Um barbeiro ambulante que visita as aldeias esquecidas

Fotografia cedida por Manuel Afonso através do Facebook Afonso -mobile barber shop

A carrinha branca e vermelha de Manuel Afonso leva o seu serviço de cabeleireiro e de barbearia a 70 aldeias localizadas no interior de Portugal, mais propriamente nos distritos de Castelo Branco e da Guarda. O ofício é tradicional, mas a profissão é nova para este barbeiro ambulante de 51 anos, que até há pouco era chefe numa grande superfície comercial. Aos 46 anos, pegou na tesoura e cortou com a pressão do trabalho anterior.

Manuel trabalhou numa grande superfície comercial numa empresa da SONAE onde era o chefe. Mas, decidiu mudar de vida devido à constante pressão da sua profissão antiga. A arte de cortar o cabelo aos senhores e às senhoras das aldeias e dos lares de algumas freguesias começou como forma de hobby,  mas, agora é mais do que um passatempo, é mesmo a profissão de Manuel Afonso. 

Em vez de abrir um salão numa grande cidade, Manuel decidiu levar dia após dia o seu serviço de barbeiro e cabeleireiro às aldeias. Hoje, atende clientes em diversas localidades, mas também inclui instituições como o lar do Carvalhal Formoso e o lar de Sobral de São Miguel.

A ideia de Manuel inicialmente era abrir pequenos salões em duas ou três aldeias, mas com o passar do tempo apercebeu-se que não era a ideia mais viável . “Inicialmente era para ir para áreas mais pequenas mas abrir em duas ou três aldeias e depois comecei a ver que não era viável porque ia pagar muito de renda, e a população que ia existir nessas aldeias não era suficiente para manter“.

A solução que Manuel Afonso encontrou foi transformar uma carrinha num salão móvel, com o intuito que o seu serviço chegasse à população que mais necessita, principalmente a freguesias em que os habitantes não tem nenhum barbeiro nem cabeleireiro  na freguesia, nem tem transportes suficientes para se deslocarem às cidades. A carrinha branca e vermelha, que tem como escrito Afonso – mobile barber shop, está totalmente equipada com duas cadeiras confortáveis, um espelho gigante na parede e uma bancada que contém máquinas de barbear, secadores e tesouras, mas, também um armário com produtos de higiene. 

Carrinha de Manuel Afonso em Aldeia de Souto

O dia a dia deste barbeiro ambulante exige muita organização. Para assegurar que cada cliente e cada freguesia recebem os serviços com regularidade, ele segue um plano mensalmente definido. Os clientes já sabem as horas e o dia em que estaciona a carrinha no centro da freguesia “ Tenho o meu plano, começo sempre às 9h no sítio onde devo começar, e depois não tenho hora para terminar, depende sempre da quantidade de clientes. Trabalho sempre de segunda a sábado e neste momento vou a 70 aldeias “. Habitualmente, percorre aldeias que tenham entre 300 e 400 habitantes, especialmente aquelas onde não há outro barbeiro disponível.  

Embora, Manuel Afonso e o seu serviço seja bem recebidos em todas as freguesias um dos maiores desafios e conquistar a confiança dos habitantes, principalmente quando vai experimentar uma nova terra. Numa primeira fase, costuma estar nessa freguesia durante seis meses e depois faz um balanço para ver se compensa. “ Vou experimentando, e depois às vezes há aldeias que funcionam e outras que não funcionam. As comunidades também reagem de forma diferente, algumas têm uma maior aceitação ou tipo de serviços, outras  não tem essa aceitação “. 

A perda de clientes é um dos maiores desafios que Manuel encontra devido ao envelhecimento demográfico e por causa de os jovens partirem para as zonas urbanas. Durante estes cinco anos já perdeu cerca de 50 clientes, não porque procurem este serviço noutro espaço, mas sim porque já não estão cá. 

Além de cortar o cabelo, também leva companhia diária aos clientes das aldeias mais esquecidas. Enquanto corta o cabelo ou apara a barba, ouve histórias sobre os antepassados dos clientes, histórias dos acontecimentos atuais da aldeia ou das famílias. Manuel diz que já faz parte da comunidade “ Com o tempo, vou ganhando e criando afinidade com as pessoas e as pessoas comigo “. “ Cria-se aqui uma empatia e amizade entre mim os clientes, já sinto que faço parte das comunidades por onde passo “.  

 Enquanto houver clientes que necessitem do seu serviço, Manuel Alonso vai continuar a estacionar a carrinha branca e vermelha nas praças das freguesias do interior , levando também sorrisos e conversas. 

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