Num país em que a concentração económica e populacional encontra-se maioritariamente nas áreas metropolitanas, é sempre um desafio a revitalização das regiões do interior de Portugal. Todavia, as universidades e a vida académica emergem como grandes forças para o desenvolvimento dessas zonas. As instituições de ensino superior localizadas no interior do país possuem um papel de grande importância para a promoção do crescimento económico, social e cultural dessas regiões. Elas geram oportunidades de emprego, reforçam a coesão comunitária e fomentam a inovação.
A presença da universidade não só contribui para o desenvolvimento sustentável da localidade, mas também transforma as cidades do interior em centros de conhecimento e inovação. A nível social, a universidade promove uma convivência dinâmica e diversa, com vista a enriquecer a comunidade local, desenvolvendo variadas atividades. Posteriormente, também, a nível urbano, a presença da universidade influência o desenvolvimento sustentável da região, com investimentos em infraestruturas modernas e a revitalização de áreas urbanas, tornando a cidade mais atrativa e funcional.
Segundo os dados do relatório do acesso ao ensino superior do Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, no ano de 2018/2019, 49% dos estudantes (cerca de 38 mil) que ingressaram no primeiro ano, pela primeira vez, ingressaram em cidades como Lisboa e Porto. Cerca de 41 mil estudantes que equivale a uma taxa de 51% ficaram colocados em universidades como a de Coimbra, Aveiro e Minho.
A rotina de Rita Paulo, uma jovem de 26 anos, começa cedo com o deslocamento para o trabalho. Além de atuar como agente imobiliária em tempo integral, Rita é aluna do segundo ano de mestrado em Jornalismo na Universidade da Beira Interior.
A Universidade da Beira Interior é uma instituição de ensino superior que acolhe mais 8 mil estudantes e destaca-se como uma instituição pública que se compromete a uma educação de alta excelência. Situada na cidade da Covilhã, a UBI não só oferece uma formação de qualidade, mas também enriquece a vida da comunidade local transformando-a num vibrante centro académico. A universidade é composta por cinco polos, sendo eles a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, a Faculdade de Arte e Letras, a Faculdade de Ciências, a Faculdade de Engenharias e, por fim, a Faculdade de Ciências da Saúde
A sua jornada académica teve início em 2017, quando ingressou no curso de Ciências da Comunicação na cidade da Covilhã. Ao longo desse percurso, Rita destaca diversos fatores que contribuem para o desenvolvimento da cidade que a acolheu.
Considera que a presença das universidades localizadas no interior de Portugal, são uma mais valia para a prosperidade das cidades. De forma a atrair mais estudantes, a jovem revela que é importante a deslocação das universidades a eventos que promovam o conhecimento destas instituições, “Aliás, isso aconteceu comigo. A cidade de Albufeira tem um evento à semelhança da Futurália, que junta várias faculdades. Não fazia ideia da existência de universidade na Covilhã, e também já tinha uma ideia completamente definida que ia para Lisboa, visto que a maioria dos meus amigos também ia”, afirma.
A economia é um fator crucial quando falamos no desenvolvimento do interior. Ao contrário do que muitos pensam que “os estudantes só vêm trazer tristeza para a cidade”, e que “os estudantes não sabem estar na cidade e acham que isto é tudo deles”, na verdade, se não houvesse alunos a frequentar os pequenos comércios locais e só visitassem as grandes superfícies comerciais como a SONAE, “a economia local iria decrescer de uma forma abismal”.
Ao contrário das cidades metropolitanas, o interior, no verão, entra em decadência, visto que não há tanta rentabilidade como durante o ano letivo. A aluna salienta que quando chegou à Covilhã não havia a opção de entrega de comida ao domicílio, só passado algum tempo é que surgiu a plataforma de entrega de refeições em casa, os “The Xico`s”. Após esta nova invenção, a cidade começou a impulsionar-se de forma gradual. “A universidade não é a maior mais-valia, mas sim o top 3 dos impulsionadores para a economia, estabilidade ou economia local da Covilhã”.
A instituição de ensino superior atrai estudantes, professores e pesquisadores de várias partes do país e do mundo, o que resulta num aumento significativo da população residente. Esse crescimento demográfico, temporário e constante gera uma procura principalmente pelos serviços de habitação, contribuindo diretamente para o comércio local e para a criação de novos negócios. “A contribuição é feita todos os anos porque os alunos para aqui estarem têm que pagar casa, nem todos estão em residências da universidade, portanto a maior contribuição da universidade é ao comércio local”. Um estudante deslocado que não tenha casa própria terá de alugar e consequentemente pagar despesas, como o gás, a eletricidade, a água, entre outros gastos.
