“Tenho muito boas lembranças da UBI”

Natural de Unhais da Serra, passados oito anos da conclusão da licenciatura, Sofia Craveiro já trabalhou quer no campo jornalístico, quer na área da comunicação estratégica. Atualmente, é jornalista no Gerador. A sua reportagem ‘’Aborto Seguro em Portugal’’ venceu a 7ª edição do Prémio de Jornalismo em Saúde na categoria de Jornalismo Digital, atribuída pela APIFARMA - Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica em parceria com o Clube de Jornalistas.

Urbi et Orbi: Recorda-se há quanto tempo decidiu que queria ser jornalista?
Sofia Craveiro: Quando tirei a licenciatura eu não queria jornalismo. A minha ideia sempre foi seguir comunicação estratégica. Portanto, todas as cadeiras de opção eu escolhi nessa vertente. Eu não gostava mesmo das cadeiras de jornalismo. Depois, fui tirar um mestrado em Branding e Design de Moda, resultado de uma parceria da UBI com o IADE, precisamente para seguir a vertente de branding e ainda trabalhei em áreas relacionadas: num showroom dedicado a esse tipo de marcas, numa agência de modelos na gerência do site, identidade de marca etc. No entanto, acabei por desistir, porque não tive grande interesse naquele que era o trabalho que estava a desenvolver, além de que tive algumas situações um bocado complicadas de assédio moral.
Quando desisti fiquei algum tempo à procura de trabalho e surgiu a oportunidade fazer um estágio profissional num jornal local na Guarda, O Interior. Eu fui, na altura um bocado contrariada, mas como estava sem opções fui, mas acabei por me interessar bastante. Percebi que era algo que gostava de fazer: de ouvir as pessoas, de destacar os problemas que elas tinham, de as fazer ouvir.

U@O: O que a levou a estudar Ciências da Comunicação na UBI?
SC:
Eu sou da região. Eu nasci em Unhais da Serra, ou seja, sou natural do concelho da Covilhã e na altura acho que esse foi o motivo que pesou mais, além de eu sempre ter conhecido a UBI e gostar muito da vida académica, o ambiente, conhecia já pessoas que tinham lá estudado. Mas, acho que o que pesou mais foi o facto de ficar na região: dava para estar mais perto de casa, para poupar algum dinheiro por não estar alojada fora.

U@O: O que mais a marcou na UBI? Que lembranças tem dos tempos de licenciatura?
SC: Eu tenho muito boas lembranças. Além da vida académica que foi muito boa, conheci muitas pessoas, muitas delas hoje em áreas bastante diferentes, mas acho que todas são unânimes quando dizem que os anos que passaram na UBI foram muito marcantes.
Depois, também tive vários professores que hoje percebo que tiveram também um papel marcante naquilo que é a minha visão das coisas e o desenvolvimento de alguns interesses. Ou seja, eu tive, por exemplo, o professor Herlander Elias, que nos deu uma cadeira de branding já nos últimos anos de licenciatura, e eu lembro-me de ele ser uma pessoa que já nessa altura estava muito alerta para as tecnologias, quando na época não se falava em tecnologia como falamos hoje. Percebia exatamente aquilo que era a tecnologia e o papel cultural e social que ela desempenhava e isso foi uma das coisas que me levou a querer seguir branding, apesar de ter abandonado. Os conceitos que o professor ensinava nas aulas eram muito importantes e hoje em dia acho que ainda são mais, porque as pessoas tendem a ver a tecnologia como uma área separada, mas a verdade é que ela está presente em tudo e tornou-se uma coisas muito cultural e muito social e o professor já nos ensinava isso na altura. Mas, tive outros professores que mesmo secalhar não tendo uma boa relação com eles na altura [risos], hoje percebo que houve muita coisa que foi determinante para mim.

U@O: Como caracteriza a progressão da sua carreira profissional até agora?
SC: Foi um percurso um pouco acidentado, como já deu para perceber. Mas, apesar disso, eu acho que até tenho tido alguma sorte. Ou seja, houve alturas que não foram muito fáceis, porque eu já estive sem trabalho durante alguns meses: quando saí do jornal local onde comecei foi devido à pandemia, pois o jornal não tinha condições económicas para manter mais uma pessoa e eu era a mais nova. Mantêm-se os jornalistas que são mais velhos, nas redações funciona muito assim.
Ainda assim, tive muita sorte, porque acho que foi o precisamente o facto de ter surgido a pandemia que me deu a oportunidade de entrar no Gerador, porque começaram-se a criar a dinâmicas de trabalho à distância e essas dinâmicas permitiram-me – como me têm permitido até hoje – com a possibilidade de residir na área onde eu cresci. Tal é particularmente importante se nós tivermos em conta a crise da habitação que existe neste momento…  Eu gosto muito de Lisboa, já lá vivi e continuo a manter uma ligação muito grande com a cidade, porque vou lá praticamente todos os meses em trabalho, mas viver lá a tempo inteiro neste momento acho que é incomportável para qualquer jovem, muito menos viver sozinha, que é uma coisa que eu consigo fazer aqui.
Apesar de tudo acho que fui tendo alguma sorte nas pessoas que conheci, nas oportunidades que tive e nos frutos que isso deu.

U@O: Que conselhos daria aos recém-licenciados da UBI em Comunicação?
SC: Eu daria um conselho que eu acho que é um bocado contraditório com conselhos que eu tive na altura. Na época, o professor João Leitão, que era professor de Economia, dizia-nos nas aulas que ‘’nunca deem o vosso trabalho de graça, porque mesmo sendo estagiários o vosso trabalho tem valor’’ e isso é verdade… Em teoria. Acho que não se chega a lado nenhum assim: eu só consegui começar no jornalismo, porque comecei a escrever artigos pro bono para plataformas e foram esses artigos que me permitiram ter alguma coisa para mostrar na hora de candidatura. Eu não estou a dizer para aceitarem condições de trabalho que sejam parecidas à escravatura, não é nada disso. Mas, se tiverem outro tipo de trabalho, num café, num restaurante, tentem não descurar isso se querem mesmo entrar na área.
Na altura, havia, por exemplo, o Espalha-Factos, que era de notícias e formado por jovens. Há muitas plataformas que aceitam artigos que servem para nós ganharmos alguma experiência e para, depois, na hora da candidatura termos alguma coisa para mostrar, porque o mais difícil é começar quando não se tem experiência, quando não se tem referências de ninguém. Mas, para se ter essas referências é preciso ter alguma coisa e eu acho que no início isso tem de partir de nós… Nem que seja algum jornal local aceitar publicar uma reportagem nossa, mesmo que não paguem.

 

Nome: Sofia Craveiro
Naturalidade: Unhais da Serra
Curso: Ciências da Comunicação
Ano de entrada na UBI: 2012
Filme preferido: ‘’Forrest Gump’’
Livros preferidos: ‘’1984’’ de George Orwell e ‘’As Intermitências da Morte’’ de José Saramago
Hobbies: Ler, sair com amigos, ir a concertos, exposições e palestras

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