O orçamento da cidade da Covilhã acabou de ser aprovado. São 64 Milhões de euros, há eleitoralismo, como diz a oposição?
José Miguel Oliveira: Não, não há eleitoralismo, efetivamente tendo em conta as obras que, devido ao calendário da sua própria execução e da sua complexidade, tiveram que cair neste orçamento. Aliás, nós, durante este mandato começámos a fazer obras e ainda recentemente inauguramos obras nas freguesias e também aqui na nossa cidade e, portanto, não há, ao fim ao cabo, eleitoralismo. Aquilo que existe são as circunstâncias. Hoje em dia, o cidadão comum não tem uma ideia clara daquilo que implica uma obra. Desde o momento em que se decide ou se ou se pensa em fazer uma obra até à sua execução, se as coisas correrem bem, estaremos sempre a falar de um ano e meio, dois anos, tudo leva o seu tempo, portanto, é normal que a oposição diga que que haja eleitoralismo, mas a verdade é que não é o caso.
São 6 Milhões a mais do que 2024, porque é que não foi possível ir mais longe?
JMO:Existe um princípio do equilíbrio orçamental e o orçamento da Câmara é construído com base nas receitas previstas. Temos um conjunto de receitas consignadas, do ponto de vista daquilo que são as transferências do Estado, os impostos municipais, mas também temos receitas provenientes de fundos comunitários e essas acabam por efetivamente entrar neste cômputo de receitas do município. Um orçamento de 64 milhões é um bom orçamento para o município da Covilhã e é um orçamento, acima de tudo, realista. Nós temos que olhar para aquilo que têm sido as taxas de execução anuais do nosso município e nós temos tido sempre taxas de execução acima dos 80%, o que mostra que, efetivamente, aquilo que nós nos propomos a fazer, fazemos. Portanto, isso é que é importante referir.
Para a cultura e o desporto, as verbas destinadas são suficientes ou possíveis?
JMO: Isso é uma pergunta complicada porque para vereador do desporto as verbas nunca são suficientes. Se me perguntarem, eu gostava de ter muito mais verbas para fazer mais investimentos. Nós temos uma lacuna muito grande a nível de infraestruturas desportivas, que ainda não conseguimos colmatar com o pavilhão do INATEL e, portanto, há todo um conjunto de infraestruturas, que são investimentos pesados, que necessitam de ser intervencionadas e eu gostava que o orçamento contemplasse mais verbas para o desporto. Agora, o exercício orçamental, o exercício da governança é efetivamente fazer opções entre aquilo que se acredita que é da vontade da maioria dos cidadãos da Covilhã, mas também priorizar dentro daquilo que são as necessidades. Repare que existem muitas necessidades no município e o exercício governativo passa por priorizar aquilo que são os legítimos anseios dos cidadãos.
E qual a importância do desporto e da cultura numa cidade como a Covilhã? É o diferencial para a qualidade de vida?
JMO: Eu acho que é fundamental e eu acho que tem estado a crescer. Mas, na minha opinião, volto aqui a referir isto, acho que nos está a faltar a vivência de cidade, ou seja, as tais infraestruturas desportivas, o espaço urbano de fruição para as pessoas. Porque na hora da verdade, o cidadão olha efetivamente para a questão do emprego, para a questão da economia, mas depois nos outros momentos, em que queremos estar com os filhos, queremos estar com a família e queremos ir andar, o espaço público de uma cidade e a forma como ela é gerida e cuidada, é fundamental. E eu acho que nós necessitávamos de ter mais espaços de desporto informal, mais um campo de basquete três por três, um pádel, umas máquinas, um corredor verde. Ou seja, de maneira que conseguíssemos dar a quem cá mora mais equipamento e mais espaço público.
E o desporto também pode ser algo que aumenta a qualidade da saúde, se as pessoas tiverem mais acesso.