Quando confrontada com a questão sobre que estratégias implementar com o objetivo de reter talentos na região após a conclusão dos estudos, a estudante, revelou uma certa preocupação. É fundamental aproveitar talentos que concluíram os seus estudos nas cidades do interior de forma a estimular o desenvolvimento da cidade, garantindo que o conhecimento retido na própria universidade coopere diretamente para a prosperidade da região. Rita Paulo dá exemplos de estratégias que poderiam ser implementadas ligando diretamente a universidade com a cidade. “Haver protocolos com as câmaras (…) Por exemplo o site da UBI e da autarquia é arcaico e porque não pegar em estudantes do ubi e fazerem protocolos podendo os alunos criar portfólio e fazer inovar a cidade”. Outra estratégia apresentada foi a integração de estágios e programas de inclusão, de modo a facilitar a conexão dos estudantes com empresas e organizações locais durante os seus estudos. De outro modo, enfatiza, também, a importância de encorajar projetos de pesquisa que abordem problemas locais que envolvam a comunidade.
Carlos Garcia, de 20 anos, natural de Trás-os-Montes, mais propriamente, Vinhais, ingressou no ensino superior em 2022, no Instituto Politécnico de Bragança, onde frequenta o segundo ano da licenciatura em Gestão. As estimativas apresentam uma percentagem mais elevada relativamente aos alunos que ingressam em universidades localizadas no litoral do país, mas Carlos, embora habite na pequena vila que o viu crescer (Vinhais), também conhecida como a capital do fumeiro, sempre projetou estudar perto da cidade em que nasceu, “Nunca quis fugir para longe da minha família! A minha mãe também se licenciou na mesma instituição, e atualmente é muito bem-sucedida. Se não somos nós, jovens, quem irá desenvolver esta pequena grande cidade?”.
O Instituto Politécnico de Bragança possui mais de 7 mil estudantes e caracteriza-se por ser uma instituição pública que se empenha na oferta de formação de qualidade e na promoção de atividades de investigação e extensão com impacto no meio económico, social e cultural. Encontra-se localizada não só na cidade de Bragança, mas também em Mirandela, transformando as cidades em autênticos centros de vivência académica.
Atualmente o Instituto conta com cinco faculdades, que abrangem um leque de áreas distintas. Falamos da Escola Superior da Agrária, a Escola superior de Educação, a Escola de Tecnologia e Gestão, A Escola Superior de Comunicação, Administração e Turismo (em Mirandela), e a Escola Superior de Saúde.
Carlos considera que tanto os Politécnicos como as Universidades que se encontram localizados no interior do nosso país, são extremamente importantes “pois permitem, aos estudantes, a aquisição de conhecimento, bem como a sua qualificação, a um custo muito mais acessível, do que por exemplo no Porto”. Num estudo recente a nível europeu Bragança destacou-se por ser uma das cidades com melhor qualidade de vida, obtendo resultados elevados nos campos da habitação, da segurança e qualidade do meio ambiente, no qual o jovem acrescenta “Quando me dirijo para a faculdade, apesar de haver uma rede de transportes urbanos de destaque na cidade, nenhum de nós tem a necessidade de apanhar o autocarro, visto que o IPB está localizado mesmo no meio da cidade.”.
Garante, também, que o deslocamento de centenas de estudantes por ano, para a cidade de Bragança, faz com que esta se consiga desenvolver a todos os níveis. Salienta que o nível económico, é aquele onde é mais notório.
De entre várias estratégias que as Universidades deveriam adotar para o desenvolvimento da região, o jovem transmontano, afirma que as instituições deveriam aderir a políticas para melhorar esta vertente, como por exemplo, “inserir os alunos que acabaram a licenciatura no mercado de trabalho local, estabelecendo acordos com empresas locais, gerando postos de trabalho”. Proporcionar variados cursos para que os estudantes possam escolher; aderir a cursos e programas de Erasmus “a minha escola é um exemplo, dado que uma grande parte dos estudantes estrangeiros entraram a partir de programas que são elaborados.” Salienta, também, que um dos maiores contributos que o IPB fez para a cidade de Bragança foi a abertura de doutoramentos em determinados cursos, promovendo, assim, não só a cidade como o instituto.
