Herdeiro da Montanha: Hélder Silva Escreve Outro Capítulo de Ouro na Rampa da Estrela

Hélder Silva entrou na história da Serra da Estrela ao conquistar o pentacampeonato na 54.ª Rampa Serra da Estrela, dominando os 5240 metros de asfalto vertiginoso da EN 339 com uma mestria que ecoou além da competição. Num domingo escaldante que reuniu 72 pilotos e centenas de espectadores nas bermas, o piloto de 49 anos da Póvoa do Varzim transformou a prova num ritual de cumplicidade com a montanha – e provou que a verdadeira velocidade se mede em laços com a paisagem.

A neblina ainda beijava os cumes da Serra da Estrela quando o primeiro ronco de motores ecoou pelos vales, anunciando: o reino da montanha estava prestes a coroar o seu campeão. A 54ª Rampa da Serra da Estrela, mais do que uma prova, era um ritual. E neste domingo de sol escaldante e asfalto ardente, o povo da Covilhã, os amantes do volante e os espíritos da serra uniram-se para testemunhar uma história que já soava a lenda.

No centro do palco de curvas vertiginosas e abismos que desafiavam a gravidade, um nome pairou sobre todos: Hélder Silva. O piloto de 49 anos, proveniente da Póvoa de Varzim, com o sangue frio de um alpinista e os reflexos de um falcão, não veio para competir. Veio para reafirmar um pacto. Um pacto selado ano após ano com a montanha de que tanto gosta. Ao volante do seu monstro mecânico afinado ao milímetro, Silva dançou sobre o asfalto da EN 339 como quem conhece cada pedra, cada sombra, cada respiração da estrada.

“Sinto a serra nas minhas mãos”, confessou, após cortar a meta com um tempo que deixou os rivais a comer poeira. “Ela fala-me nas curvas. É uma prova de respeito, não só de velocidade.” E a montanha respondeu-lhe com fidelidade. Pela quinta vez consecutiva, o nome de Hélder Silva foi entoado pela Serra da Estrela, entre bandeiras pretas e brancas e um bairrismo que aquecia mais que o sol de junho.

Mas a Rampa não se fez só de um herói. Fez-se dos 72 pilotos que desafiaram o desnível brutal ao longo dos 5240 metros, entre gritos de motores, cheiro a óleo queimado e o suspense de quem arriscava tudo numa curva cega. Fez-se das famílias aninhadas em mantas nas bermas, das crianças com binóculos improvisados, dos veteranos que reviviam memórias ao ver os “novos loucos” herdarem a paixão.

E quando o último carro travou na meta, e o eco dos motores se fundiu com os aplausos, a serra revelou o seu segredo. Não era apenas uma competição, era um reencontro. De gerações que viram a prova nascer nos anos 70. De amigos que só ali se cruzam uma vez por ano. Da comunidade com a sua paisagem agreste e generosa.

Quanto a Hélder Silva? Enquanto erguia o troféu, um sorriso sereno cruzou-lhe o rosto. A pergunta que paira no ar não é se alguém o derrotará. É como a serra o receberá no próximo ano. Porque a verdadeira vitória, nestas alturas, não se mede em segundos. Mede-se em histórias contadas à lareira, em olhares de admiração nos cafés de todo o País, e no silêncio respeitoso da montanha quando o seu domador passa.

E assim, com o pôr-do-sol a pintar de ouro os cumes, a Estrela guardou mais um capítulo. Até que o ronco dos motores a desperte outra vez, e a lenda continue.

Porque na Serra da Estrela, o asfalto é o palco. A velocidade, a linguagem. E Hélder Silva? É o poeta que a montanha escolheu para contar a sua epopeia.

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