Há sempre algo a mudar: O problema
O pontapé de saída para a criação da associação, surgiu de um problema que partilhavam: falta de investimento e partilha cultural na Covilhã.
“Numa primeira resposta, mais fria e mais crua. Até porque é assim, não se faz uma coisa destas se cá houvesse outra e estivesse a satisfazer uma necessidade das pessoas e das comunidades. Portanto, a cisma nasce de uma falta que nós sentíamos, havia algo que faltava. Uma oferta de cultura e de muitas ideias, vontades e desejos que alguns de nós tinham” assumiu, João Ferreira, um dos fundadores da CISMA.
Alguns dos 11 membros fundadores eram músicos emergentes e não havia meios, nem local para tocar e ensaiar, é uma das situações apontadas pelo fundador que impulsionou a criação da CISMA. A ideia passou então por jovens que “queriam fazer eventos e não tinham condições”.
Acrescenta ainda que a CISMA desempenha um papel essencial na cidade, contribuindo para uma “oferta cultural mais abrangente, com mais quantidade e mais sólida”. Retificando que “não é só por causa de nós que que isso que isto é uma cidade melhor, mas acho que acho que nós contribuímos para isso”.
Fixar-se no Interior não transmite qualquer medo ou impossibilidade. Segundo João Ferreira “é um desafio mais engraçado porque há um espaço e nós vamos a preenchê-lo, agora se fosse em Lisboa ou Porto, é claro que lá há outro tipo de comunidades, porque há mais pessoas e mais gostos. E é aqui que nascem, também, novas ideias e, consequentemente, nascem novas coisas”.
O apoio financeiro fornecido pela Camara Municipal é notável aponta Diogo Fonseca, outro fundador. Considera que a grande maioria daquilo que construíram enquanto associação, a nível de espaço e instrumentos de trabalho, foi através dos apoios aos quais se candidatam.
Devagar Vai-se Longe: A fundação
A CISMA, associação cultural, nasceu em maio de 2021. Fundada por um grupo de 11 jovens UBIanos com o intuito de agregar a nível cultural a cidade, os covilhanenses e aqueles que por aqui passam. Trouxe inovação, novos projetos e criatividade a Beira Interior.
Não são únicos na difusão cultural na cidade, mas aos longo do último ano têm vindo a crescer na comunidade, tem cerca de 400 associados, dados apontados por João Ferreira. Esta explosão deve-se aos projetos singulares que tem ganho um forte espaço de destaque numa comunidade que se sentia desfalcada culturalmente.
João Ferreira é da Covilhã e esteve pela cidade até 2016. É licenciado em Filosofia, viajou pelo jornalismo, mas foi na cultura que fez o, até então, último pouso. A Cisma nasceu dele, mas foi em grupo que esta deu os primeiros passos. Junto a ele esteve Diogo Fonseca, programador de profissão, mas aficionado pela arte e as vertentes culturais presentes na cidade.
Ambos se despediram da Covilhã, não acreditando que estariam de volta. Porém, afirmam que a associação foi ponto assente para se fixarem na cidade e fazerem da mesma lar. “Eu voltei por vários motivos e um deles foi certamente a CISMA. Não foi o único, mas teve um peso forte, até porque era muito ativo no que no que se fazia aqui na CISMA” diz Diogo Fonseca.
Há outros como Diogo que viram na CISMA um motivo para ficarem na cidade, combatendo, assim, a desertificação da cidade. “Sabemos de mais pessoas que não se foram embora de cá por causa disto e mais recentemente, outro amigo nosso voltou para a Covilhã, por causa disto”, disse. Não são um número significativo, mas para o jovem tem um impacto na comunidade.
Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que entre 2011 e 2021, Portugal registou um decréscimo populacional de 2,1 %. A Covilhã, uma das cidades mais populosas da região, perdeu cerca de 5.000 residentes neste período. A contante afluência à Universidade da Beira Interior não conseguiu travar este fenómeno.
Os Tiros, Quase, Certeiros: As soluções
A CISMA é apontada como a solução para a falta de adesão do público aos eventos, visto que através dos seus projetos obteve um foco para manter as pessoas ativamente conectadas com a cultura. Resultando numa maior afluência da população em algumas das suas atividades.
