A Influência Sociopolítica da Igreja Evangélica

Foi numa manhã de sol na cidade de Castelo Branco, que o pastor Manuel Salvador abriu as portas da Igreja Batista da Lagoinha para mais um culto. Mal ele sabia, que a sua congregação, assim como muitas outras ao redor do mundo, estava no centro de uma revolução. Uma revolução que mistura fé e política, transformando a sociedade e desafiando antigas estruturas de poder.

No início do século XX, um movimento espiritual começou a ganhar força nos Estados Unidos. Caracterizado por intensas manifestações do Espírito Santo, este movimento rapidamente se espalhou pelo mundo, oferecendo um refúgio espiritual e social para muitos marginalizados. Esta nova onda de fé pentecostal trouxe uma mensagem de esperança e transformação, especialmente para aqueles que se sentiam excluídos das igrejas tradicionais.

Décadas depois, este movimento chegou ao Brasil. As Assembleias de Deus e outras denominações pentecostais cresceram rapidamente, especialmente entre as populações mais pobres. Inicialmente afastados da política, os pentecostais perceberam que, para transformar a sociedade, precisavam de uma voz no poder. “Os pentecostais perceberam que para realizar as transformações desejadas na sociedade, era necessário envolverem-se diretamente na política, apoiando e elegendo líderes que refletissem as suas crenças e valores,” disse Donizete Rodrigues, especialista no assunto.

A influência política dos evangélicos não se restringiu ao Brasil. Nos Estados Unidos, a conversão de líderes políticos ao pentecostalismo exemplificava a crescente força dessa comunidade. George W. Bush, por exemplo, frequentemente orava e realizava reuniões espirituais na Casa Branca, simbolizando a crescente influência dos evangélicos na política americana. “A eleição de George W. Bush marcou um ponto de reflexão significativa na política americana, onde os evangélicos começaram a exercer uma influência direta e poderosa nas decisões políticas do país”, disse Donizete.

Enquanto isso, em Portugal, uma nova dinâmica estava-se a desenrolar. Os Evangélicos começaram a desafiar a hegemonia católica. A Igreja Batista da Lagoinha, liderada por Manuel Salvador, tornou-se um exemplo dessa transformação. Com uma história de vida marcada pela transição da fé católica para a evangélica, Manuel Salvador sentia-se chamado a liderar. “Eu já nasci com esse dom de ser pastor,” afirmava Manuel. Ele via a igreja não apenas como um lugar de culto, mas como um motor de transformação social.

Desde a sua fundação em Castelo Branco há apenas dois meses, a Igreja Batista da Lagoinha já expandiu a sua influência para a Covilhã. Sob a liderança de Manuel Salvador, a igreja tornou-se um pilar de esperança e mudança para muitos jovens. “A igreja faz uma diferença incrível,” dizia ele, destacando como a presença da igreja ajudava a promover justiça e moralidade. A maioria dos membros da igreja são jovens, atraídos pelas mensagens de alegria e esperança do Evangelho.

Além das mudanças sociais, a igreja também tem um impacto positivo no meio ambiente. “Até o meio ambiente sente a ação da igreja,” diz Manuel, destacando a conscientização ambiental como parte dos ensinamentos da igreja. A igreja também é conhecida pelo seu forte envolvimento com os jovens, oferecendo programas direcionados para diferentes faixas etárias e incentivando-os a desenvolverem os seus dons e encontrem profissões que realizem os seus potenciais.

Manuel Salvador acredita firmemente que a política está inserida no dia-a-dia das pessoas. “A política está profundamente inserida no quotidiano das pessoas,” argumenta ele. O pastor enfatiza que a igreja deve tomar decisões políticas porque a vida em sociedade é influenciada por essas escolhas. Ele menciona que para se alcançar alegria, satisfação e crescimento, é necessário um posicionamento político consciente. Ele critica governos que mantêm a população em condições de dependência económica e defende investimentos em educação e melhores condições de vida. Ele destaca a importância de incentivar as pessoas a melhorarem as suas habilidades e a destacarem-se nas suas áreas, como uma ação política positiva.

A influência dos evangélicos não se limitava ao Brasil e aos Estados Unidos. Em Portugal, a tensão entre evangélicos e católicos conservadores estava a reconfigurar o cenário político. O partido Chega, liderado por André Ventura, representava a faceta católica conservadora, enquanto os evangélicos procuravam estabelecer uma base política significativa através de partidos como o ADN. A presença de evangélicos, particularmente de origem brasileira, tem crescido, desafiando a hegemonia católica conservadora e tentando estabelecer uma base política significativa.

A presença crescente da igreja evangélica na política global ilustra uma nova dinâmica de poder e influência. Através de estratégias bem-sucedidas de inserção política, os evangélicos têm promovido valores conservadores e transformado comunidades. A atuação de líderes como o Pastor Manuel Salvador em Portugal e a crescente importância do segmento evangélico no Brasil e nos Estados Unidos demonstram que a relação entre religião e política continuará a ser um fator crucial na definição de políticas e na transformação social.

Manuel Salvador reflete sobre a jornada da sua congregação, com a fé como guia, ele vê um futuro onde a igreja continuará a desempenhar um papel vital na construção de uma sociedade mais justa e esperançosa. “Levanta, vamos lá, anda com Cristo e Cristo vai te dar um up,” encoraja o pastor, refletindo a missão de inspirar todos a alcançar as suas bênçãos e a viver uma vida plena em Cristo.

Assim, a história da igreja evangélica continua a ser escrita, uma história de fé, transformação e uma procura pela justiça e esperança.

Além do testemunho do pastor Manuel Salvador, temos o relato de Fátima Borges, uma jornalista de 60 anos que frequenta a igreja adventista do 7º dia desde os seus cinco anos. Fátima destaca a preocupação da igreja não só com a fé, mas também com a saúde, educação e alimentação dos seus fiéis. “A igreja adventista faz filantropia, ações sociais, marca a sua história no mundo,” comenta Fátima. Ela acredita que a igreja e a política devem andar de mãos dadas, sem entrar no perímetro uma da outra, enfatizando a importância de uma comunicação assertiva entre ambos para o bem-estar da sociedade.

A história da igreja evangélica é uma narrativa de fé e perseverança, uma procura pela justiça e transformação. Enquanto a igreja continua a crescer e a influenciar, o seu papel na política e na sociedade se torna cada vez mais significativa. A interação entre religião e política promete continuar a molda o futuro de muitas nações, refletindo um novo equilíbrio de poder e influência.

 

 

Pode ler também