A mais antiga fábrica de chá da Europa

Fonte: Fábrica de Chá Gorreana
Fonte: Fábrica de Chá Gorreana

Nas encostas verdejantes da Ilha de São Miguel, nos Açores, uma fábrica de chá mantém viva uma tradição com mais de 140 anos.

Mais de um século de chá

Fundada em 1883 por Ermelinda Pacheco Gago da Câmara, a Gorreana surgiu com o declínio da cultura de citrinos e tornou-se a mais antiga fábrica de chá da Europa.

Com a mudança no protagonismo económico da região, no século XIX, foi necessária a procura de outras culturas que pudessem substituí-la. E, assim, surgiu o chá, que acabou por adaptar-se bem ao clima da ilha. Segundo os fundadores, a qualidade está associada ao tratamento sem produtos químicos e ao facto de não haver doenças ou pragas a afetar as plantações.

O entusiasmo foi imenso, mas faltava conhecimento para uma produção eficiente da planta, por isso, a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense contratou um mestre de chá chinês — Lau-a-Pan — que veio para Portugal juntamente com o seu ajudante e intérprete — Lau-a-Teng.

A cultura prosperou e o chá viria a ser uma grande fonte de riqueza para a região. Várias fábricas foram instaladas, mas, com os grandes fluxos migratórios e as alterações das leis laborais após a Revolução do 25 de abril, muitas viram-se obrigadas a fechar. A Fábrica de Chá Gorreana foi a única que conseguiu manter a sua produção, graças a Jaime Hintze.

Jaime Hintze era casado com a herdeira Angelina Gago da Câmara, neta da fundadora, e foi ele quem introduziu a mecanização na fábrica. A modernização possibilitou melhorar os processos de enrolamento, secagem e calibração da folha. Além disso, com o curso de água já existente da ribeira da propriedade, foi montada uma mini-hídrica que utilizava a ribeira para reduzir os custos de produção.

 

 

Da folha à chávena

De acordo com Martinho Mota Coelho, que possui responsabilidades na gestão cultural e com o próprio chá da empresa, a planta ainda continua a ser produzida de forma tradicional. Mantêm-se as folhas inteiras para preservar o sabor, o aroma e as suas propriedades naturais.

“(…) o chá tradicional combina qualidade, saúde e respeito pelo ambiente.”

A produção e a colheita do chá decorrem entre os meses de abril e outubro e todos os tipos provêm da mesma planta; a única diferença está na forma como as folhas são processadas.

Para a produção de chá preto as folhas são enroladas e ligeiramente esmagadas. Com a oxidação, ficam mais escuras, conferindo um sabor mais intenso.

No caso do chá verde, as folhas são vaporizadas a 100 ° durante 3 minutos, destruindo as enzimas responsáveis pela oxidação. Assim, mantém-se as folhas verdes e um sabor mais suave.

 

 

Martinho Coelho reforça que o clima dos Açores favorece muito a produção do chá. O clima húmido e ameno, com chuvas regulares e ausência de temperaturas extremas são uma mais valia para que a planta do chá cresça de forma saudável. O solo vulcânico da ilha fornece os nutrientes necessários para as folhas de chá mais aromáticas e o ambiente limpo e pouco poluído permite não só uma produção natural, como também sustentável.

“Estas condições tornam o chá açoriano, como o chá da Gorreana, único em qualidade e sabor.”

Desde o fim dos anos 90, o mercado alemão continua a ser o principal mercado estrangeiro da fábrica, preferindo qualidade a quantidade e valorizando o produto 100% biológico e europeu. Os Estados Unidos da América e o Canadá estão entre os outros mercados considerados importantes e valiosos para a compra e o consumo do produto.

Anualmente, são produzidas cerca de 40 toneladas de chá por ano, provenientes de 37 hectares de plantação. Atualmente, a Gorreana não é apenas a fábrica mais antiga da Europa, é também um lugar de tradição e família, recebendo milhares de visitantes ao longo do ano.

 

 

*Imagens fornecidas pelo site da Fábrica de Chá Gorreana: https://gorreana.pt/pt/galeria/17#fabrica 

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