Porque é que o Chega não abriu caminho à aprovação do Orçamento de Estado?
O Chega ofereceu-se várias vezes para viabilizar o orçamento, muito antes de discutir o OE de 2025. Já no processo de formação do governo, oferecemos uma garantia de estabilidade, formando um governo AD e Chega, mas fomos rejeitados. O governo quis negociar de forma não transparente, o que resultou numa grande deslealdade. Apesar de estarmos disponíveis para viabilizar o OE, não podíamos fazê-lo sem uma boa proposta. Estávamos a perder uma oportunidade histórica, tínhamos uma maioria para fazer tudo o que quiséssemos.
Quanto a propostas concretas, o voto favorável do Chega à proposta do PS para a eliminação das portagens nas ex-SCUTS não pode ser visto como um conluio entre PS e CHEGA?
A proposta sobre as portagens foi algo que apresentámos em 2021 e faz parte do nosso compromisso com as regiões do interior. Não votámos para condicionar o governo, mas para defender a qualidade da proposta, independentemente do partido de origem. Essa narrativa de imposição é errada, pois estamos aqui para representar as vontades dos portugueses.
Revê-se nas declarações de Pedro Pinto, que disse que o país estava na ordem se a Polícia entrasse a matar?
Achei as declarações infelizes, mas compreendo a mensagem que ele tentava passar. A polícia, muitas vezes, sente-se em desvantagem frente ao crime. O que Pedro Pinto pretendia destacar era a necessidade de defender a vida dos agentes. Eu acredito que todas as vidas são válidas e dignas, independentemente dos delitos que possamos cometer, mas concordo que a proteção dos polícias é essencial, mas as palavras poderiam ter sido formuladas de forma mais adequada.
Porquê a replicação do discurso de Javier Milei sobre ser esteticamente superior?
Gosto muito do discurso de Javier Milei, não sei se sou tão libertária quanto ele do ponto de vista económico, não sei se teria a coragem de implementar alguma das suas medidas. Acho que o Milei é dos melhores políticos do ponto de vista da identificação, o que me apaixona na política são as questões sociais e culturais. Mas, o Milei tem toda a razão quando fala em superioridade estética e isso não se traduz em beleza mas, traduz-se na cultura do belo que era algo que o bloco ocidente conseguia produzir, esta noção, este rigor, esta arte oposta ao abstracionismo, oposto ao contemporâneo, eu acho que esta noção é muito importante, a cultura do belo o facto de termos aquela mentalidade de corpo são e mente sã, isto é tudo muito importante. Portanto quando o Milei afirma que a direita é esteticamente superior tem toda a razão porque a direita apela para que nós não sejamos sedentários, que tenhamos um estilo de vida saudável, uma família saudável, mesmo que isso nem sempre aconteça porque uma pessoa de direita não está mais protegida de qualquer força superior do que uma pessoa de esquerda. Portanto, eu lamento imenso a forma como Portugal acha que era um comentário superficial quando era mais profundo. Por exemplo enquanto a direita tenta preservar o património, olhar para os nossos mosteiros, para o nosso Museu de Arte Antiga onde tem obras fantásticas mas que se estão a degradar por condições climatéricas porque chove lá dentro, aqui há a opção política do PS que, no ano passado, preferiu investir na construção de um Museu de Arte Contemporânea mas não fez nada para salvar o Museu de Arte Antiga e isto é uma questão de estética. Acredito muito no culto do belo, mas sem ser na forma como vemos nas redes sociais, não tem haver com a beleza física, tem haver com o desejo de estimar, preservar a tradição, de conservar o nosso património cultural e acredito que a direita tem mais essa preocupação do que a esquerda. É por isto que admiro o Javier Milei e republico algumas das suas ideias, nomeadamente esta da beleza e da superioridade estética.
Como analisa os comportamentos excessivos de alguns deputados no parlamento?
O nosso parlamento é relativamente calmo em comparação com outros países, como na Itália ou no Reino Unido. No entanto, não foi o Chega que introduziu a conflitualidade, basta lembrar o Jerónimo de Sousa nos anos 80 ou 90 quando dizia “cala-te facho”. Portanto o Chega não trouxe uma violência ao discurso político, já existia, mas se calhar estava menos mediatizado porque não existiam as redes sociais, porque não existia a ARTV. Cada vez que um deputado do Chega se levanta, ainda não clicou no microfone para falar e já está a ser chamado de tudo. Portanto a forma gratuita como somos tratados em debates, onde temos câmaras apontadas e ligadas para nós, mas que não filmam o resto, então de facto parecemos 50 malucos a falar para o ar e que o resto está muito calmo, o que não é verdade. O que se vê é que os eleitores do Chega estão a ser mais combativos.
Como avalia o atual cenário parlamentar em Portugal e a posição do Chega nesse contexto?
Tenho duas percepções em relação ao atual cenário político. Como alguém que está ativa na política e como jovem cidadã. Fico profundamente desiludida porque a direita não se sabe organizar nem se apresentar como alternativa. Acredito que a esquerda, ao contrário, soube construir alianças e avançar em diversas matérias. Por exemplo, a geringonça permitiu avanços significativos na autodeterminação de género que o bloco de esquerda conseguiu avançar em 2017. Há uma inabilidade da direita para apresentar soluções. No entanto, é interessante notar que o Chega, nos últimos anos, começou a contar nas decisões políticas, após períodos em que o nosso voto era dispensável.
