A Universidade da Beira Interior (UBI) acolheu esta quarta-feira, 17 de setembro, o colóquio “Dinâmicas da Desinformação Política em Portugal: Media, Partidos e Redes Sociais”, organizado pelo LabCom em parceria com a ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social. O evento reuniu académicos, reguladores, estudantes e especialistas para debater o impacto da desinformação nas eleições e a responsabilidade dos meios de comunicação social.
João Canavilhas, docente da Faculdade de Artes e Letras (FAL) e coordenador do recém-criado Observatório de Desinformação Política (ODEPOL), sublinhou a complexidade do panorama mediático em Portugal. “Estamos a assistir a um desaparecimento progressivo dos meios de comunicação tal como os conhecíamos. Jornais centenários vendem apenas algumas centenas de exemplares e rádios locais foram compradas por grupos nacionais, perdendo a sua natureza. Em paralelo, surgem novos meios digitais, muitas vezes sem registo na ERC, sem jornalistas e, nalguns casos, promovidos por partidos políticos ou fações políticas. A informação que circula nesses meios nem sempre é jornalismo, muitas vezes é falsa”, alertou.
O docente frisou ainda que a desinformação circula mais rapidamente do que a informação verificada. “Mesmo quando confirmamos que uma informação é falsa, é muito difícil que chegue ao mesmo número de pessoas. Por isso, é crucial reforçar o apoio à comunicação social e apostar na literacia mediática da população. O ODEPOL pretende contribuir para isso, formando estudantes na escola de fact-checking e produzindo relatórios científicos sobre a atividade política nas redes sociais”.
Helena Sousa, presidente da ERC, reforçou a preocupação com a sustentabilidade dos órgãos de comunicação, reforçando que “nos últimos 12 anos, assistimos a uma redução significativa de jornais e rádios locais”. Aquela responsável refere que “em 28 municípios, não existe qualquer acesso a rádio ou jornal”, o que “é perigoso para uma democracia forte e plural. Precisamos de meios com independência editorial e condições para exercer jornalismo de qualidade. O digital tem drenado recursos que tradicionalmente se dirigiam aos meios de comunicação tradicionais, e a alteração dos padrões de consumo agrava esta situação”, refere.
A presidente da ERC aproveitou ainda para destacar o papel da academia e da regulação: “é fundamental ter diagnósticos precisos para propor soluções. A ERC procura sensibilizar a Assembleia da República e os governos sobre a necessidade de políticas que apoiem meios locais e regionais, sem comprometer a independência editorial. A academia, através de observatórios como o ODEPOL, pode ajudar a sociedade a compreender melhor estes fenómenos e a formar cidadãos mais críticos”.
Na sessão de abertura dos trabalhos, o presidente da FAL, André Barata, destacou a dimensão educativa e descentralizada do evento: “quando tratamos mal a verdade, estamos a tratar mal os outros. É fundamental envolver os estudantes e a sociedade na formação de uma consciência crítica sobre o espaço público e a democracia. Fico muito feliz por ver esta iniciativa na faculdade, descentralizada, reforçando a inteligência crítica em todo o território”, sublinhou.
O colóquio incluiu apresentações sobre a atividade dos partidos nas redes sociais durante as Eleições Legislativas de 2025, debates sobre o papel do regulador e sessões com especialistas de fact-checking. À tarde, tem lugar uma reunião da ERC com os media regionais, reforçando a importância da colaboração entre academia, regulador e sociedade civil.