“O ambiente à volta da UBI marcou-me profundamente”

Percebeu desde os tempos de secundário que era jornalista que queria ser e depois de um primeiro contacto com o mundo do jornalismo, o então curso de Comunicação Social em 1993 foi o passo seguinte. Vinte anos depois de ter percorrido os corredores da UBI, Pedro Andersson - que foi um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias, em 2001 - é responsável pela (re)conhecida rubrica “Contas-poupança” do Jornal da Noite na SIC sobre finanças pessoais, no ar há mais de uma década.

 

Urbi et Orbi: Porquê Ciências da Comunicação e porquê na UBI?

Pedro Andersson: Agora chama-se Ciências da Comunicação, mas na altura chamava-se ainda Comunicação Social. Era exatamente o que queria. O meu sonho era ser jornalista e Comunicação Social parecia-me a escolha óbvia. Essa paixão começou no secundário quando uma colega me convidou a assistir a um programa de discos pedidos na Rádio Clube da Covilhã (RCC). Numa sala ao lado, estavam algumas pessoas a escrever entusiasticamente “à maquina” (para quem não sabe era assim que se escrevia antes dos computadores) para depois irem ler as notícias ao estúdio. Pedi para escrever uma, gostei da sensação, gostaram do meu texto, e voltei nos dias seguintes. Fiquei para sempre com o bichinho da rádio. A UBI foi a minha segunda escolha (não entrei na primeira opção por uma décima), que se transformou rapidamente em primeira. O facto de morar no concelho facilitou enormemente a minha vida e olhando para trás não apenas não me prejudicou em nada. Pelo contrário, ensinou-me lições que não aprenderia noutro lado.

 

U@O: O que recorda dos tempos da UBI?

PA: Recordo a novidade de um curso de Comunicação Social no Interior, com colegas cheios de vontade de ser jornalistas vindos de todas as regiões do país. Lembro-me do companheirismo e da vida depois das aulas. Tudo fazia parte do curso: dentro e fora da Universidade. Fiz amigos para a vida. O ambiente à volta da Universidade marcou-me profundamente.

 

U@O: O que é que a UBI e a Covilhã têm de especial em relação a outros meios académicos?

PA: Creio que o facto de estar no interior e de alguma maneira fechados sobre nós próprios na cidade da Covilhã obriga quem chega a apoiar-se nos que estão à sua volta. Acabamos por criar relações fortes porque acabamos por depender mais dos outros do que talvez estivéssemos à espera. A Covilhã, embora tenha crescido muito nos últimos anos, continua a ser uma cidade comparativamente pequena, mas cheia de recantos e encantos para quem a quiser descobrir.

 

U@O: Como tem acompanhado a evolução da UBI e da Covilhã desde os seus tempos de estudante até aos dias de hoje?

PA: Fico muito feliz porque vejo a cidade a crescer. A Universidade transformou-se no motor da cidade e da região e isso para mim é muito positivo porque, como cresci no concelho, sei bem as dificuldades que surgiram com a falência do setor têxtil. Tenho a minha família ainda na Covilhã e visito a cidade com regularidade. Vejo bem a diferença entre o final dos anos 90 e hoje, mas ainda há muito por onde crescer.

 

U@O: Como tem sido o seu percurso profissional desde que saiu da UBI até hoje?

PA: Fui um privilegiado. Na semana antes de terminar o curso de Comunicação Social entrei para os quadros da rádio TSF. A licenciatura permitiu-me fazer um estágio curricular na TSF durante três meses e, juntando os conhecimentos adquiridos durante o curso com as experiência amadora na RCC, isso acabou por ser fundamental no meu percurso profissional. Convidaram-me para ficar na TSF e fiquei. Depois de cinco anos na TSF, fui convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias em 2001. Estou na SIC desde então como jornalista coordenador. Acabei – sem querer – por enveredar por uma área mais económico-financeira do jornalismo, com a rubrica “Contas-poupança” no Jornal da Noite na SIC sobre finanças pessoais. Tem tido um sucesso considerável e está no ar há cerca de 12 anos. A minha maior satisfação é sentir que a informação que partilho é útil na vida das pessoas. Para mim, é o que dá sentido ao jornalismo.

 

U@O: Que conselhos daria a um aluno de Ciências da Comunicação da UBI para vingar nesta área?

PA: Daria três conselhos simples:

Aprende o máximo que puderes e sobretudo aguça o teu espírito crítico sobre a sociedade e a vida. Lê muito, ouve muito e analisa muito. A Universidade mais do que partilhar conhecimento deve servir para te ensinar a pensar e a não ter medo de descobrir caminhos novos no conteúdo e na forma. Os caminhos velhos já foram percorridos por alguém antes de ti. Repete o que está bem e funciona, mas nunca pares de tentar descobrir caminhos novos, até na forma de comunicar.

Ganha experiência fora da sala de aulas. Envolve-te em projetos em que possas meter as mãos na massa. Comete todos os erros que conseguires antes de entrar de facto no mercado de trabalho. Quando entrares numa empresa pela primeira vez, já deves ter cometido todos os erros básicos antes. Não tenhas medo de errar e perguntar. O que fez a diferença na minha vida profissional foi a minha experiência na RCC, onde ia testando o que aprendia na UBI. Quando cheguei à TSF já sabia o que fazer e como fazer. Aproveita todas as oportunidade que a UBI te dá, em projetos ligados à Comunicação Social. Ter trabalhado de “graça” (sei que é uma afirmação polémica) na RCC durante o tempo do curso foi o melhor investimento que alguma vez fiz.

Sê tu próprio. Cria a tua própria linguagem. Não queiras imitar ninguém. Cria um estilo com que te sintas confortável. Pode funcionar ou não, mas vão lembrar-se de ti. Se fores igual à multidão, serás rapidamente substituído pelo Chat GPT ou por alguém que faz o que todos fazem e nunca serás um valor acrescentado. Não tenhas pressa em encontrar esse caminho. Ele vai chegar naturalmente, mas tens de o procurar. No dia certo, saberás que te encontraste.

 

Nome: Pedro Andersson

Naturalidade: Lisboa

Curso: Comunicação Social

Ano de entrada na UBI: 1993

Filme preferido: Todos os de Alfred Hitchcock

Livro preferido: Todos os que me ensinarem alguma coisa

Hobbies: Escrever (e a minha horta)

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