No dia 05 de junho, a Mutualista Covilhanense recebe na Casa Moura os primeiros acolhidos pela nova valência de Estrutura de Acolhimento Temporário (EAT). O primeiro grupo a chegar já estava em Portugal e foi encaminhado pelo Instituto de Segurança Social. A maioria deles são estudantes que vieram da Ucrânia logo que a guerra começou.
O edifício está localizado na avenida de Santarém, onde se encontra o Balcão de Apoio ao Migrante da Mutualista e que até dezembro de 2022 foi uma Casa de Acolhimento para Crianças e Jovens Estrangeiros Não Acompanhados.
A mudança na valência do espaço surgiu da necessidade sinalizada pelo Instituto de Segurança Social de acolher os refugiados da guerra na Ucrânia, mas também atende vítimas de tráfico humano. O primeiro grupo a chegar era composto por 18 pessoas, a que se somaram outras seis poucos dias depois.
O público atendido hoje na Casa Moura possui um perfil diferente dos estrangeiros acolhidos anteriormente. De acordo com Paula Pio, coordenadora do Departamento de Inovação Social e das Migrações da Mutualista Covilhanense, os refugiados da Ucrânia possuem “percursos de vida mais ou menos orientados” e, por isso, o objetivo da nova estrutura da Casa Moura é “facilitar o caminho” dos recém-chegados.
A rotina dos estudantes “permanece em assistir às aulas, mesmo com a mochila às costas e em deslocamento”, facto que surpreende a coordenadora e motivou adaptações que não estavam previstas no edifício. “Neste momento, sentimos a necessidade de criar espaços para aqueles que trabalham online e uma sala de estudo para aqueles que estão a acompanhar as aulas online.”
Entre os estudantes, há aqueles que estudam Medicina e Medicina Dentária na Ucrânia. Apesar da situação de conflito que o país vivencia, as aulas continuam de forma remota. A instituição, por sua vez, busca proporcionar “um ambiente favorável para os estudos” e “envolver a universidade e tentar que eles possam estar integrados em algum ambiente mais académico”.
Entre os refugiados da guerra, convivem também pessoas resgatadas de redes de tráfico humano. Estes possuem necessidades diferentes dos estudantes, revela Paula Pio, “estamos a fazer o balanço de competências e do currículo deles para encontrar possíveis saídas profissionais para essas pessoas através do WorkLab.”
Apesar de abrigar públicos com histórias e trajetórias diferentes, “há um sentimento de partilha da casa” na convivência entre eles, assinala a coordenadora. “Há bastante respeito e isto é compensador para quem está a trabalhar com estes refugiados”.
A Casa Moura oferece uma resposta integrada aos migrantes, seja aos que estão na Estrutura de Acolhimento Temporário ou àqueles que chegam à Covilhã de forma autónoma. Segundo os dados do censo de 2021, havia na Covilhã 1163 estrangeiros legalizados. “Eu arrisco a dizer que isto deve ser cinco vezes mais, pois aqui estão excluídas todas as pessoas que estão em processo de legalização e que não estão legalizadas”, Paula Pio afirma com confiança acreditar que os números estejam “muito aquém daquilo que é a realidade”. Segundo a coordenadora, o Balcão de Migrantes atendeu “muito mais do que esses 1163 nos últimos anos”.