As localidades situadas no interior do país caracterizam-se cada vez mais por serem áreas onde a facha etária mais velha predomina, as oportunidades de emprego são cada vez mais escassas, o turismo poderia ser mais aproveitado, e os jovens fogem, ou para as áreas do litoral ou para o estrangeiro. As assimetrias entre o litoral e o interior são um problema cada vez mais sério em Portugal. Há realmente diversos obstáculos que funcionam como um entrave para que não haja progressão. Carlos relata que os deslocamentos de estudantes dos grandes centros urbanos para o interior do país, por vezes torna-se complicado, “Não é o meu caso, mas eu tenho colegas que são de Lisboa que de autocarro, demoram pelo menos 5 horas e meia, para aqui chegar! Quando não é mais! É crucial desenvolver a rede de transportes, para evitar este tipo de constrangimentos.” Outro aspeto que é frisado, é o “choque de realidade”. “As pessoas não sabem o que lhes espera. Deparam-se com cidades pouco desenvolvidas! Vêm para aqui a achar que há duas Zaras e três Mercadonas!”.
A experiência do jovem permite-lhe afirmar que a vida académica, sobretudo a noturna, desempenham um papel extremamente importante no desenvolvimento das cidades “Ajudam no acolhimento de pessoas e na adaptação à cidade. Conhecem novas pessoas, oriundas dos variados pontos de Portugal, bem como do estrangeiro”. Assim, o convívio permite amenizar a distância entre a família, e as festas são autênticos fluxos económicos, geradores de dinheiro, para os respetivos bares, discotecas e não só.
Dada a experiência que vivenciou durante estes dois anos, Carlos diz nunca se arrepender da escolha que tomou, “Bragança é uma cidade bela e quem cá passa rapidamente se apaixona! Eu sei que quase ninguém vem para aqui porque quer, mas certamente vai leva daqui os melhores três anos das suas vidas! Bragança a terra dos amigos para sempre!”.
Foi, também, no ano de 2022, que Nerea Santos, uma jovem de 20 anos, ingressou no ensino superior, mais concretamente na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Oriunda da pequena vila de Vinhais, localizada bem no estremo do nordeste de Portugal, “há quem confunda com a Espanha”, relata que “Estudar no interior nunca foi opção para mim! Sempre ambicionei sair de “trás as fragas””, mas devido a imprevistos “da vida”, acabou por ficar a quase 2 horas do seu local de residência. “Fui parar a Vila Real! Foi um misto de emoções! Um verdadeiro choque”.
Verifica-se que grande parte dos estudantes ingressados na UTAD (81,5%), estão deslocados do seu agregado familiar (Fig.1), sendo a ECAV a escola com maior taxa de deslocados (Fig.2).
Com cerca de 8 mil alunos, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, descreve-se como uma instituição Pública de Ensino Superior que está orientada para a criação, a transmissão e a difusão de diversas áreas, como a cultura, a ciência e a tecnologia. Conta com cinco faculdades que acolhem dezenas de estudantes por ano: a Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias, a Escola de Ciências Humanas e sociais, a Escola de Ciências e Tecnologia, a Escola de Ciências da Vida e do Ambiente e a Escola Superior de Saúde.
Nerea Santos, encontra-se no segundo ano do curso de Serviço Social, e apesar de não ter sido a sua primeira opção já não se vê a fazer outra coisa, “Apesar de nunca ter pensado em estudar aqui, a UTAD tem me proporcionado os melhores anos da minha vida. Serviço Social nunca me passou pela cabeça, pois sempre quis direito, mas acabei por me apaixonar”.
Considera que as universidades que estão localizadas no interior do nosso país são fundamentais para o desenvolvimento regional, pois “atuam como motores de progresso económico, social e cultural, por exemplo, há a criação de novos empregos, há o incentivo à inovação, bem como ao empreendedorismo. De certa forma cria-se um futuro mais sustentável para as regiões.”
Salienta os aspetos económicos e sociais, pois considera que são aqueles onde vê mais alterações. “Se não fossem os estudantes, Vila Real, não seria o que é hoje”. Exprime que a Universidade é o “motor” da cidade e comprova-o quando fica em Vila real, aos fins -de-semana “Quando tenho de ficar aos fins-de -semana, aborreço-me. Parece que as pessoas desaparecem”.
A jovem afirma que as festas académicas são muito importantes na vida de um universitário, pois são uma fonte de interação social entre os jovens académicos, fazendo, por exemplo, “com que os bares e restaurantes não fechem”. A estudante fala por experiência própria “Costumo sair à noite e por isso consigo ter uma perceção aprofundada à cerca do comportamento dos jovens na noite. “Como sabemos maior parte das pessoas acaba por se exceder”. Desta forma, considera que a Universidade transformou a “Bila”, positivamente, fazendo com que a cidade se tornasse mais conhecida, houvesse a disseminação de novos postos de trabalho e há medidas que os anos foram passando houvesse um forte desenvolvimento na cidade.