Na noite de 12 de novembro, o CRIA – Associação de Comunicação Criativa – estabeleceu uma colaboração inédita com a Encruzilhadamente – Associação de Saúde Mental da Cova da Beira – para organizar o “Mentes em Debate”: uma roda de conversa sobre saúde mental dirigida à comunidade estudantil da UBI. A parceria reuniu três profissionais do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental da ULS Cova da Beira: a Doutora Raquel Morgado (psiquiatra), a Enfermeira Maria João Pessoa e o Enfermeiro Ricardo Florentim, presidente da Encruzilhadamente. Miguel Ângelo, vice-presidente do CRIA, explica que o evento procurou “desconstruir a vertente excessivamente formal do debate sobre saúde mental”, criando “um momento de partilha que vai além da teoria, focando-se na vertente prática, interativa e de solução”.
Para Miguel a motivação foi clara: “Achamos que a saúde mental, especialmente no contexto universitário, deveria ser mais abordada. Alunos deslocados, pressões agregadas e descontentamento por classificações não almejadas são os principais motivos do agravamento da saúde mental”.
Com foco nos jovens da Covilhã, o CRIA decidiu delimitar o tema especificamente ao contexto universitário local. Miguel reconhece o estigma ainda presente: “É possível ver em uma pequena massa de alunos na UBI que, mesmo estando a atravessar uma má fase, irão abordar de forma otimista que estão bem, escolhendo esconder por medo de julgamento”.
Diferentemente de um formato tradicional de palestra, o CRIA optou por uma “roda de conversa” – um espaço mais leve e informal. “Se fosse formato palestra, acreditaríamos que seria um tema mais ‘maçante’ e mais difícil de atrair alunos”, explicou Miguel. A escolha revelou-se acertada, refletindo-se no feedback dos participantes. Para Adriana Lourenço, que esteve no evento, a “palestra foi uma excelente iniciativa! A saúde mental é algo que nem sempre é falado com a atenção que devia, e este tipo de eventos ajuda-nos a perceber melhor a importância de cuidar de nós próprios e dos outros. Foi uma sessão muito enriquecedora, que nos fez refletir e aprender algumas estratégias para lidar melhor com o estresse”.
A Doutora Raquel Morgado esclareceu que existem três caminhos concretos para aceder às consultas de psiquiatria: através do médico de família, outras consultas hospitalares ou urgência. Contrariando mitos, a psiquiatra sublinhou que “procurar ajuda não é sinal de fraqueza, é sinal de que estamos a ter cuidado com nós próprios”. A palestra abordou ainda a eletroconvulsivoterapia (ECT) – um tratamento ainda cercado de dúvidas, mas que, segundo a psiquiatra Raquel, registou 95% de sucesso contra depressões resistentes, desde a implementação em 2017.

A enfermeira Maria João Pessoa apresentou ferramentas concretas de gestão do estresse, como a Técnica Pomodoro – blocos de 25 minutos de trabalho seguidos de 5 minutos de pausa. Outras estratégias incluem autoconhecimento, planeamento realista, rotinas de sono e descanso, exercício físico e desconexão tecnológica. A importância do apoio entre pares foi enfatizada: “Grupos de estudo saudáveis, quando bem estruturados, não só facilitam a aprendizagem como combatem a solidão. Cada um é que tem que se conhecer a si próprio. Não pode ser a mesma receita para todas as pessoas”, sublinha.

A Doutora Raquel Morgado clarificou os critérios para procurar urgência imediata: risco de suicídio com intenção, agressividade, sintomas psicóticos graves, alteração significativa do estado de consciência, intoxicações ou recusa de cuidados com deterioração. O Enfermeiro Ricardo Florentim, Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria, dinamizou a última parte, focando em “mitos e verdades”, permitindo abordar dúvidas concretas dos estudantes e normalizar conversas sobre saúde mental.

A Linha de Apoio LãSUBI, do projeto “Altamente Saudáveis”, lançada em setembro de 2025, funciona das 21h00 à 1h00 (934 000 139), oferecendo escuta ativa e encaminhamento para serviços adequados. Quando questionado sobre lacunas no apoio psicológico da UBI, Miguel apontou: “A lacuna mais notável é a demora de resposta a um aluno que se candidate ao GAP (Gabinete de Apoio Psicológico), havendo atrasos de respostas de meses”.
Relativamente ao futuro, o CRIA não pretende que esta seja uma ação isolada. “Acreditamos que não será uma ação pontual repetir o mesmo tema, porém, pretendemos trazer novos temas no futuro em colaboração com o Encruzilhadamente”.
“Mentes em Debate” demonstrou que é possível abordar temas complexos como a saúde mental de forma acessível, informal e prática. Através de parcerias como a do CRIA com a Encruzilhadamente, a comunidade académica consegue criar espaços nos quais conversar sobre bem-estar não é sinal de fraqueza, mas de coragem – e onde a prevenção e o autocuidado se tornam responsabilidades coletivas.