Quais são os principais desafios da sua experiência pessoal como deputada de um partido de direita, sendo mulher e jovem?
Represento uma raridade no atual contexto, pois as mulheres tendem a votar mais à esquerda. Ao ser uma voz ativa, desejo desafiar essa narrativa e mostrar que as mulheres podem pensar diferente. Acredito que a esquerda tem traído as mulheres, procuro representar um ideal conservador que valorize as oportunidades e o potencial feminino. É importante restabelecer um discurso que não esteja apenas sob a hegemonia da esquerda.
O Chega tem mostrado uma evolução no seu eleitorado especialmente entre os jovens e em regiões antes dominadas por partidos de esquerda. Quais foram os fatores para a atração desse eleitorado?
O crescimento do Chega pode ser atribuído a várias dinâmicas interligadas. Em primeiro lugar, a figura carismática do líder André Ventura tem desempenhado um papel crucial, destacando-se como um político capaz de comunicar eficazmente e conectar-se com diferentes segmentos da população. Além disso, o partido tem se apresentado como uma alternativa à insatisfação acumulada com a governança dos últimos 50 anos, utilizando uma mensagem de rutura que ressoa especialmente entre aqueles que se sentem esquecidos pelas elites políticas.
Do ponto de vista programático, o Chega tem abordado questões como imigração, segurança e justiça, que atraem tanto eleitores de direita quanto de esquerda, agora percebendo o partido como uma resposta viável aos seus problemas. O apoio significativo entre os jovens tem sido impulsionado pelo papel ativo da juventude dentro do partido, onde são encorajados a assumir cargos e liderar iniciativas, criando um espaço onde se sentem representados.
As regiões historicamente comunistas, como o Alentejo, têm mostrado um aumento no apoio ao Chega, possivelmente devido à perceção de abandono estatal e à crescente preocupação com as questões imigratórias, que impactam diretamente essas comunidades. O Chega, dessa forma, está a posicionar-se não apenas como uma voz de protesto, mas como uma solução concreta para os desafios enfrentados pelos cidadãos.
Por fim, para consolidar o apoio dos abstencionistas, o Chega reconhece a necessidade de manter uma mensagem coerente que se distancie das políticas tradicionais do PS e PSD e, ao mesmo tempo, continue a assinalar a sua capacidade de oferecer propostas que priorizem o interesse nacional acima de quaisquer elites ou interesse partidário, promovendo um verdadeiro consenso em torno das suas ideias. Essa abrangência de temas e a conexão com diferentes estratos sociais são fundamentais para o sucesso e a singularidade do Chega no atual panorama político.
Na sua opinião, quais são os principais desafios e oportunidades que o ensino superior enfrenta atualmente em Portugal?
Do ponto de vista do financiamento, é fundamental repensar a forma como as instituições de ensino superior são sustentadas, evitando uma dependência excessiva das visões ideológicas da União Europeia que condicionam o acesso a verbas. A qualidade das infraestruturas e do alojamento também são preocupações centrais, mas o verdadeiro cerne do problema é a forma como o financiamento afeta a liberdade académica e a qualidade educativa. Adicionalmente, o atual modelo de acesso ao ensino superior pode ser visto como um entrave à democratização, sugerindo-se um sistema semelhante ao do Reino Unido, onde os estudantes obtêm apoio financeiro durante a sua formação, começando a pagar propinas apenas após a conclusão dos seus estudos e a inserção no mercado de trabalho.
O papel de partidos como o Chega é crucial na discussão sobre a adequação da oferta educativa às necessidades do mercado laboral. A criação de um equilíbrio entre a formação académica e as demandas do emprego pode evitar a desvalorização de diplomas, especialmente em áreas com escassez de profissionais, como é o caso da medicina.
Além disso, incentivar a ligação entre instituições académicas e empresas, promover estágios com crédito académico e rever o sistema de bolsas são algumas das medidas que podem facilitar a integração dos diversos estratos sociais no ensino superior. A proposta de isenção fiscal para jovens com baixos salários, bem como a necessidade de aumentar a construção de habitação acessível, surge como um passo importante para reter talentos e combater essa fuga.
Finalmente, uma reflexão sobre o impacto das políticas de financiamento na qualidade do ensino revela um sistema frequentemente aquém das expectativas, apresentando problemas de endogenia e nepotismo. A luta por um ensino superior verdadeiramente meritocrático, independente de interesses políticos, é essencial para cumprir a função de elevador social que as instituições académicas devem desempenhar. Portanto, as soluções para os desafios enfrentados pelo ensino superior em Portugal requerem um trabalho colaborativo e uma abordagem estratégica que considere as diversas dimensões socioeconómicas e académicas.
Não seria necessária uma ampla revisão constitucional para alcançar os objetivos do Chega?
Sim, é necessário rever a constituição para garantir uma verdadeira separação de poderes e uma democracia funcional. Não podemos ter instituições que se comprometam, como um tribunal constitucional nomeado por parlamentares, pois isso afeta a imparcialidade da justiça.