Nos anos 50, em plena ditadura, a vila de Glória, em Santarém, tornou-se o epicentro da Radio Free Europe, que emitia para a Europa de Leste, do outro lado da cortina de ferro, então sob o domínio da União Soviética. Vítor Madaíl falou sobre a história da RARET (Rádio de retransmissão) e da sua influência no Ribatejo e na Europa de Leste , na passada quinta-feira, durante o conjunto de palestras “A dimensão Transatlântica da Política externa Portuguesa”, organizadas pela FCSH na UBI.
Durante a apresentação, Vítor Madail Herdeiro, autor do livro “Raret: A Guerra Fria combatida a partir da charneca ribatejana”, falou sobre a importância desta plataforma de transmissão. “Para a Europa e para os americanos, era um farol para a propaganda anticomunista que a CIA queria emitir para o outro lado do mundo livre; mas para Portugal, especificamente para os habitantes de Glória, era uma importante fonte de rendimento, muito acima daquilo que os agricultores e operários locais recebiam, assim como uma fonte de desenvolvimento local, através da construção de instalações médicas cruciais, que garantiram o nascimento de mais de 200 crianças que receberam educação graças à construção de instalações escolares por parte da RARET”, explica.
Durante a Guerra Fria, também os Açores sofreram influência americana, como explicou Tomé Ribeiro Gomes. Devido à sua localização estrategicamente importante e com o termo da Segunda Guerra Mundial, através da libertação de Timor Leste e da pressão americana, a ilha Terceira recebeu um contingente americano que expandiu a sua presença e influência na região. A ilha provou ser um fator importante da projeção americana, tanto naval como aérea, mas também mudou a ideia que Portugal tinha para a sua política estratégica, como elaborou o último orador, Bruno Rocha.
Portugal teve de contemplar a sua posição no palco global e decidir se o seu foco estava nas suas capacidades terrestres ou na sua influência oceânica. “Também graças à influência ocidental e após a Revolução de abril, teve de decidir se queria ser um país plataforma para a estratégia de outras potências, ou se, na verdade, também era capaz de ter essa influência”.
Esta aula aberta foi organizada no âmbito das unidades curriculares “Teoria das Relações Internacionais” e “Segurança Internacional” do curso de Ciência Política e Relações Internacionais.