Desta forma, a associação covilhanense tem alguns projetos singulares na região como o cineclube, a edição de livros, os laboratórios de fotografia e alguns workshops. Ao longo dos meses a adesão tem vindo a aumentar, na grande maioria, das atividades.
O Cineclube da CISMA, é inspirado em alguns que João Ferreira encontrou no Porto e Lisboa e pensou “porque não abrir um na Covilhã”, até porque “uma cidade sem uma oferta de cinema (não comercial) é uma cidade que perde muito”.
Todas as segundas-feiras do ano, no Centro Comercial da Covilhã, a associação apresenta filmes e, algumas, curtas-metragens de alunos da UBI escolhidas pelos colaboradores do cineclube. Este processo é realizado à base de ciclos, ou seja, cada mês escolhesse uma vertente cinematográfica. O cineclube “é uma forma de ver filmes mais comunitário, mais íntimo, mais próximo, e assim é muito simples dar uma oferta de cinema às pessoas e criar-lhes uma comunidade de cinema”.
Por sua vez, o processo da edição de livros surgiu de forma imprevista e simples. O fundador João Ferreira entrou em contacto com o escritor covilhanense, Manuel da Silva Ramos, após ler um artigo sobre o mesmo. No qual o literário pedia que uma editora “corajosa” se propusesse a reeditar o livro “Café Montalto”. Foi assim que o Manuel se tornou íntimo da associação.
Foi através desta reedição que o “livro rapidamente ganhou força e teve uma segunda vida, não é? Teve muitos leitores e está em todo em Portugal” diz, Manuel da Silva Ramos. Concluindo que a possibilidade de voltar a ter o livro nas bancas deve-se à CISMA. A associação trouxe à cidade uma nova dinâmica cultural, reforça.
A CISMA conta com, aproximadamente, 400 associados e é um “cenário que não há em muitas associações em Portugal”, completando que há uma panóplia de cidadãos que pertencem à associação, mobilizando outros locais e penetrando, todos estes projetos, nas famílias. Segundo o autor é notável a “força desta associação”.
Os Workshops são comuns na Cisma. Guilherme Nazaré, estudante de Cinema na Universidade da Beira Interior participou em dois: Workshop Quimigrafia e Workshop Colagem. Mas é só desde outubro, colaborador da associação. Já conhecia o trabalho que a CISMA desempenhava na cidade e foi isso que o levou a juntar-se.
A CISMA traz mais valias aos jovens que passam pela associação, desde o sentimento de comunidade, às oportunidades artísticas e ao autodescobrimento conta o jovem. Reforça ainda que há abertura para cada um expor a sua arte e o seu trabalho, bem como conhecer o desempenho dos outros, com o intuito de poderem evoluir a nível pessoal e profissional.
A falta de atividades culturais é suprimida pela CISMA, segundo o estudante, considera ainda que “nota-se que a cisma está a fazer algo pela cidade”.
Por fim, João e Diogo não consideram que a CISMA seja a solução, mas faz parte da solução. Visto que anseiam transformar-se numa alavanca para artistas que, de outro modo, não teriam como se estabelecer na região da Beira Interior. Os últimos projetos, são prova viva disso.
Os Calcanhares de Aquiles: As limitações
Se há soluções ou possíveis soluções, surgem também algumas limitações que podem pôr em causa o trabalho realizado ou a realizar pela CISMA.
A associação não adota táticas agressivas de marketing com o intuito de promover ou divulgar as suas atividades e eventos. Faze-o através das redes sociais e de alguns cartazes espalhados pela cidade.
No entanto, há alguns entraves para a falta de adesão por parte da comunidade. Desde a sobreposição de outros eventos, à reta final dos semestres ou até as questões meteorológicas são as limitações consideradas, apontam João Ferreira e Diogo Fonseca. O baixo nível populacional na Covilhã, também, é uma limitação.
Para além disto, alguns processos internos são falhas apontadas pelos fundadores. A falta de agilidade e praticidade provocam que alguns projetos sejam mais lentos e demorem a ser lançados.