“Elas ao som da Fábrica – O Des(fio)” que não esquece as memórias operárias

Entre o silêncio das máquinas, que hoje já não trabalham, e a pedra fria que outrora foi uma fábrica, as memórias das operárias da Covilhã voltaram a ganhar vida e cor. Mais do que uma simples evocação histórica, a 7ª edição do “Elas ao som da Fábrica” transformou-se numa homenagem vibrante, onde a dureza do passado operário se converteu em sensibilidade artística para não deixar esquecer quem durante décadas, foi a alma daquelas paredes.

A iniciativa, que decorreu na passada terça-feira, 9 de dezembro, no Museu dos Lanifícios (MUSLAN), foi promovida pelos finalistas da Licenciatura em Ciências da Cultura da UBI. O evento popôs um percurso multidisciplinar desenhado para recuperar o património imaterial da região, fruto de um trabalho de proximidade e de diálogos com ex-trabalhadoras, cujos testemunhos reais serviram de base para toda a criação apresentada.

O programa desenhou-se como um itinerário imersivo que cruzou diversas expressões artísticas para narrar a vida na fábrica. Numa viagem contínua, o público foi conduzido desde a projeção de uma curta-metragem sobre a evolução do trabalho feminino e uma exposição cronológica da identidade serrana, até à interpretação física da dura rotina operária através de momentos de teatro silencioso e dança contemporânea. A recriação histórica culminou num desfile de vestuário da época, recuperando a indumentária usada nas décadas de 1960 a 1990, antes de encerrar com o momento simbólico “Vozes do Tear”.

Sónia de Sá, docente responsável pela iniciativa, não escondeu o orgulho no empenho dos seus alunos, sublinhando que o objetivo central ter sido cumprido de “valorizar a memória das mulheres operárias aqui desta região e retribuir-lhes”, foi plenamente alcançado.

Contudo, Sónia refletiu no que ainda falta fazer na atualidade, relembrando que e persistem situações de “grande desigualdade”, desde o desequilíbrio de género às dificuldades de acesso à habitação, saúde e educação. “É preciso estarmos sempre atentas e sempre inquietas, ainda que isso nos possa trazer cansaço, muito cansaço, especialmente nesta altura”, alertou a docente.

Apoiado pela UBI, pela CooLabora e pela Comissão para a Igualdade da UBI, o “Elas ao Som da Fábrica” reafirma-se como um elo essencial entre gerações, garantindo que o som da fábrica pode ter mudado, mas a importância de quem lá trabalhou permanece intacta.

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