O dia estava chuvoso e escuro. No hall de entrada da Biblioteca Central da Universidade da Beira Interior (UBI), surge do exterior um rapaz com um chapéu de chuva preto enfiado num dos bolsos do seu casaco.
É relativamente alto e tem uma barba curta e bem trabalhada. No entanto, a sua postura é ligeiramente encurvada com os ombros fechados. Chama-se Francisco Silva, tem 23 anos, é da Guarda e está a estudar no curso de licenciatura com mestrado integrado de Arquitetura na UBI, com uma dissertação sobre maquetes.
Numa das mesas do segundo piso da Biblioteca, o único lugar silencioso que conseguimos encontrar para ter uma conversa, admite ser introvertido e um pouco tímido. Contudo, aceitou arriscar e realizar esta entrevista para “melhorar nesse aspeto”.
Sempre esteve ligado às artes, no entanto, dedica-se “principalmente ao desenho”. É uma ligação que nutre desde que era criança. “Quando entrei na escola primária, os meus avós ofereceram-me um caderno”, conta Francisco Silva, e foi a partir daí que começou a aprender a desenhar.
Dentro do desenho, optou pela esferográfica e pelo grafite, “dois materiais bastante opostos que se podem trabalhar de diferentes maneiras”, mas como gosta de desafios, escolheu “principalmente a esferográfica”, uma técnica “mais difícil de ser trabalhada, por ser mais propícia a erros”.
Em foco nesta conversa esteve a exposição “ArtBeat”, que decorreu entre os dias 3 e 28 de fevereiro na Biblioteca Central. “A ideia surgiu durante uma palestra”, onde o desafio lhe foi lançado pela professora Patrícia Pedrosa, e a organização foi da trabalhadora do Setor de Difusão e Imagem da Biblioteca, Luísa Silveiro, sem a qual “não teria sido possível organizar esta exposição”.
O objetivo foi criar uma ligação entre a música e o desenho. Para tal decidiu desenhar o rosto de diversos artistas de que gosta. “Selecionei imagens impactantes dos artistas que escolhi”, impacto esse que sem a materialidade da esferográfica não seria possível. “Quando eu oiço a música deles, vejo um certo impacto que apenas a caneta tem no desenho”, explica o artista.

De dentro da mochila, retira alguns dos retratos: Kendrick Lamar, Tyler The Creator e Drake estão entre alguns dos vários artistas de renome ilustrados. Escolheu músicos mais recentes para criar uma ligação com os adolescentes e jovens adultos da Universidade. “A mensagem que tentei transmitir é que não devemos ter medo de fazer algo”, dá o exemplo do seu artista favorito, MF DOOM, que é alguém que “diz o que sente e não tem medo de mostrar a verdade”.
Apesar da essência da exposição estar nos músicos de Rap e Hip Hop, há sempre espaço para outras vertentes artísticas. “Já realizei vários retratos relacionados com o cinema, e gostaria de ligar o desenho com o desporto”, adianta. Um dos primeiros retratos que fez foi de Brian Cranson, o ator que desempenha o papel de Walter White (ou Heisenberg) na famosa série Breaking Bad: “esse desenho já é muito antigo, adorei a série e decidi arriscar”.
Nenhum artista carece de inspirações. Como principais influências aponta Jackson Pollock, “pela maneira como tenta transmitir as mensagens da sua arte”, e Leonardo Da Vinci, “na forma de como trabalha o desenho”. “Acho que consigo encontrar um ponto de união entre dois artistas, que considero totalmente opostos”, sintetiza.
No tempo livre, para além de desenhar e ouvir música, Francisco Silva gosta de ler. “Um dos meus livros favoritos é o Bem Vindos a Joyland”, uma história de Stephen King, não de terror, mas sobre o crescimento e encontrar um significado na vida. “Sempre quis experimentar escultura”, mas até agora sempre ficou pelo “quis”, “talvez um dia”.
Prefere o silêncio para “aliviar a cabeça”, e sente-se melhor a fazer arte “em casa, longe das distrações e do barulho”. O seu processo criativo é simples, no caso dos artistas musicais começa “por ouvir alguns álbuns”, onde absorve as emoções que se estão a tentar transmitir e a partir daí começa a desenhar.
Fora de casa, evidentemente, opta por descontrair em locais que fomentam a imaginação e a ponderação. “Os meus sítios favoritos são o Jardim Público e o Jardim do Lago”, onde sente um certo aconchego e à vontade. “A Covilhã é uma cidade calma e acolhedora, que não é assim tão pequena como as pessoas dizem”.
Para o futuro, quer trabalhar principalmente na área da Arquitetura, mas não descarta a possibilidade de transformar este hobby em algo mais: “gostaria de tentar uma carreira na Arte do Desenho”.


