A obesidade infantil tem aumentado em Portugal, tema que esteve em debate no Seminário de Atividade Física em Saúde Pediátrica, realizado na UBI no dia 28 de fevereiro.
No início do evento, Anabela Dinis, Pró-Reitora da Universidade da Beira Interior, disse que num ranking de “26 países na Europa, Portugal ficou em 11º lugar no sobrepeso ou excesso de peso na faixa etária abaixo dos 5 anos, em 7º lugar entre os 5 e os 9 anos e em 9º lugar nos jovens entre os 10 e 19 anos”. Segundo Anabela Dinis, “o Childhood Obesity Surveillance Initiative, da OMS, constatou que cerca de 32% das crianças portuguesas entre 6 e os 8 anos têm excesso de peso; 13,5% com obesidade” embora já haja “algumas melhorias no comportamento alimentar”, e um recuo “ao nível da comportamentos sedentários e atividade física, sobretudo no uso de computadores, jogos eletrónicos, etc.”
Na primeira apresentação, Júlio Martins, Docente do Departamento de Ciências do Desporto, explicou que a maioria dos pais não tinham consultado o médico de família para medir o peso dos filhos, pensam que o filho tem peso normal, e pelo menos 58% das crianças não comem fruta numa semana. Nos fins de semana, passam mais tempo a jogar videojogos e a ver televisão, e apenas praticam exercício físico uma a quatro vezes por semana.
Projeto Super Quinas
Júlio Costa, da Federação Portuguesa de Futebol, apresentou o projeto Super Quinas. O programa nasceu “como um dos objetivos da Federação Portuguesa de Futebol”, que intervém desde as idades mais baixas até às mais sénior. Consiste em adicionar mais 60 minutos de atividade física com conteúdos programáticos nas escolas, e tem o objetivo de desenvolver hábitos saudáveis e competências motoras.
Dados da equipa do projeto mostram que 60% das crianças que participaram no programa “desenvolveram melhorias na competência motora”, aumentaram a atividade física aeróbia, o tempo de sedentário diminuiu, aumentou a duração do sono, foram melhores nos testes de aptidão cardiorrespiratórias e diminuíram a massa gorda, relativamente às crianças que não participaram.
Obesidade Infantil a nível sensitivo
Depois das dimensões científicas, Carlos Neto, professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana, abordou a dimensão sensitiva do problema. “Nós hoje temos cinco problemas sérios na vida das crianças em Portugal”, diz Carlos Neto: “sedentarismo e identidade física”, “uma sociedade adversa aos riscos” o que restringe a autonomia e mobilidade; “não têm identidade no local onde crescem”, “uma superproteção patológica” e “um défice de contacto com a natureza”.
No “World Obesity Atlas 2023, os resultados de Portugal são muito preocupantes. Relativamente à obesidade infantil prevê-se um crescimento de 3,5% ao ano, elevando a percentagem de crianças obesas para 24% em 2035”.
Carlos Neto defende que é necessário criar mais espaços ao ar livre que desafiem as crianças, para que possam desenvolver atividade física, promover uma reestruturação das escolas com mais atividades recreativas e um maior contacto com a natureza.
Júlio Martins, um dos organizadores, diz que este evento é importante para a UBI e para os profissionais que estiveram presentes.
Para o estudante de Ciências do desporto, Diogo Garrido, é importante realizar esta discussão junto dos estudantes e do público interessado.
No final do evento, Aldo Costa, professor de Ciências do Desporto da UBI, felicitou Júlio Martins pelo evento e ofereceu-lhe uma caneta de prata como símbolo de “sabedoria, franqueza, consciência tranquila e a fidelidade aos seus princípios e valores”.