Para celebrar os 50 anos da Revolução dos Cravos, o Cineclube da Associação Cultural CISMA organizou, no dia 22 de abril , no Museu de Lanifícios da UBI um evento que inclui a exibição especial do filme “Capitães de Abril” e um debate.
O filme, que retrata o golpe militar de 25 de Abril de 1974, é uma ficção histórica, coproduzida entre Portugal, Espanha, Itália e França, lançado em 2000 e dirigido por Maria de Medeiros.
Após a exibição do filme, foi realizada uma mesa-redonda, moderada por Ângela Martins, aluna do curso de Cinema da UBI, que contou com a presença de quatro convidados.
Ângela Martins começou por fazer uma reflexão sobre a importância do 25 de Abril no contexto do cinema português, ao salientar a presença das mulheres na indústria cinematográfica, antes e depois da Revolução. Destacou o papel de Maria de Medeiros como diretora e atriz no filme, dizendo que “antes do 25 de abril só houve uma mulher realizadora, Bárbara Virgínia, e grande parte do filme dela foi queimado.”
A moderadora também tocou na questão da exclusividade antes da revolução, momento em que apenas pessoas ricas, ou com ligações políticas, situação que contrastou com o cenário pós-revolução, caracterizado pela democratização do acesso ao conhecimento e às oportunidades na indústria cinematográfica. Ângela Martins destacou que “o processo de uma mulher ser realizadora… foi muito depois de 74”, indicando que a abertura das portas para diferentes grupos na produção de filmes refletiu a maior liberdade e inclusão conquistadas após o 25 de Abril.
Duarte Coutinho, um dos convidados, destacou que “uma das maiores diferenças antes e depois do 25 de abril é que agora as idas ao cinema são um ato de lazer, de cultura ou de ritual. Antes, além disso, ir ao cinema também era um ato de resistência”. Referiu ainda “até ao 25 de Abril não se conseguia assistir a uma sessão de cinema que não tivesse uma comunicação política envolvida.”
Ao longo da mesa-redonda foram abordados vários tópicos entre os convidados acerca do que se viveu antes da revolução de 1974, com um foco especial na Educação.
“Eu já nasci no hospital público, com serviço de saúde, já estudei na escola pública. E sem ela (a educação), provavelmente, estaria, como as minhas avós, que não sabiam ler nem escrever, e, graças a ela, consegui ter consciência política, e atuar sobre ela”, disse Catarina Taborda.
Isabel Fael, professora, disse que quando era estudante, antes do 25 de abril de 74, numa turma com cerca de 30 alunos, apenas ela prosseguiu estudos superiores. Referiu ainda a precariedade dos ordenados de antigamente, ao dizer que a sua mãe era professora primária e ganhava “pouco mais de cinco euros”.
Vítor Silva, por outro lado, fez um balanço bastante positivo do pós-1974 na escolarização, ao refletir sobre o seu percurso escolar. “Ter um curso é de facto uma grande ferramenta para o futuro”. Destacou ainda a importância da união familiar para alcançar melhores resultados académicos, dando o seu exemplo pessoal: “E eu vivi aqui, de certa forma, apoiado pelo meu irmão José”, salientando que grande parte do seu percurso foi feito a trabalhar.
O debate alargou-se depois à audiência. Maria Verónica Aragão, brasileira, tem 67 anos e é reformada. Para ela, a longa-metragem destaca a força da união entre as pessoas: “Quando todos se unem têm mais força”, comentando o aspeto pacífico da revolução, liderada pelos militares portugueses. Salientou ainda o facto de ter sido “uma revolução comandada por militares onde não houve derramamento de sangue (…) e isso é impressionante”.
“Temos a ideia de que os portugueses são um povo muito passivo, que aceitam tudo com muita facilidade, e o filme mudou isso”, disse Maria Verónica. Elogiou, ainda, a narrativa e mencionou que a história é envolvente, com momentos cómicos e elementos dramáticos, recomendando “Capitães de Abril” porque considera que o filme oferece uma visão mais detalhada sobre a Revolução dos Cravos e aborda de uma maneira equilibrada assuntos delicados.
Já Ana Dias, 24 anos, a escrever a sua dissertação de mestrado sobre o cinema no 25 de Abril, destaca que “Capitães de Abril” tem um valor emocional significativo e pode ser inspirador para muitos espectadores. Salienta, ainda, a tendência do filme se centrar no heroísmo individual, especialmente de Salgueiro Maia, e deixando de lado a complexidade e a coletividade que caracterizaram a revolução. Ana também mencionou a importância da música “Grândola, Vila Morena”, que é um símbolo da resistência. “Recomendaria o filme, no sentido de ser um filme que explica muitos dos factos históricos que ocorreram nessa altura”, conclui Ana.
Este evento, organizado pela CISMA atraiu um público diversificado, reforçando a importância de recordar este marco significativo da história portuguesa.