A “justa homenagem” a Manuel Santos Silva

“Geografia dos Afetos: da Cidade Fábrica à Cidade Universitária” foi o tema escolhido por Manuel Santos Silva para a sua última aula, numa cerimónia que decorreu no sábado, 27 de maio, e que marcou a jubilação do reitor da UBI entre 1996 e 2009.

Depois de 46 anos dedicados à universidade, Manuel dos Santos Silva proferiu no último sábado, “extremamente emocionado” – revelou – a sua “última lição”. Esta derradeira aula foi dedicada, ao contrário do habitual nestas ocasiões, ao percurso de vida daquele que foi o reitor da UBI entre os anos de 1996 a 2009.

“A minha vida, julgo, foi em grande parte caraterizada por querer fazer algo com sentido, por isso, tal como qualquer ser humano, sonhei, pensei, planeei, construi e nessa travessia orgulho-me da construção de um caminho onde a nossa comunidade hoje se reconhece”, começou por referir Santos Silva, na aula que teve lugar no Auditório das Sessões Solenes.

Numa vida que considera ter-se caracterizado por “querer fazer”, o discurso do catedrático jubilado pela UBI versou sobre a instituição e sobre a cidade. “Havia uma Covilhã antes e outra depois”. Quanto à UBI, “a instituição afirmou-se pela qualidade e diferença, começou a ser mais procurada, a medicina tornou-a uma nova universidade. Havia uma Covilhã antes do Instituto Politécnico, outra depois do Instituto Universitário. Havia uma Covilhã antes da medicina, outra depois”, sublinhou.

“Ao longo do caminho todo o ser humano vai construindo o seu casulo, a sua casa, na minha moro eu, a minha família e todos os que me são queridos e nela mora também a UBI porque ela faz parte da minha geografia dos afetos, porque a UBI faz parte de mim”, rematou. “Termino na crença de que todo o ser humano transporta consigo a sua história”.

Esta foi, de resto, “uma justa homenagem”, considerou o atual reitor da instituição. Mário Raposo lembrou que esta foi uma homenagem “ao homem, ao professor e ao reitor, um verdadeiro servidor da causa pública”, que considera ter sido “um obreiro da construção da nossa UBI”. “Manuel Santos Silva não confinou o seu trabalho ao departamento pois foi desde o início um obreiro da construção da nossa UBI e, já no decurso do seu reitorado, foi o maior defensor e maior lutador pela Faculdade de Ciências da Saúde e do seu curso de medicina”, acrescentou. O reitor da UBI lembrou, também, que Santos Silva “foi universitário, foi o professor e foi o reitor que assumiu ativamente os processos de desenvolvimento da universidade e que contribuiu para definir o caminho de afirmação progressiva da instituição”. Por outro lado, “soube combinar erudição com cordialidade e rigor com proximidade”.

Presente na cerimónia, o presidente da Faculdade de Engenharia da UBI também a ocasião para agradecer o “legado” e “tudo o que deu à universidade”, sublinhando “a dedicação, o espírito edificante e a ousadia em arriscar”. Mário Freire agradeceu àquele que foi o primeiro presidente da Faculdade de Engenharia da UBI “pela enorme dedicação que sempre demonstrou em tudo o que fez na construção e afirmação da UBI a nível nacional e internacional. Pelo espírito edificante, pela ousadia em arriscar, pela aposta em jovens licenciados e mestres para se formarem como doutores, pelo acarinhamento aos funcionários, pelo acolhimento aos estudantes e pela expressão elegante e humanista com que se dirigia a todos”, referiu comovido. “Valeu a pena, professor”.

No final da cerimónia, o reitor da UBI entregou a Manuela Santos Silva uma placa de agradecimento à dedicação e espírito visionário do antigo reitor. Santos Silva foi ainda homenageado pela Associação Académica e pela Associação de Antigos Alunos da UBI.

Manuel José dos Santos Silva

Professor Catedrático Jubilado, Manuel dos Santos Silva foi um dos fundadores da unidade de investigação MTP, nos anos 80, e, posteriormente, da FibEnTech, em 2013, tendo desempenhado cargos de coordenação e de investigador em ambas as unidades de investigação por mais de 20 anos. Como Reitor, desenvolveu as Faculdades de Engenharia e de Ciências Sociais e Humanas e criou as Faculdades de Artes e Letras e de Ciências da Saúde.

Foi o responsável pela implantação, crescimento e afirmação da investigação em materiais fibrosos, têxteis e celulósicos, em Portugal, e criou unidades de investigação que tiveram projeção internacional. Publicou dezenas de trabalhos técnico-científicos e orientou diversas teses de doutoramento e dissertações de mestrado. Detém diversas patentes de equipamento de controlo de qualidade baseado na aplicação de lasers aos Têxteis e construiu protótipos como o “Paralelitex” e o “Pilositex”. Desenvolveu trabalhos de investigação com base em técnicas de processamento de imagem e, mais recentemente, no domínio dos Têxteis inteligentes.

Foram-lhe atribuídos os prémios científicos Gulbenkian de Ciência e Tecnologia (1981) e da Boa Esperança (1989). Em 1999 foi nomeado “Officier dans l’Ordre des Palmes Académiques” pela República Francesa. Foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, pelo Presidente da República Portuguesa, em 10 de junho de 2011. Em 1999 recebeu o troféu “Gazeta 98” na área da Educação e, em 2009, o Troféu D. Dinis, nas áreas da Educação e Ciência, atribuído pelo Diário das Beiras. A Ordem dos Engenheiros atribuiu-lhe o Prémio Conselho Diretivo da Região Centro, em 26 de maio de 2012.

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