Com mais de duzentas inscrições antes da abertura oficial, o programa “busca ser o mais abrangente possível”, com atividades direcionadas à formação, à motivação e à retenção dos trabalhadores nas organizações, conta Ana Almeida, coordenadora do Departamento de Inovação e Desenvolvimento da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã.
A feira reúne uma amostra ampla de empresas locais, regionais e nacionais, além de instituições de solidariedade social e conta com a intervenção de oradores especialistas no mercado de trabalho a fim de que “as pessoas residentes na Covilhã consigam arranjar emprego e melhorar as suas condições de vida” avança Ana Almeida.
Apesar de continuar a existir uma baixa taxa de desemprego em Portugal, era de 6% no início de 2023 em comunicado do governo português, “o mundo do trabalho tal como o conhecíamos mudou”, tanto na forma como é realizado, quanto na relação das pessoas com o trabalho e as organizações, aponta Isabel Barrau, diretora do Centro de Emprego da Covilhã.
Oradores e representantes das entidades presentes na “Olá Emprego!” deste ano mobilizaram seus discursos à volta de temas como a saúde mental, o marketing pessoal, a criação do próprio emprego e as novas competências comportamentais necessárias neste novo cenário laboral.
Evoluções no mercado de trabalho
Algumas das principais mudanças revelam-se três anos após a declaração de emergência de saúde pública provocada pela COVID-19. Regista-se um novo fenômeno relacionado ao valor do trabalho, segundo Isabel. “As pessoas questionam qual é o valor do trabalho e que valor tem em suas vidas” aponta a representante de uma das instituições que participou na sessão de abertura. “A conciliação entre a vida pessoal e profissional, o propósito individual, assim como a saúde mental são alguns dos aspetos para os quais as empresas não estavam preparadas” complementa.
Não por acaso, o “quiet quitting” – fenómeno que começou na China através das redes sociais – foi o primeiro tema debatido nos quatro painéis formativos da feira “Olá Emprego!”. Silvia Ferreira, quadro da Adecco RH, discutiu o porquê deste fenómeno e suas consequências no painel “Quiet Quitting. Equilibrar a vida profissional com a vida profissional”.
Outras mudanças atravessam as gerações de portugueses que entraram para o mercado de trabalho através da conquista de diplomas universitários e com a expectativa de estabilidade em carreiras profissionais longevas. Com a procura e a concorrência a aumentar, “ter uma licenciatura ou um curso de formação especializado já não é suficiente”, sugere António Freire, diretor da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã.
Os estudantes “saem com as competências técnicas e faltam-lhes muitas vezes outras competências” afirma a vice-reitora para o Ensino, Assuntos Académicos e Empregabilidade da UBI, Helena Alves. A UBI esteve presente na feira “Olá Emprego!” no sentido de aproximar-se a empresas, associações, organismos do seu ecossistema. “É isso que vai nos fortalecer e dar capacidade de nos projetar e sermos competitivos”.
A UBI oferece aos estudantes um laboratório de competências transversais, onde há cursos e formações sobre competências para a empregabilidade, para o trabalho em equipa, para a comunicação com os outros e para saber estar em sociedade.
O painel III “Organizações de economia social. Que desafios?” foi voltado para as organizações de economia social. “O público esperado são as pessoas que querem ir trabalhar para as organizações sociais, para que elas percebam que trabalhar nessas instituições é diferente. Estamos a cuidar de outras pessoas “, expõe Ana Almeida, uma das organizadoras da feira.
Os setores com mais dificuldade na contratação são as Instituições Particulares de Solidariedade Social e a Restauração. “Atualmente, são os setores com mais dificuldade em contratar pessoas que tenham competências para as funções de cuidado com idosos acamados. Na restauração, o grande entrave são os ordenados praticados e os horários de funcionamento”, revela Vitória Peneda, da Associação Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor (AECBP).
A feira de emprego apresentou o exemplo do empreendedor António Parente JR, dono da marca de roupa Sublime no painel “Criação do próprio emprego: incentivos e casos de sucesso”. O painel II direcionou-se a quem quer fundar uma empresa, mostrando “onde se deve dirigir, quais são os recursos que estão abertos e que têm disponíveis em termos financeiros, e quais os contactos e as entidades que podem ajudar de forma gratuita a criar o próprio emprego” aponta Ana Almeida.
Também contou com a presença da Joana Saavedra, Cofundadora e Desenvolvimento de Negócios da Bambu Bicycles, no painel IV “ Estou à procura de emprego. E agora?”. O público que deseja trabalhar por conta de outrem recebeu orientações sobre “como se apresentar em uma entrevista e como fazer o CV”, exemplifica a coordenadora do Departamento de Inovação e Desenvolvimento da Santa Casa da Misericórdia.
“O emprego é uma área com uma dimensão social evidente e fundamental” para o município da Covilhã, afirma a Vereadora do Município, Regina Gouveia.
As ofertas de emprego estão assentes no mercado industrial, como adianta a Beatriz Martins, do departamento de comunicação da Mepisurfaces, empresa especialista no fabrico de artigos metálicos com sede em Tortosendo.
“Tivemos grande afluência para deixar os currículos connosco. Eu achei muito interessante que não foram só pessoas portuguesas, foi de todo o mundo mesmo.”
Na perspetiva de empresas à procura de mão de obra, a gerente do laboratório InfraLab, sediada no Parkurbis da Covilhã, ingressou na feira “Olá Emprego!” para contribuir com as entidades realizadoras do evento, além de ofertar vagas.
A empresa, que atua principalmente no estrangeiro, recebeu muitos candidatos interessados em seu stand. “De momento, preciso mais de técnicos de laboratório para fazer ensaios e testes em obras no exterior”, diz a gerente Elisabete Serrano. A companhia concede formação interna intensiva com certificado como “uma maneira de dar a volta à escassez de mão de obra especializada”.