Tecidos africanos em exposição na Biblioteca Central

A propósito do Dia de África, que se comemora a 25 de maio, a artista angolana expõe fotografias do padrão têxtil chamado Mari capable, que tem a particularidade de ser pintado sobre a pele humana.

A exposição Do Tecido para o “Tecido” patente na entrada da Biblioteca Central da UBI integra o projeto de Mariquinha Cafuquena, aluna do 2º ciclo do curso Design Multimédia. Através da fusão das técnicas de design, pintura corporal e fotografia, Cafuquena pretende dar a conhecer em profundidade o tecido africano a fim de que “as pessoas não olhem para este apenas como um objeto estético, mas também como um objeto informativo”.

Do Tecido para o “Tecido” é a expressão da identidade da artista, inspirada na visão de sua mãe, Natália Angolar Cafuquena, sempre trajada com tecidos africanos. “Africana que sou, e também por gostar bastante de moda, fui procurando relações com o design para propriamente dar o meu parecer sobre uma problemática que via em uma das heranças africanas.”

Exposição Do Tecido para o “Tecido” aborda o significado do pano africano.

Com traços semelhantes a uma boca e três círculos triangulados, o padrão gráfico Mari capable, também referido como My lips are sealed (“meus lábios estão selados”, em português) pode ser encontrado a vestir homens e mulheres em diferentes países africanos, como Angola, Senegal e Nigéria. Mariquinha admite ser difícil identificar a origem e a autoria do tecido, porém, ao confrontar pesquisas na web com artigos académicos, descobriu que este pano africano significa “A mulher não tem nada de mau a dizer sobre o marido”.

Segundo a artista, a interpretação do significado tem sido polémica. “Eu tenho as minhas visões, mas o meu objetivo principal é dar a conhecer que existe uma história por trás dos padrões africanos. A outra parte, deixo para o público interpretar, porque o que me interessa é falar mais, discutir mais sobre a cultura africana”.

Em sua pesquisa, Cafuquena optou pela passagem do padrão têxtil para um novo suporte: o “tecido humano”. A metáfora criada pela artista une o pano e a pele pela similaridade no contar histórias. “Os tecidos africanos contam histórias, vivências do cotidiano, crenças e as pinturas corporais de certos povos africanos também”, completa a artista.

Fotografias expressam a fusão do têxtil com a pele humana.

Depois de passar a noite a pintar o corpo da modelo, Mariquinha registou a efemeridade da pintura corporal através da fotografia. Para a sessão de fotos, a artista pesquisou poses e direção de modelo para poder revelar a textura da pele e a profundidade do olhar. A modelo que aparece nas fotografias é a Octávia Dos Santos, amiga com quem a artista frequentou aulas de pintura no Instituto Superior de Artes em Luanda antes de se mudarem para a Covilhã.

O vestido exposto ao lado das fotografias é a única peça que a artista encontrou com as mesmas cores e desenhos representados na exposição. Feito no Senegal, o vestido foi emprestado por uma senegalesa que o trouxe para a Covilhã.

Do Tecido para o “Tecido” é a segunda exposição individual de Mariquinha Cafuquena na Biblioteca Central. Em 2022, a artista apresentou a exposição de fotografia “África Dourada” em colaboração com a candidatura da Covilhã a Cidade Criativa em Design. Participou também da Semana Africana 2022 em Moçambique com a técnica de pintura corporal utilizando padrões do pano Samakaka, tecido tradicional dos Muílas (povos do sul de Angola).

A exposição Do Tecido para o “Tecido” decorre na Biblioteca Central da Universidade da Beira Interior entre os dias 02 e 31 de maio.

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