“Não trocaria a Covilhã por nenhuma outra cidade”

Gustavo Norte entrou na UBI pela porta de Medicina e hoje não tem dúvidas em afirmar que não poderia ter tido melhor sorte. A área da simulação e o voluntariado são duas das suas principais paixões, sendo atualmente médico anestesista, função que conjuga com a direção da Sociedade Portuguesa de Simulação, com o cargo de Coordenador Nacional para a Saúde em Emergência da Cruz Vermelha, entre outras atividades na área da Saúde e da formação em Saúde.

Urbi et Orbi: Porquê Medicina e porquê na UBI?
Gustavo Norte: Medicina, porque era uma área que eu gostava, sempre gostei das áreas das Ciências do Corpo Humano e foi uma das hipóteses que tive, porque eu entrei com estatuto de atleta de alta competição. Foi na Covilhã, porque na altura foi onde deu, sinceramente. Depois apercebi-me que foi o melhor sítio para onde eu poderia ter ido estudar.

U@O: Porquê?
GN: Para já, é um ambiente estudantil que nós temos e a possibilidade e a vontade de nós todos de estarmos todos próximos, juntos, até porque por norma não há muitos alunos da Covilhã e estamos todos na mesma situação. Estamos todos longe de casa e criamos ali uma família, são amigos que fiz na UBI e que eu tenho para a vida. Acho que noutras cidades isso não se encontra, porque ou os alunos vivem com os pais ou vivem longe uns dos outros. Na Covilhã não, vivemos todos próximo uns dos outros e encontramo-nos sempre que quisermos, basicamente. No início foi um bocadinho complicado nos primeiros meses, como é expectável, mas depois não trocaria a Covilhã por nenhuma outra cidade.

U@O: O que mais recorda dos tempos de estudante da UBI?
GN: Recordo muito o companheirismo que nós temos, especialmente em medicina; recordo a tuna, porque eu também andei na tuna médica; recordo da forma como nos é ensinada a Medicina, que é de uma forma diferente do resto das faculdades, porque temos muitas cadeiras práticas, vamos muito ao hospital, temos a simulação também e acho que é sempre uma mais-valia.

U@O: Mantém alguma ligação à UBI?
GN: Sim. Hoje em dia dou aulas na Faculdade de Ciências da Saúde da UBI, no laboratório de competências, que são aulas com simulação médica. E tenho ido ao congresso do núcleo de estudantes e ministrado alguns workshops e alguns cursos.

U@O: Como tem sido o seu percurso profissional desde que saiu da UBI até hoje?
GN: Saí da UBI em 2013, depois fui para o Hospital de Santo António fazer o ano comum, que é um ano profissionalizante que nós temos, e depois fui para Coimbra para o internato de Anestesiologia, onde estive cinco anos, que é a duração do internato. Depois fui para Vila Real, onde estou neste momento a trabalhar como anestesista. Trabalho também com o INEM, como médico regulador do CODU, médico do Sistema de Helicópteros de Emergência Médica (SHEM), fui médico da VMER dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) entre 2017 e 2021, e dou formação em Emergência Médica no INEM.

U@O: A par do percurso profissional, desenvolve também voluntariado. Como surgiu este gosto?
GN: Quando fui para Coimbra estes tinham lá uma delegação da Cruz Vermelha e eu fiz-me voluntário logo no primeiro ano do internato, estive a fazer emergência pré-hospitalar nas ambulâncias como socorrista e um pouco mais á frente envolvi-me um pouco mais na Cruz Vermelha e atualmente, e desde 2020, sou Coordenador Nacional para a Saúde em Emergência da Cruz Vermelha. Estive em Moçambique na zona da Beira, na sequência do ciclone que atingiu o país, onde criámos um hospital de campanha e fomos em missão para lá. Sou, ainda, presidente da direção da Sociedade Portuguesa de Simulação, porque eu gosto muito da área de simulação. Este gosto começou na UBI, porque eu quando era estudante fiz parte de uma equipa que criou um programa de peer teaching, ou seja, os alunos mais velhos ensinam algumas competências com simulação aos alunos mais novos. Criámos esse programa e a partir daí nunca larguei a simulação, quando fui para Coimbra também estive num centro de simulação, onde fiz muita atividade. Estou também ligado à Sociedade Europeia de Simulação Médica e também durante o internato fiz parte da direção da Sociedade Portuguesa de Simulação (SPSim) e este ano fui eleito presidente, para os próximos dois anos.
Por outro lado, fiz uma missão de dois meses no Iémen, como anestesista, e os Médicos Sem Fronteiras criaram uma unidade, que é global, de simulação, que é para implantar a simulação em hospitais espalhados pelo mundo. E sou, desde setembro de 2022, membro dessa equipa (MSF Field Simulation).

U@O: Para quem não saiba, a que se dedica a Sociedade Portuguesa de Simulação?
GN: Esta sociedade faz cursos de instrutores de simulação. Ou seja, quem quiser utilizar a simulação como ferramenta para ensino ou para testar sistemas num hospital ou numa instituição, nós damos formação a essas pessoas para fazerem essas atividades. Temos também o nosso congresso anual e este ano vai ser engraçado porque em junho o Congresso Europeu de Simulação, da Sociedade Europeia de Simulação Médica, vai acontecer em Lisboa, e nós fazemos parte também da organização.

U@O: Que conselhos poderia deixar a um atual aluno da UBI para vingar nesta área?
GN: Acho que os alunos devem aproveitar a experiência na Faculdade de Ciências da Saúde da UBI, que é única; aproveitar a parte prática e serem dedicados a essa parte, porque é das coisas especiais que nós temos. Devem aproveitar também a simulação, porque é uma forma de ensino excelente, melhor até que as palestras e as aulas que nós costumamos ter. No caso específico da UBI, devem aproveitar também a comunidade, que é muito unida, e envolverem-se com os seus colegas e manterem o contacto ao longo da vida, que acho que é muito importante.

 

Nome: Gustavo Norte
Naturalidade: Ericeira
Curso: Medicina
Ano de entrada na UBI: 2007
Filme preferido: “Gato preto, gato branco”
Livro preferido: “Dancing in the Glory of Monsters: The Collapse of the Congo and the Great War of Africa”, de Jason Stearns
Hobbies: Voluntariado

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