JMO: O desporto é claramente a melhor forma de promover saúde. Um professor de renome a nível nacional dizia que nós estamos direcionados para o investimento no combate à doença, não é? No hospital, nas farmacêuticas, nos comprimidos e esquecemos o investimento da promoção da saúde. A Câmara Municipal da Covilhã tem feito um papel, apesar destas dificuldades das infraestruturas, muito importante no desenvolvimento de programas desportivos para os cidadãos. Há um caso de um cidadão nosso que tinha dificuldades imensas em conseguir controlar os níveis de diabetes, de açúcar, e tinha sempre crises e ia diversas vezes ao hospital. Desde que entrou no programa do diabetes em movimento, faz desporto três vezes por semana, acabou por nunca mais ter esse problema. A verdade é que o desporto tem que ser efetivamente visto como uma forma de promoção da saúde.
A Covilhã, nesse último verão, foi palco de vários eventos diferentes, desde o Dia das Crianças, a Feira de Santiago, Concertos a céu aberto, a Festa da Cherovia, eventos para todas as idades. Quanto disso tem mão sua? E que efeitos acha que isso pode ter para a cidade?
JMO: Nós somos uma equipa e como eu costumo dize, “isto quando corre bem, corre bem para todos, quando corre mal, também corre mal para todos”. Portanto, não há aqui mão minha.
Se olharmos para aquilo que era o calendário de eventos da Covilhã, há 10, 12 anos, agora não há comparação possível. Nós passamos a ter festas e feiras nas freguesias, começamos a ter muitos festivais temáticos associados a produtos. Mas acima de tudo, aquilo que nós notamos de ano para ano a nível destes eventos é que eles têm sempre estado a crescer em termos de qualidade e isso é um denominador comum e é muito importante olharmos para estes eventos, porque uma cidade também é isso, uma comunidade também é isso, não é só crescimento económico, não é só crescimento populacional, mas são também estes momentos de confraternização e cultura, onde efetivamente vêm pessoas de todo o lado. Também é possível no interior do país fazer bons eventos que conseguem captar muita gente e com qualidade e com segurança, que é isso nós pretendemos.
Sendo assim, compreende as críticas de que a Covilhã tem menos cultura do que os municípios ao redor?
JMO: Não, não compreendo. Em primeiro lugar, eu acho que nós temos que deixar de olhar para os municípios à nossa volta como concorrência. Não há concorrência com o município, que está a 16 km. A pessoa que está no Fundão vem à Covilhã. Não há concorrência, tem que haver complementaridade, tem que haver oferta, tem que haver diversificação e esta ideia de que há uma concorrência, isso é uma ideia que eu acho que faz parte de há 15, 20 anos. Portanto, eu fico contente quando os municípios à nossa volta tenham programação de qualidade diferente da nossa, que possam levar covilhanenses a ir ver essa cultura e esses espetáculos, da mesma maneira que tenho a certeza absoluta de que muitos também vêm ao nosso teatro, aos nossos eventos, poder assistir a essa cultura. Sim, um concelho é demasiado pequeno para olhar para si e temos que cada vez mais olhar numa lógica de região.
O acesso à cultura e principalmente da sua parte, o desporto, pode ser um diferencial que mantém ou atrai mais jovens para o interior?
JMO: A questão da atratividade dos jovens é uma questão complexa. Aliás, nós temos conseguido inverter um pouco essa curva demográfica, mas se olharmos para os censos de 2021, a Covilhã perdeu, efetivamente, um número muito significativo de população. Sobre a questão do desporto e a questão da cultura como forma de fixação deste tipo de população, nós sabemos que temos melhor qualidade de vida, mas temos que lhes dar infraestrutura. Apesar de termos na Universidade da Beira Interior investigação de natação a nível do melhor do que se faz na Europa, é muito difícil trazer desportistas ou equipas de natação, se não tivermos uma piscina olímpica que possa dar resposta às necessidades de treino e às necessidades de investigação. No caso do desporto, nós precisamos de investir primeiro em infraestrutura para depois podermos almejar, conseguir cativar pelo desporto e apenas pelo desporto, trazer jovens.
Foi estudar para Lisboa, fez o mestrado lá, e decidiu retornar à Covilhã e trazer a sua experiência para cá. Porque voltou?
