.
Estas Jornadas da Saúde Mental foram as primeiras realizadas pela Encruzilhadamente, uma associação sem fins lucrativos, criada em 2019 e reativada em 2023. Segundo o seu presidente, Ricardo Florentim, “a associação foi criada no sentido de ajudar a desmistificar as doenças mentais e chegar um pouco mais às pessoas”. Há muito a fazer na saúde mental, “porque é o parente pobre da saúde e esse é mais um estigma, mesmo na própria saúde o estigma da saúde mental existe”, acrescenta ainda.
Relativamente a eventos futuros, o presidente da associação realça que “estiveram quase 200 participantes, o que eleva muito a fasquia para as próximas jornadas que, com certeza, serão realiuzadas”.