“No mesmo espaço, o mesmo coração”

Hiroshi Hino e Nobue Hayashi, durante a Cerimónia do Incenso
Contingente nipónico visitou a Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior, no âmbito do programa Erasmus+ International Credit Mobility.

Em celebração dos laços históricos e culturais Portugal/Japão, a Faculdade de Artes e Letras (FAL) da UBI recebeu, nos passados dias 18 e 19 de julho, um pouco da cultura japonesa. Numa iniciativa dinamizada pelo Departamento de Letras da FAL, no âmbito do programa Erasmus+ International Credit Mobility, os docentes da Universidade Ryutsu Keizai, Hiroshi Hino e Atsunori Nakahara, e Nobue Hayashi, do Tokyo Metropolitan Art Museum, trouxeram à UBI um pouco daquilo que são os hábitos e costumes daquele país asiático.

No primeiro dia, Hiroshi Hino conduziu uma palestra intitulada “A influência dos missionários jesuítas na história, cultura, religião, mentalidade, língua, usos e costumes japoneses”.
Sob o tema “Toki no Ajiwai” (“O apelo do tempo”), o segundo dia da visita contemplou uma demonstração de artes de refinamento japonesas: a Cerimónia do Incenso e a Cerimónia do Chá, onde participaram cerca de 20 convidados, entre docentes e funcionários da FAL.

Feita da mesma forma há 400 anos, a Cerimónia do Incenso recorre a madeiras naturalmente perfumadas e colhidas no início do verão. Esta cerimónia teve por base um jogo onde os presentes foram convidados a convocar os sentidos, nomeadamente o olfato, para distinguir três odores resultantes da queima de três incensos.

“A importância dessa cerimónia é que está ligada à literatura e este tema é sobre o tempo e a relevância do tempo”, explica Nobue Hayashi, assistente do docente (e escultor) Atsunori Nakahara, e que procedeu à queima dos incensos. “Achamos que a cultura europeia do odor também é muito profunda e queremos que comparem estes dois diferentes tipos de culturas”, sublinha.

 

 

Seguiu-se a Cerimónia do Chá, também ela revestida de um ritual muito próprio, que passa por se fazer o chá (com pó de erva-mate) no momento, servir-se, agradecer a todos quantos possibilitaram a experiência – desde o agricultor que plantou a erva, passando por quem a transportou, quem fez o chá ou quem o serviu -, para depois o degustar, partilhando-o. Esta partilha é sintetizada num pensamento japonês: “no mesmo espaço, o mesmo coração”. “Trata-se de uma demonstração das artes de refinamento, que é algo muito particular”, explica Ana Rita Carrilho, presidente do Departamento de Letras.

 

 

“É o apreço da cultura nipónica pelo tempo. Tudo leva tempo. Até servir uma simples chávena de chá leva tempo. Todos nós vivemos numa correria constante e muitas vezes esquecemo-nos que para ir do ponto A ao ponto B é necessário tempo e não nos damos esse tempo a nós próprios e, muito menos, ao outro”, lembra a docente. Através desta, os convidados tiveram a “oportunidade de fazer uma pausa e refletir um pouco sobre o que significa o tempo e como despendemos o tempo. Sendo este um dos vários pilares da cultura nipónica, pareceu-nos – ao Departamento de Letras – interessante trazer esta experiência, também numa altura em que vamos entrar de férias, em que vamos valorizar e apreciar tempo. Mas também é importante fazermos uma reflexão sobre o tempo e a forma como despendemos o nosso tempo”, considera a docente da FAL.

Quanto à visita do contingente nipónico, “trata-se de um intercâmbio entre a universidade japonesa de Ryutsu Keizai e a UBI, que já data da década de 90. Em 2007 o Departamento de Letras estreitou as relações com esta universidade e, sobretudo, com o professor Hiroshi Hino, uma vez que ele também é docente das áreas da Cultura Portuguesa no Japão”, explica a presidente do Departamento de Letras. “Desde dessa data, temos vindo a trabalhar em colaboração, com a vinda de estudantes japoneses aos cursos intensivos de Português – língua estrangeira, que se realizaram durante mais de uma década nesta casa. E agora, de outra forma, com colaborações científicas, seminários – que é o caso deste -, aproveitando a International Credit Mobility (ICM), podemos ouvir especialistas sobre estas relações culturais e até linguísticas Portugal – Japão”.

“No mesmo espaço, o mesmo coração”, em japonês.

Uma ligação enaltecida, de resto, por Hiroshi Hino, que aproveita para lembrar o papel importante da docente da FAL, “que fez muitíssimas coisas de forma gentil e generosa para os nossos alunos”, assegura. “Tenho acompanhado os estudos dos nossos alunos desde 2008 e costumo vir à Covilhã, aproveitando o clima agradável daqui e fugindo ao clima desagradável do Japão”, refere o docente japonês. “Agora, graças ao intercâmbio cultural, baseado no programa Erasmus+ International Credit Mobility, foram dois pesquisadores da UBI ao Japão nas áreas de Comunicação e Desporto, o professor João Canavilhas e a professora Dulce Esteves. Agora temos este grande privilégio de participar no mesmo programa, no contexto do intercâmbio. Fico muito contente por podermos participar e levar a cabo uma atividade cultural, através da apresentação de algumas formas muito requintadas da nossa cultura”, remata.

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