O início da história espacial portuguesa, no que diz respeito ao lançamento de satélites, assinala esta semana 30 anos. O dia 25 de setembro de 1993 ficou marcado pelo lançamento do PoSAT-1 para o espaço, colocando a Universidade da Beira Interior (UBI), na altura uma jovem instituição de Ensino Superior, na história daquele que é ainda hoje o único satélite de Portugal a orbitar a terra.
O projeto, coordenado pelo Professor Catedrático Fernando Carvalho Rodrigues, teve a participação do Departamento de Ciências Aeroespaciais da UBI, que era dirigido por Ivan Camelier, um dos muitos docentes estrangeiros que a academia teve a capacidade de recrutar e que construíram as bases de excelência de ensino e investigação que existe atualmente.
O trabalho da UBI esteve relacionado com os estudos de cálculo de trajetórias de lançamento e órbitas do satélite. Após a colocação no espaço, os dados emitidos pelo PoSAT-1 eram também enviados para a UBI, dando à Universidade a oportunidade de adquirir conhecimentos que permitiram desenvolver estudos sobre a análise dos raios cósmicos e posicionamento do satélite, perante a visualização das estrelas.
Para Francisco Brójo, atual presidente do Departamento de Ciências Aeroespaciais (DCA), “a participação da UBI na criação do PoSAT-1 foi muito importante para a consolidação do Departamento no meio aeronáutico”. O DCA foi criado em 1992, o que quer dizer que, apenas um ano depois, já tinha posição para participar num projeto desta envergadura”, salienta. Uma experiência que colocou a UBI no panorama do ensino e investigação nesta área, sendo ainda hoje a única Universidade pública nacional com o curso de Licenciatura em Engenharia Aeronáutica.
O PoSAT-1 foi lançado no voo 59 do foguetão europeu Ariane 4, a partir do Centro Espacial de Kourou (Guiana Francesa), com a presença do então Reitor da UBI, Cândido Passos Morgado. O satélite foi enviado numa missão juntamente com outros seis, de diversos países. Com uma esperança de sete anos de vida útil e a cerca de 790 kms de altitude, realizava órbitas terrestres de 95 minutos, um total de 14 por dia.
Fernando Carvalho Rodrigues, que lecionou na UBI na área da Física e é doutor “Honoris Causa” por esta instituição, é considerado o “pai” do satélite português. Em entrevista à Agência Lusa, o coordenador do projeto referiu que o lançamento representou “um momento em que Portugal tinha soberania no espaço, porque fazia, por exemplo, as comunicações, incluindo ‘e-mails’, das nossas Forças Armadas nas (missões das) Nações Unidas por todo o mundo”. O PoSAT-1, considerou, foi como um projeto de aprendizagem sobre “como fazer e operar satélites”.
O satélite esteve operacional até 2006, ano em que se realizou a última comunicação com o Centro de Satélites de Sintra. Encontra-se atualmente à deriva numa órbita descendente, até se desintegrar na atmosfera terrestre. Prevê-se que esta morte física aconteça em 2043.
Com um custo total de 5 milhões de euros, o PoSAT-1 foi 70% financiado pelo Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa (PEDIP), do Ministério da Indústria, e os restantes 30% pelos membros do consórcio composto pela UBI, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI), Efacec, Alcatel, Marconi, OGMA e Cedintec.