JMO: Eu quando fui tirar o mestrado para Lisboa, já foi com o intuito de me aperfeiçoar numa área onde já trabalhava aqui no interior e, portanto, para mim não foi propriamente um regresso, digamos assim, foi ir a Lisboa aprender com os melhores para poder aplicar esse conhecimento no interior do país, onde sempre quis fazer vida e há coisas que há coisas que não se explicam. Mas eu acho que desde muito cedo senti a vontade de contribuir e de ajudar a minha terra, de ajudar a minha região a desenvolver-se e foi um pouco essa a razão pela qual estou por aqui. Se me tivessem perguntado há 20 anos se algum dia eu seria vereador da Câmara da Covilhã, não era. Agora sempre esteve na minha ideia contribuir para o desenvolvimento da terra que me viu nascer e da região que me acolheu. E nem é pela questão do vencimento, acho que o vencimento espiritual, digamos assim, o retorno em irmos resolvendo os problemas das pessoas, para mim, é extremamente gratificante.
2025 traz autárquicas e que objetivos deixa por cumprir?
JMO: Infelizmente deixo alguns. Eu gostava imenso de termos dado pontapé de saída ou termos conseguido recuperar a nível de infraestruturas, o campo número 2 do complexo, a pista de tartan. É fundamental investirmos em infraestruturas, uma nova piscina para a cidade da Covilhã, acho que é também imprescindível uma piscina que vai ao encontro das necessidades de uma cidade universitária, com investigação na área da saúde. Um pavilhão multiusos, acho que a nossa cidade precisava de um pavilhão que pudesse albergar grandes eventos nacionais. Portanto ainda há aqui a noção de que muito se fez e se está a fazer, mas o trabalho autárquico é um trabalho inacabado e ninguém pode pensar que vem para uma autarquia e que vai fazer tudo aquilo o que quer fazer.
Olhando para trás no seu mandato, o que mudaria?
JMO: A verdade é que eu gostaria que, efetivamente, tivesse havido mais investimento na área na área do desporto. Não se conseguiu, efetivamente, o caminho acabou por não ser esse o escolhido e, talvez, a única questão que fica é, teria talvez forçado um bocadinho mais essa situação. Eu não sei se conseguiria fazer ou não, mas de resto, arrependimento, eu acho que é uma palavra muito forte, digamos assim, para quem todos os dias dá o máximo que tem em prol dos outros.
Ainda não sabemos quem vai ser o próximo candidato do PS às autárquicas na Covilhã. O senhor pretende candidatar-se?
JMO: Eu sou militante do Partido Socialista, por princípio, por convicção. E se o Partido Socialista me escolher, eu estou obviamente disponível para continuar esse testemunho. Acho que a experiência que adquiri ao longo dos anos como vereador, como chefe de gabinete, trabalhando com o Presidente da Câmara, muitos e vários assuntos, me conferem hoje essa possibilidade, ou seja, de me poder apresentar aos meus camaradas e dizer que estou disponível para continuar este testemunho, assim vocês o queiram e assim vocês escolham.
Então o partido ainda não decidiu quem vai ser o representante?
JMO: O partido ainda não decidiu quem é que vai ser o representante, portanto, vamos ver.
E o seu futuro político, como é que fica?
JMO: Eu olho para a política com muita serenidade. Volto a dizer que o que me motiva é resolver o problema das pessoas e, portanto, a verdade é que, hoje em dia, há várias formas de se resolver problemas das pessoas e eu tenho todo o gosto e toda a vontade em continuar, obviamente, eu não minto relativamente a esse a esse respeito. Mas se eventualmente não houver essa possibilidade, e se os cidadãos escolherem de forma, eu cá estarei para poder dar o meu contributo de outras maneiras, eventualmente numa coletividade, numa numa associação, noutro projeto, porque não? Apresento-me quer aos meus camaradas, quer aos meus concidadãos, se tiver essa oportunidade, mas com a serenidade de que as coisas têm o seu peso relativo.